publicado dia 28/03/2019
Evento apresenta plataforma “Currículo na Educação Integral” para secretarias de ensino
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 28/03/2019
Reportagem: Ingrid Matuoka
Como garantir que a educação integral chegue efetivamente às escolas? Como formar professores e desconstruir práticas arraigadas junto a eles? Como mobilizar a sociedade para participar dessa transformação?
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Estes foram alguns dos questionamentos levantados por gestores e equipes técnicas de secretarias municipais de Educação de diversos cantos do Brasil, e que o workshop Currículo na Educação Integral, realizado nesta quarta-feira 27, se propôs a debater.
A discussão contou com o apoio de especialistas e educadores presentes no evento, pautados pelo acúmulo teórico e prático que a plataforma Currículo na Educação Integral traz. Elaborada pelo Centro de Referências em Educação Integral em parceria com o British Council, a ferramenta oferece subsídios para as redes de ensino promoverem uma revisão curricular a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
“Não se trata de um jeito único de fazer, como uma receita de bolo, mas de etapas fundamentais, com base em experiências concretas”, explicou Natacha Costa, representante do Centro de Referências.
Para a gestora, um dos principais ganhos deste conteúdo está em romper com o modelo no qual a Secretaria decide e depois implementa nas escolas sem diálogo. “Esse processo tem que ser feito por meio da construção colaborativa e participativa”, defendeu.
Além do desenvolvimento integral ser um direito fundamental de todas as crianças e jovens, a educação integral também atende à transformação da sociedade e do mundo, que traz o uso massivo de tecnologias de ponta, algoritmos e inteligência artificial.
“É preciso preparar as crianças e adolescentes para as habilidades necessárias para trabalhar no mundo moderno e não existe a opção de desvincular as condições e o mundo onde as crianças vivem, porque não existe educação em um vácuo”, disse Martin Dowle, diretor nacional do British Council.
Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM, também pontuou que a educação integral é aquela que, primordialmente, traz sentido para o processo de ensino-aprendizagem e que isso só é possível “com uma intencionalidade pedagógica bem definida”.
Outro ponto destacado, este por Tereza Perez, diretora da Comunidade Educativa CEDAC, foi o desafio de promover a integração entre o contexto familiar e o escolar: “É preciso promover diálogos entre ambos e tratar a educação dentro de um coletivo para que um não fique culpabilizando o outro.”
A plataforma Currículo na Educação Integral traz uma proposta de como realizar a revisão curricular e está dividida em 3 partes: fundamentação, desenvolvimento e consolidação, que totalizam 11 etapas. Algumas são direcionadas a gestores, outras para professores ou para ambos, e oferecem conteúdos para reflexão e metodologias para colocar em prática.
“Um currículo construído na perspectiva da Educação Integral precisa dar respostas teóricas e práticas para o por que, o que, onde, quando e como ensinar e avaliar aprendizagens. E elas precisam estar situadas no território e centrada nos sujeitos para os quais deve-se garantir direitos de aprendizagem e desenvolvimento”, definiu Julia Andrade, pesquisadora do Centro de Referências.
E implementar um currículo também significa formar gestores de rede, de escolas, coordenadores pedagógicos e professores. Assim, o material dedica parte de suas etapas a essa tarefa, a partir da homologia de processos.
Nessa formação, não se trata apenas de trazer novos conhecimentos e metodologias e descartar os que já estavam em prática. “O material dedica tempo e atenção para professores e gestores perceberem quais valores orientam as práticas que já realizam, propondo que reflitam sobre elas e as sistematizem, se for o caso”, explicou Helena Freire, responsável pela formação de educadores do Centro de Referências.
O terceiro caderno disponível na plataforma Currículo na Educação Integral apresenta caminhos para a Língua Inglesa, trazendo subsídios curriculares específicos para esta área do conhecimento.
Também fruto da parceria com o British Council, o Centro de Referências lançou o especial Inglês na BNCC, que aborda sob diferentes óticas a construção do currículo para a língua inglesa na perspectiva da Educação Integral.
Acesse o especial Inglês na BNCC.
“Não dá para dizer que existe só uma aula de inglês no Brasil, mas aulas distintas”, disse Maria do Carmo Xavier, consultora do British Council, complementando que é preciso aproveitar a cultura do território brasileiro para ensinar conteúdos da língua inglesa, visando ensinar a língua para o uso e não somente a gramática.
Ela também atentou para os desafios que a disciplina de língua inglesa enfrenta nas escolas: “A aula de inglês não é prioridade, então quando tem evento na escola é esta aula que geralmente cancelam. Isso faz com que o professor sinta desvalorização e isso impacta na forma como ele conduz esse trabalho.”
Cristiana Berthoud, secretária de educação de Tremembé (SP), compartilhou como tem sido a experiência de revisão curricular do município, iniciada em 2018 com apoio da equipe do Na Prática.
“Os parceiros dificilmente escutam a demanda do município e se propõem a construir juntos, e é o que precisamos. Esse é o ganho do projeto [do Centro de Referências] para nós. É dialogado, chega no chão da escola e permite customização. É um novo olhar para o velho sonho de todo educador: formar pessoas”, resumiu.
Além de Cristiana, outros secretários de educação ou seus representantes e equipes técnicas estiveram presentes no evento em busca de insumos para seus vários questionamentos. Mas além de perguntar, eles também fizeram proposições e puderam compartilhar experiências de diferentes redes durante a oficina promovida na parte da tarde.
“A mudança na educação depende de tomarmos consciência. Eu, enquanto professora, preciso entender quem sou eu, quem é meu aluno, que escola é essa e em que sociedade está envolvida”, afirmou Cassia Dias, de Tremembé.
Maria de Lourdes Viterbo, de Lagoinha (SP), complementou propondo mais integração entre famílias e escolas. “Não adianta mais falar que o pai educa e a escola ensina, os dois fazem ambos”, disse.
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