publicado dia 03/02/2023
O que considerar no planejamento pedagógico para 2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 03/02/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
O ano letivo de 2023 é o primeiro que se inicia com todas as escolas e redes funcionando presencialmente desde a fase mais aguda da pandemia. Ainda assim, há uma série de desafios e pontos de atenção a serem considerados no planejamento pedagógico, sobretudo porque os índices de fome, desemprego e exclusão escolar seguem altos.
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A busca ativa, a atuação intersetorial para garantir direitos, e o acolhimento a estudantes, famílias e educadores, portanto, seguem como prioridades neste início de ano, bem como o incentivo à participação de todos e todas nos processos de tomada de decisão da escola.
“Em nossa sociedade há, ainda, um incremento da cultura de ódio, da ausência de diálogo, das fake news. As escolas têm a responsabilidade de proporcionar aos estudantes uma experiência democrática, a fim de formar cidadãos críticos, e transformar informação em conhecimento. Por exemplo, a questão dos Yanomami precisa adentrar a escola para discutir o que é genocídio e por que isso está acontecendo”, explica Maria Thereza Marcílio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social.
A especialista também convoca as unidades de educação a repensarem tempos, espaços e metodologias a fim de criar uma escola que produza conhecimentos cotidianamente e faça sentido para todos os envolvidos.
“Se a escola quiser ter relevância e significado, ela tem que ser um local de produção de conhecimento. Tem que questionar a realidade, promover aprendizagens que façam sentido, se engajar no território, chamar todo mundo para o diálogo. Do contrário, vai continuar a reproduzir o que não tem mais impacto no mundo e na sociedade”, afirma Maria Thereza.
O processo de abrir-se para o entorno e promover a gestão democrática não é fácil. Envolve muito diálogo, mediação de conflitos e pactuações, mas é o que possibilita renovar a relevância social da escola.
“É trazer famílias, vizinhos e instituições que atuam no território para dialogar permanentemente e um potencializar o trabalho do outro. É garantir que os sujeitos dos processos educativos sejam efetivamente ouvidos e tenham participação ativa. Assim, a gestão da escola não precisa lidar com todos os problemas sozinha, e pode construir coletivamente as saídas para seus desafios”, propõe a presidente da Avante.
A avaliação diagnóstica no início do ano letivo, que deve ser realizada em diferentes momentos, de forma processual, e em linguagens variadas, também vai apontar um norte para a escola, a partir da identificação de quais são as principais demandas das turmas, nas várias dimensões que compõem um sujeito.
Diante dos resultados, Maria Thereza pede calma. “Não precisamos e nem podemos acelerar nenhuma aprendizagem. É preciso paciência pedagógica para partir de onde os estudantes estão para dar seguimento ao processo escolar, lembrando que eles são seres humanos cheios de sentimentos e conflitos”, diz.
Na Educação Infantil, os principais desafios devem girar em torno da socialização, enquanto no Ensino Fundamental é a alfabetização e a adaptação à rotina escolar que pedem atenção. “Vale lembrar de olhar também para as potencialidades: o que as crianças aprenderam sobre língua escrita e números durante a pandemia?”, indaga Maria Thereza.
Já no Ensino Médio, é preciso realizar a busca ativa dos estudantes e garantir condições para que eles possam permanecer e aprender na escola. Ao mesmo tempo, há o desafio das adequações ao Novo Ensino Médio.
“É preciso promover a formação continuada para os professores da etapa entenderem a reestruturação do Ensino Médio, como a semestralidade e os itinerários formativos. Também é necessário garantir a estrutura física das escolas para realizar esse trabalho”, indica o professor Francisco Thiago Silva, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
Durante a pandemia, o curriculista Francisco Thiago desenvolveu uma categoria teórico-prática chamada currículo de transição. Não se trata de um modelo ou receita, mas de um norte para que cada escola, a partir de sua própria realidade e das demandas da turma, dê conta dos desafios pedagógicos atuais.
Diferentemente de um currículo mínimo, sua proposta é priorizar os direitos de aprendizagem e os conhecimentos necessários para os estudantes avançarem em sua trajetória escolar e se prepararem para a vida em sociedade.
Pautado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as Diretrizes Nacionais Curriculares, os Parâmetros Curriculares Nacionais e os documentos de cada estado e município, o currículo deve ser construído pelos educadores de cada escola, para que ele faça sentido para os sujeitos envolvidos e esteja relacionado ao território.