publicado dia 30/07/2019
Especial reúne experiências que inspiram uma educação integral nas infâncias
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 30/07/2019
Reportagem: Ingrid Matuoka
As práticas pedagógicas inovadoras inspiram educadores a construírem uma escola com mais sentido para si e seus estudantes, mas por vezes podem parecer difíceis de implementar. Por isso, o especial Educação Integral nas Infâncias na Prática reúne experiências que mostram caminhos possíveis para a transformação da escola brasileira, promovendo uma educação que valorize a diversidade territorial e cultural das crianças de 0 a 12 anos.
A partir de um edital público, foram selecionadas e mapeadas 50 práticas. “Um mapa serve para mostrar onde estamos e para onde podemos ir. Então ele traz trabalhos concretos, bem feitos, e que não necessariamente devem ser imitados, mas que mostrem bons jeitos de caminhar”, explica Maria Thereza Marcílio, diretora da Avante – Educação e Mobilização.
A sistematização destas práticas também faz frente ao discurso corrente de que a educação no país não funciona. “O Brasil não é terra arrasada em educação, e o mapa mostra quantas soluções já foram criadas pelas redes para enfrentarem seus desafios, com experiências sólidas e possíveis que precisam ser sustentadas”, esclarece Raquel Franzim, coordenadora de Educação do Instituto Alana.
Conheça as 50 experiências que traduzem os princípios de uma Educação Integral nas Infâncias.
O especial é uma iniciativa Centro de Referências em Educação Integral, Instituto C&A e Alana
São escolas urbanas e rurais, públicas e privadas, que ensinam ao convidar os avós dos alunos para ler histórias e brincar, ou os anciãos de comunidades indígenas para compartilharem seus saberes. São professores que permitem que as crianças explorem o território da cidade, da praia e da floresta, e que tenham parte na decisão sobre o que e como querem aprender.
“Este especial mostra o direito das crianças a uma educação que compreenda as infâncias na sua singularidade e diversidade, e retrata as escolas que têm formado integralmente os sujeitos”, diz Levindo Diniz, professor na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para Raquel Franzim, as experiências são interessantes sobretudo por reconhecerem e estimularem a autonomia e o protagonismo dos estudantes. “Elas se constituem a partir do entendimento de que os estudantes são ativos, construtores do seus próprios processos de ensino e aprendizagem, e capazes de propor soluções para desafios da escola e do território”, explica.
Levindo também destaca que as práticas pedagógicas selecionadas são capazes de unir o cuidar, o brincar e o educar, fugindo do modelo que atua no controle e disciplina rigorosa dos corpos e vontades das crianças: “Elas não enxergam as crianças como sujeito-aluno, que é uma invenção social, mas como elas são: crianças.”
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Para além de terem por base os princípios da Educação Integral, as 50 experiências também olham para os maiores desafios que as escolas enfrentam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental.
“A escola já foi comparada a hospícios e presídios. Precisamos de novas metáforas: jardim, parque, ateliê, criação, acolhimento, para que a escola seja um grande centro cultural das infâncias”, defende Levindo.
A diretora da Avante, Maria Thereza, pondera que o acolhimento, a gestão democrática, e a íntima relação com o território, as famílias e a comunidade são os fundamentais para melhorar a educação. “Tem que ter tudo isso, e acreditar que ali se faz algo importante, porque é o que dá sentido e alimenta a vida da escola.”
Outra questão que costuma aparecer nos debates sobre educação de 0 a 12 anos é a transição entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. Enquanto na primeira etapa a integração entre cuidar e educar é mais forte, e se respeita mais o ritmo individual de cada criança, as interações em grupo, as aprendizagens são mais palpáveis, tudo isso costuma se diluir na segunda etapa.
‘É um desafio não perder esse convívio, o cuidado consigo e com o outro, e o brincar – que é uma linguagem, um direito de expressão das crianças, e uma das formas que a escola tem estimular e honrar o convívio entre todas as diferentes crianças”, explica Raquel.
Para além dos entraves que as escolas enfrentam no cotidiano escolar, do ponto de vista de currículo, gestão de pessoas e de práticas pedagógicas, há ainda o cenário político brasileiro que agrava estes desafios.
“Está posto um conjunto de cortes que podem comprometer tudo que foi construído pelas escolas brasileiras. Precisamos reafirmar o projeto de educação que reconhece a criança na sua identidade e pertencimento, em disputa com o outro, de militarização, que nega a dimensão do sujeito e acha que disciplina é caso de polícia e não de educação”, alerta Levindo Diniz.
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