publicado dia 15/10/2018

Por que sou professor? Conheça 4 histórias de quem escolheu a carreira

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O que uma professora em início de carreira e uma aposentada têm para dizer sobre suas escolhas? E o que motiva um professor a trocar a escola particular pela pública, e outro a lecionar na escola em que estudou quando criança?

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Neste Dia do Professor, conheça a história de 4 professores, de diferentes lugares do Brasil, sobre suas experiências com a educação que, embora distintas entre si, compartilham uma vontade em comum: transformar a realidade de seus alunos.

Professora Ametista Santos: porque escolhi ser professora

Ametista de Souza Santos tem 36 anos e a paixão por literatura a acompanha desde menina. Inspirada na poesia de Augusto dos Anjos e Adélia Prado, pela prosa de Machado de Assis, e conterrânea dos poetas Astrid Cabral e Celdo Braga, a amazonense mergulhou nos estudos literários durante seu curso de Letras, na Universidade Federal do Amazonas, e viu emergir em si um novo desejo: o de lecionar.

A primeira vez em que entrou em uma sala de aula como professora foi em 2017 e desde então ensina Língua Portuguesa para alunos da rede municipal, em uma escola na periferia de Manaus — uma região violenta, onde a poesia se faz necessária:

“Aqui, eu posso mostrar que a educação muda o meio em que vivem, o modo como eles se enxergam, e que eles são capazes. Posso contribuir para que eles tenham mais oportunidades. Sou professora porque acredito que a educação transforma”, diz.

Professora Maria de Oliveira: porque valeu a pena ter sido professora

Maria das Neves recebe reconhecimento por seu trabalho como professora

Maria das Neves recebe reconhecimento por seu trabalho como professora

Crédito: Acervo pessoal

Aos 70 anos Maria das Neves de Oliveira entendeu que era o momento de aposentar-se, mas definitivamente não era o momento de afastar-se das salas de aula. Hoje, aos 76, ela segue trabalhando como voluntária na escola estadual onde lecionou e foi diretora, na região metropolitana de Recife (PE).

Ela conta que desde cedo se “sentia” assim, professora. Ainda pequena, brincava de ensinar as amigas no quintal de casa, e um pouco mais velha, ajudava a professora com as tarefas da turma. Por quase 40 anos, essa foi sua dedicação exclusiva — não a de ensinar conteúdos curriculares, tão somente, mas a de aprender e ensinar por meio das relações humanas.

“Educar é trabalhar as pessoas, mais do que os conteúdos. É aprender com os alunos, principalmente os peraltas, inquietos, que não querem nada com nada. Mas aí você enxerga o meio em que eles vivem, a família de onde eles vêm, e tudo começa a fazer sentido: eles se sentem muito sozinhos na vida. Por isso tem que conversar, incentivar, estar ao lado. É difícil, mas não é impossível. Eu sei que não é, porque sempre encontro alunos que me contam que hoje estão bem e que a escola foi importante na vida deles. Ver essa transformação é a minha maior realização. Então quando dizem que a educação transforma, é verdade. Eu sei que é.”

Professor Karai Tataendy: porque sou professor na escola em que estudei

Quando criança, Karai Tataendy, também conhecido como Tiago Honório dos Santos, frequentou a escola de sua aldeia, na Terra Indígena Tenondé Porã, ao extremo sul da capital de São Paulo.

Sentado em uma carteira por extensas horas diárias, ouvindo em outro idioma sobre fórmulas e história distantes de sua realidade, Karai se perguntava por que deveria estar ali, sentindo-se preso, quando havia tanto para aprender nas florestas, com os mais velhos, e com os povos de outras aldeias. Mais do que tudo, não entendia por que a escola ignorava os inúmeros conhecimentos de seus ancestrais.

Foi aos 19, ao formar-se no Ensino Médio, que decidiu colaborar para a transformação dessa escola, um equipamento importante para sua comunidade, mas que quando ignora o território e a cultura local, vê seu potencial minguar. Hoje, aos 26, Karai leciona sua língua materna e cultura étnica na escola, e está em constante trabalho para torná-la mais significativa.

“O que era passado para nós é que a gente precisava aprender tudo aquilo com um não-indígena para ‘ser alguém na vida’, para passar em vestibular e ter um emprego na cidade. Então a gente aprendia a desvalorizar a nossa própria cultura. Mas não pode ser assim. Temos que aproveitar esse equipamento e usá-lo para se opor ao Estado, e garantir nossos direitos, com autonomia e sabedoria. Então hoje a maioria dos professores aqui é indígena, e as crianças não ficam presas na sala de aula. Fazem pesquisa em campo, com os mais velhos, nas outras 8 aldeias do território, no rio, e brincam com outras crianças. Aprendem sobre as nossas tradições. E todo material didático que chega, a gente dá um jeito de adaptar.”

Na escola de Karai, alunos aprendem brincando e em contato com outras crianças das aldeias

Crédito: Acervo pessoal

Professor Wagney Alves: porque troquei a escola privada pela pública

Wagney Alves foi professor em escolas privadas da região metropolitana de Recife por 6 anos. Há 10, no entanto, migrou para a rede pública, e tem um único arrependimento: não tê-lo feito antes.

O educador conta que, uma década atrás, sentia-se sobrecarregado e desvalorizado — em suas palavras, “descartável”. Mais do que isso, percebia a redução do papel da escola ao preparo para os vestibulares e obtenção de notas cada vez mais altas. Em busca de um trabalho com mais sentido, decidiu mudar de caminho.

“A escola pública é para todos e nela eu encontrei a oportunidade de alçar voos, de construir junto aos alunos a partir da sua vida, dos seus desejos, eu podia provocá-los: vocês podem ser o que vocês quiserem, então o que vocês querem ser? O mundo é maior do que uma prova do vestibular. Quem vocês são? De onde vocês vieram importa, mas para onde vocês vão? Se eu pudesse voltar 10 anos, eu ingressaria na escola pública. Aliás, faria mais cedo.”

As comunidades de aprendizagem e o novo papel do professor

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