publicado dia 29/11/2022
Miguel Arroyo: “Quando esquecemos que trabalhamos com humanos, esquecemos da nossa humanidade”
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 29/11/2022
Reportagem: Ingrid Matuoka
“Quando esquecemos que trabalhamos com seres humanos, também esquecemos da nossa própria condição de docentes humanos. Precisamos reinventar a humana docência ou não reinventaremos a formação humana integral”, disse Miguel Arroyo, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), durante o 1º Seminário Nacional de Educação Integral.
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O educador participou remotamente do evento, que ocorreu nos dias 25 e 26 de novembro em Diadema (SP), e falou sobre os pontos que precisam ser garantidos para estruturar uma educação integral de fato.
O 1º Seminário Nacional de Educação Integral é organizado pela Prefeitura de Diadema (SP), pela Secretaria Municipal de Educação de Diadema, pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pelo Observatório Nacional de Educação Integral, Cidade Escola Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral.
Para ele, o ponto de partida está em compreender o contexto histórico, social e político em que a educação integral se dá. “Nunca entenderemos a educação integral se não entendermos os processos brutais de desumanização integral com que tantas crianças, adolescentes, jovens e adultos são ensinados”, disse.
Tampouco adianta ampliar o tempo de escola, explicou Miguel Arroyo, se for para fazer mais do mesmo, apenas estendendo o tempo de exposição dos estudantes a uma educação bancária. “Isso é reduzir o processo de formação do ser humano a processos regulares de escolarização”.
Nessa empreitada, também é fundamental, em cada tempo humano, olhar para suas diversidades. Isso porque não existe uma única infância, adolescência, juventude ou vida adulta, dada a variedade humana e de contextos e culturas no território brasileiro, bem como os diferentes períodos de desenvolvimento e desafios que cada etapa apresenta.
“Como dar conta da especificidade de cada tempo humano? A formação social, cultural, ética, identitária é muito diferente em cada tempo e a nossa tradição pedagógica, que se orienta pelos tempos escolares, não respeita os tempos humanos”, pontuou o especialista.
Durante o debate, o educador também se dedicou a definir as dimensões que compõem uma educação integral, termo que ganhou vários significados em nossa sociedade:
Formar sujeitos sociais. “Para garantir o letramento, matamos a socialização, silenciamos as crianças, mas a nossa formação humana integral se dá na relação social com o outro”.
Formar sujeitos políticos. “Somos membros da pólis e é preciso formar cidadãos aptos a viver e agir em sociedade”.
Formar sujeitos culturais. “Os currículos têm que ser pensados como sínteses da cultura, que os governos temem mais do que a própria Educação por sua potência”.
Formar sujeitos éticos. “É uma das formações mais fundamentais. Não se trata de olhar o outro como alguém sem valores ou como um trabalho de moralização. Temos que pensar como formar infâncias e adolescências reconhecendo sua moral, sua ética e fortalecer sua condição humana”.
Formar sujeitos identitários. “Mais de 80% das crianças, adolescentes, jovens e adultos das escolas são negros. Para resistir ao racismo estrutural, temos que formar os estudantes em suas identidades de raça, gênero e classe”.
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