publicado dia 04/02/2019
Conheça outras abordagens além das Ciências para discutir sustentabilidade com os alunos
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 04/02/2019
Reportagem: Ingrid Matuoka
Discutir sustentabilidade ambiental com crianças e adolescentes é indispensável para nossa sobrevivência. Mais do que isso, é preciso encarar a sustentabilidade de maneira interdisciplinar, muito além de um conteúdo somente de Ciências.
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Paulo Henrique Martinez, professor na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), explica que os nossos problemas ambientais atuais não são isolados. “Eles estão interligados entre si e esse é o foco no debate sobre sustentabilidade nos dias de hoje”, diz.
O que é sustentabilidade? Segundo a definição da ONU, a sustentabilidade cria ou mantém condições para atender “as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Vale destacar que isso serve para todas as formas de vida, não só a dos seres humanos.
O docente, que pesquisa história do meio ambiente, também destaca que debater o tema na escola faz parte das orientações pedagógicas dos últimos anos, estando presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB). “É uma recomendação internacional, inclusive, presente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), porque todo cidadão brasileiro tem o direito constitucional a uma vida digna, de bem estar e sem riscos”, diz.
Diante deste contexto, o Centro de Referências em Educação Integral destaca três abordagens para o tema da sustentabilidade ambiental que vão além das aulas de Ciências.
Na zona leste de São Paulo (SP), a EMEF Sebastião Francisco, o Negro encarava um sério desafio: nas calçadas da escola eram depositadas grandes quantidades de lixo e entulho, que causavam mau cheiro e ameaçavam a saúde pública.
Partindo desse problema local, a escola e os alunos criaram o projeto “Vamos jogar limpo? O entorno escolar e o caminho para aprender juntos”, que envolveu também o poder público em prol de uma escola mais sustentável.
Após pesquisarem e debaterem temas como sustentabilidade e direito à cidade, convidaram o prefeito regional para uma caminhada pelo entorno da escola, ocasião na qual explicaram os problemas identificados e apontaram possíveis soluções. Alunos e professores também foram de casa em casa conversar com os moradores sobre a importância de descartar adequadamente o lixo.
As ações parecem ter rendido resultados e boa parte dos problemas foram solucionados ou estão em processo de serem resolvidos. “Os alunos aprenderam a partir de um problema real do território e na prática sobre democracia, o exercício da cidadania e a sustentabilidade”, diz Janaína da Silva Coelho, professora e uma das responsáveis pelo projeto.
Na E.E. Vila do Lago, em Tarumã (SP), o professor de história Carlos Alberto Menarin desenvolve, com seus alunos de Ensino Médio, pesquisas de iniciação científica na área de História e Sustentabilidade.
Os temas, alinhados aos eixos propostos pelos ODS da ONU, são o estudo das relações entre o predomínio da agroindústria sucroalcooleira e o meio ambiente da região de Tarumã, a situação da gestão dos recursos hídricos do município, e as transformações do espaço urbano e o patrimônio local na constituição de uma paisagem cultural.
O professor explica que as pesquisas e desenvolvimento dos artigos dos alunos têm o objetivo de compreender historicamente o surgimento dessa preocupação com o meio ambiente e os desdobramentos disso, envolvendo alterações na economia, para que seja viável alcançar a equidade social, a conservação da biodiversidade e valorização da diversidade cultural e das sociedades.
“A sustentabilidade pressupõe uma relação com o futuro, porque envolve tanto explicar como chegamos a esse ponto atual, quanto pensar em como desenvolver uma sociedade e um meio ambiente futuros que sejam sustentáveis”, afirma o docente.
As crianças aprendem o tempo todo, estejam em sala de aula ou não. Por isso, o momento da merenda pode fazer parte de aprendizagens, que vão desde a autonomia para se servir até a própria sustentabilidade do meio ambiente.
As aprendizagens estão presentes em diversos aspectos, por exemplo, se a escola opta por não utilizar pratos e copos descartáveis, e na conversa com os alunos sobre de onde vêm os alimentos que estão consumindo, por quem foram produzidos e de que maneira.
“A alimentação é muito mais do que só a dimensão biológica nutricional, ela vem acompanhada de questões culturais, religiosas, econômicas e ambientais”, diz Flavia Schwartzman, consultora da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Ela também aponta que não basta que as escolas ensinem sobre alimentação saudável e a importância da reciclagem, porque os alunos precisam ver toda a comunidade escolar praticando o que ensinam.
No Brasil, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) também desempenha um papel de destaque nesse sentido, pois estabelece o fornecimento de uma alimentação saudável, nutricionalmente adequada para cada idade, que o cardápio respeite as tradições e os hábitos culinários regionais, e que pelo menos 30% dos recursos sejam gastos na aquisição de produtos da agricultura familiar, o que favorece a sustentabilidade de recursos e da produção.
“A alimentação escolar desempenha um papel muito mais central do que só entregar a comida aos estudantes. Ela faz parte do direito humano a uma alimentação adequada, e deve estar alinhada aos princípios da sustentabilidade”, diz Flavia.