publicado dia 07/01/2025
Como elaborar um plano de aula alinhado à Educação Integral
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 07/01/2025
Reportagem: Ingrid Matuoka
🗒 Resumo: Um plano de aula criado a partir da concepção de Educação Integral parte da definição da intencionalidade, organização dos conteúdos, escolha de metodologias e planejamento dos registros ao longo do processo. A seguir, especialistas detalham essas etapas e defendem que é preciso condições de trabalho para planejar e realizar as atividades.
Mais do que uma lista de conteúdos que serão abordados de uma determinada forma, um plano de aula na Educação Integral nunca é uma atividade isolada, mas faz parte de uma sequência didática, requer conhecer profundamente cada um dos estudantes e o território, planejar formas variadas de desenvolver todas as dimensões dos sujeitos – intelectual, física, afetiva, social e cultural – e permitir que a turma expresse de formas diferentes suas aprendizagens e desafios.
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“Tem um caminho conceitual a ser percorrido nesse planejamento que vai orientar todo o trabalho e atender ao Projeto Político-Pedagógico daquela escola, garantindo que seja adequado a cada turma, cultura e identidade do local”, explica Ana Paula de Pietri, professora e formadora no Centro de Referências em Educação Integral.
Para realizar todo esse planejamento, algumas condições de trabalho para os professores são indispensáveis, a começar por ter garantido um horário de trabalho remunerado e coletivo para criar o plano de aula.
“A coordenação pedagógica também pode trazer estudos e reflexões sobre o tema e estimular a produção coletiva”, indica Patricia Diaz, diretora executiva na Roda Educativa.
Após o planejamento, conforme as atividades são implementadas, o apoio deve permanecer. “Os coordenadores pedagógicos podem ajudar os professores a analisarem suas estratégias didáticas a partir da observação de aulas e produções dos estudantes, em uma corresponsabilização pelo processo todo”.
Essa parceria é fundamental para que os professores não sejam sobrecarregados ou responsabilizados por transformar sozinhos as formas de ensinar e aprender.
“Não é fácil sair das amarras que tradicionalmente se construiu para a escola. Precisamos pensar juntos como usar os tempos, espaços e agrupamentos de outras formas, e como tornar a relação entre todos os professores e as turmas mais flexível, para que todos participem e proponham soluções para o desenvolvimento integral continuar dando cada vez mais certo”, diz Patricia.
“Uma boa pergunta essencial é aquela em que uma simples resposta não é suficiente”, explica Ana Paula de Pietri.
Para iniciar o plano de aula, o primeiro passo é descrever o que se deseja que os estudantes aprendam. “Depois, é relacionar isso às competências e habilidades previstas para a etapa”, explica Ana Paula.
Em seguida, elaborar perguntas que instiguem os estudantes a aprender sobre o conteúdo é uma forma de colocá-los em posição ativa na construção de seus conhecimentos.
“Uma boa pergunta essencial é aquela em que uma simples resposta não é suficiente. Ela tem que mobilizar outras perguntas, inclusive interdisciplinares”, orienta a educadora.
Com as perguntas elaboradas, o professor planeja os conteúdos que os estudantes vão precisar acessar para conseguir responder às questões.
“Não são só os conteúdos conceituais, mas os que vão atender às várias dimensões do sujeito para que ele possa agir no mundo de forma crítica e para o bem social de todos. Isso requer pensar em autores que não sejam só brancos e em um currículo que não seja eurocentrado. É escolher os melhores conhecimentos do ponto de vista histórico e social, das lutas que queremos travar para ter uma sociedade melhor”, indica Patricia.
Nesse mesmo sentido, Ana Paula aponta para a necessidade de integrar o território à escola: “Como trazer nestes conteúdos o contexto do território, sua cultura, identidade, modo de ser e viver? E como incluir também o que os estudantes trazem consigo e já sabem?”.
O passo seguinte diz respeito a definir como trabalhar os conteúdos desejados. As metodologias que permitem ao estudante ter uma postura ativa, criativa e de investigação são mais favoráveis para seu desenvolvimento integral.
“Boas interações se dão quando as habilidades de troca são favoráveis a que todos aprendam”, diz Patricia Diaz.
Disso depende conhecer profundamente a turma, suas características, necessidades e diversidades. Aqui, um bom processo de diagnóstico pode ajudar a entender o perfil de cada estudante, ou grupos de estudantes, para adequar as metodologias que serão mobilizadas a fim de garantir equidade. “É um planejamento com análise atenta para quem são os estudantes que faz com que todos possam aprender”, diz Ana Paula.
As metodologias também precisam levar em conta as outras dimensões do sujeito para além do cognitivo. “A arte é muito mobilizadora porque amplia o repertório de mundo e envolve outras áreas do conhecimento. E momentos de experimentar, viver os aprendizados no corpo, mobiliza outras sensações no estudante para além do que lê nos livros e vê nas aulas”, afirma a educadora.
Outro aspecto indispensável é organizar agrupamentos produtivos entre os estudantes. “Boas interações se dão quando as habilidades de troca são favoráveis a que todos aprendam”, diz Patricia.
Para aumentar as chances dos estudantes conseguirem demonstrar, de formas variadas, seus avanços e dificuldades durante o processo de aprendizagem, os professores precisam criar diferentes momentos de observação, registro e avaliação.
A avaliação processual também favorece que o professor acompanhe o andamento da turma a tempo de corrigir rotas para garantir o desenvolvimento integral de todos os estudantes e não deixar ninguém para trás.
“Os registros das últimas atividades ajudam a saber em que ponto cada um está para que nos próximos desafios possam ser feitos ajustes a partir do que cada um sabe e precisa para continuar a avançar. Vale lembrar que a turma não vai aprender igualmente e ao mesmo tempo”, aponta Patricia.
Assim, o professor precisa planejar o que deseja observar, em quais momentos, e os instrumentos avaliativos mais adequados para tanto. Podem ser desde produções dos estudantes até simples anotações do que se observa durante a atividade.
“É importante que os instrumentos de registro e observação que o professor vai usar durante esses planos de aula consigam explicitar o que se espera do estudante em cada uma das dimensões, não só a intelectual”, lembra Patricia.
Antes de começar as atividades, é essencial compartilhar com os estudantes o que se espera deles e como será o processo de avaliação. “Isso faz com que eles reconheçam que tudo que eles produzem é importante e a forma como se relacionam uns com os outros também”, diz Ana Paula.