publicado dia 21/11/2018
A escola inovadora de Maria Nilde Mascellani
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 21/11/2018
Reportagem: Ingrid Matuoka
Maria Nilde Mascellani (1931 – 1999) defendeu, do começo ao fim de sua carreira, a integração entre escolas e território e um olhar atento da educação para as potencialidades de cada sujeito, além de ser responsável pelo desenvolvimento de práticas pedagógicas ainda hoje consideradas inovadoras.
O Especial Educadores, do Centro de Referências em Educação Integral, traz 10 especialistas fundamentais para compreender a educação integral e a importância da escola pública no Brasil.
Em 1961, Mascellani foi uma das principais responsáveis pela criação do Serviço de Ensino Vocacional (SEV), ou Ginásios Vocacionais (GVs), assumindo sua coordenação até 1969, quando o projeto educacional foi extinto pela ditadura militar, que o considerou subversivo.
Embora “vocacional” remeta à ideia de mercado de trabalho e profissão, o sistema não estava ligado a isso, mas sim ao intuito de formar seres humanos livres e criativos e cidadãos críticos, capazes de reconhecer e transformar o território onde vivem.
Para tanto, o currículo era elaborado a partir do contexto social e histórico da escola e dos alunos, trazendo metodologias que privilegiavam aprendizagens significativas, a interdisciplinaridade, a autonomia dos alunos, o estudo por meio de situações-problema, de projetos e do território. As avaliações, por sua vez, não eram focadas em provas e notas.
Em oito anos, foram criadas seis unidades de GVs no estado de São Paulo, que ofereciam educação integral com jornada estendida para o atual Fundamental II. Estes alunos começavam estudando o bairro e a cidade para, ao final do ciclo de quatro anos, estudar a América Latina e o mundo.
Com o recrudescimento da ditadura militar, no entanto, Maria Nilde Mascellani foi perseguida e torturada e os GVs encerrados. Nas décadas seguintes, os resultados das experiências foram absorvidos por outras escolas e Mascellani seguiu defendendo a educação integral por outros caminhos.
Ela fundou, por exemplo, a Equipe RENOV, uma assessoria de projetos, pesquisa e planejamento de ação comunitária e educacional, com base na defesa dos direitos humanos. Em 1974, o RENOV foi invadido por policiais militares e fechado.
Depois, encontrou espaço na Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, onde tornou-se professora de psicologia educacional. Dez dias antes de falecer, em 19 de dezembro de 1999, Maria Nilde Mascellani defendeu sua tese de doutorado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
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