Território educativo: quatro estratégias para investigar o entorno da escola
Publicado dia 21/11/2023
Publicado dia 21/11/2023
🗒️Resumo: Trazer o território dos estudantes para dentro da sala de aula e levar a turma para além dos muros da escola depende de um passo anterior: conhecer o que dos arredores se conecta com a história de vida e os interesses das crianças, adolescentes e suas famílias.
Para ajudar nesta tarefa, Jéssica Moreira, jornalista e escritora que investiga diferentes territórios, compartilha estratégias práticas para quem quer começar a encontrar potenciais educativos ao redor da escola.
Na EMEF Julio de Oliveira, em Perus, bairro da zona norte de São Paulo (SP), o trabalho a partir do livro Vão: trens, marretas e outras histórias (Editora Patuá, 2021) aproximou o currículo escolar do território.
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Ao longo das páginas que contam sobre o cotidiano dentro dos trens de São Paulo, os estudantes resgataram memórias pessoais e de suas famílias nos vagões, estações e no território.
Enquanto pesquisavam sobre a autora, Jéssica Moreira, descobriram que ela nasceu e cresceu no mesmo bairro que eles e que, em outro livro, o Queixadas – por trás dos 7 anos de greve (Fapcom, 2013), investigou mais sobre a história de Perus e seus habitantes.
A repercussão para os estudantes foi grande. Gerou mais engajamento nas aulas, aprendizagens melhores, produções autorais de poesias e incentivou o gosto pela leitura. Saiba mais sobre o projeto nesta reportagem.
Na unidade onde aconteceu o trabalho, faz parte do Projeto Político Pedagógico (PPP) a valorização do território e das identidades dos estudantes, bem como ações de combate ao racismo, ao longo do ano todo.
“Fazemos isso trazendo pessoas do território para cá e saindo da escola para conhecer esse bairro”, explica Lidyane Rafaela Almeida Santos, professora da sala de leitura que conduziu o projeto.
A costura entre território e currículo deve percorrer todas as áreas do conhecimento, trazendo diferentes perspectivas e possibilidades de desenvolvimento integral em cada uma delas. Na Literatura e na Arte como um todo, a potência desse trabalho reside no diálogo.
“Quando a arte e cultura apresentam a potência do nosso lugar, nós passamos a nos conectar de outra forma com esse território. Com mais admiração e generosidade”, diz Jéssica Moreira.
“Faz com que as pessoas reflitam por si próprias, cada uma a seu tempo. Quando lemos uma história, temos a chance de imaginar, estar em outro lugar, e até na realidade de outras pessoas. Confio muito na palavra literária e poética para imaginarmos outros futuros. A partir dessas histórias, podemos não só discutir o racismo, mas imaginar o povo negro em outras condições. E isso nos ajuda a ter empatia e a nos tornarmos críticos em relação ao local onde estamos. Quando a arte e cultura apresentam a potência do nosso lugar, nós passamos a nos conectar de outra forma com esse território. Com mais admiração e generosidade”, observa Jéssica.
Estas são as primeiras considerações para planejar um projeto desta natureza, que demanda consistência e pactuação de toda a comunidade escolar. Mas como começar a descobrir lugares com potencial educativo no território?
Para ilustrar a essência dessa investigação, Jéssica retoma o filme Escritores da Liberdade (2007). Uma professora em uma escola do subúrbio dos Estados Unidos não consegue se conectar com seus estudantes a partir dos clássicos. A estratégia que ela encontra é apresentar a eles rappers que falam com sua realidade, como Tupac Shakur (1971-1996).
A partir disso, os estudantes entendem que o RAP é poesia, é literatura, e a professora finalmente ganha a confiança dos alunos. Cada um deles escreve seu próprio diário e, como fim de ciclo, conhecem a obra de Anne Frank, que é um clássico.
“Percebem como o caminho de começar pelos clássicos afastou as crianças e adolescentes? Mas a estratégia de começar pela realidade deles e do lugar onde moravam os conectou, fazendo-os se sentir vistos? Acredito muito na narrativa desse filme pra vida. Eu comecei a escrever a partir das memórias da minha família. Depois, do meu bairro. Você precisa se ver na História para também escrever a história, a sua e a de seus pares. Hoje, conto histórias em um programa de TV nacional, sobre diversas regiões do país. E sempre que entrevisto alguém, meu referencial é a forma como ouvi e contei as histórias do meu lugar”, compartilha a escritora.
Dedicada pesquisadora do seu e de outros territórios, Jéssica compartilha estratégias práticas para quem quiser começar a investigar o entorno da escola. Confira a seguir.
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