publicado dia 03/05/2023

6 livros para discutir convivência e violência com a comunidade escolar

Reportagem:

Seja para acolher temores e sofrimentos da comunidade escolar ou para manter um diálogo aberto e constante com os estudantes sobre as questões de convivência com o outro e as várias formas de violências, a Literatura pode ser uma aliada para aproximar as pessoas e incentivar conversas e reflexões.  

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Na hora de escolher os conteúdos que serão utilizados com a comunidade escolar, é preciso envolver a todos neste levantamento, recomenda Catarina de Almeida Santos, que é professora na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Comitê Diretivo da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação:

“Os estudantes podem trazer rappers, produções locais, músicas, podcasts, coisas que eles produzem, que são da realidade deles, para dar significado para escola a partir disso. Vamos estudar outros livros, mas como começar daqui e expandir? Como troco livros entre escolas? Como pego dados da realidade para desnaturalizar essa realidade?”, disse Catarina durante a Hora do Intervalo de Abril, que debateu a violência contra as escolas. 

O evento também contou com a participação de Carlos Eduardo Fernandes Junior (Cadú), coordenador pedagógico na EMEF Espaço de Bitita – Infante Dom Henrique, em São Paulo (SP). Ele relatou como a comunidade escolar foi impactada pelos casos recentes de ataques às escolas e como a gestão e professoras(es) se mobilizaram para acolher crianças, adolescentes e familiares. 

Para realizar este trabalho, utilizaram o relatório O ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, do qual Catarina participou da elaboração.

“Segurança é necessariamente diálogo no campo escolar […] e comunidade se faz todo dia, com esforço coletivo de fazer desse lugar outra coisa. Ano passado derrubamos os muros – as escolas precisam ver as famílias e as famílias precisam ver a escola – porque a escola é lugar de encontro”, diz Cadú.

Confira as sugestões dos especialistas de livros sobre convivência e violência:

Este é o Lobo, por Alexandre Rampazo (Pequena Zahar)

A obra recorre ao Lobo Mau de Chapeuzinho Vermelho e dos Três Porquinhos não para abordar o medo, como de costume, mas para falar sobre a solidão.

“É um livro para qualquer idade, que questiona sobre como a gente vive com o outro”, diz Cadú.

A Vez e a Voz das Crianças, por Adriana Friedmann (Panda Books)

A educadora e antropóloga traz reflexões para avançarmos na construção de conhecimentos a respeito das diversas infâncias, de suas linguagens e culturas. É reconhecer as crianças como atores sociais, propiciando-lhes espaços de expressão para que vivam plenamente suas infâncias a partir de suas expressões. 

“A Adriana trama este livro-pesquisa de um jeito que nos faz repensar tudo o que sabemos sobre a criação de escolas”, observa Cadú.

Tudo Sobre o Amor, por bell hooks (Elefante)

Para refletir sobre a lógica da violência, seja entre os professores ou com os estudantes, Cadú recomenda a obra de bell hooks, escritora, teórica feminista e ativista antirracista estadunidense.

No livro Tudo sobre o amor, ela discute o que é, de fato, o amor nas relações familiares, românticas, de amizade e na vivência religiosa. Ela argumenta que esse sentimento é capaz de transformar o niilismo, a ganância e a obsessão. Por fim, propõe que é através da construção de uma ética amorosa que poderemos criar uma sociedade equitativa, justa e comprometida com o bem-estar coletivo.

Quarto de Despejo, por Carolina Maria de Jesus (Ática)

No sentido de conhecer mais profundamente a história do Brasil para poder refletir sobre problemas atuais, Catarina recomenda as obras de Carolina Maria de Jesus, escritora paulistana, como Quarto de Despejo.

Leia + Como trabalhar a vida e a obra de Carolina Maria de Jesus com crianças

O diário, escrito na década de 1950, relata com especial sensibilidade tudo o que a escritora e catadora de papel viu, viveu e sentiu enquanto morou com seus três filhos na comunidade do Canindé, em São Paulo (SP).

Um Feminismo Decolonial, por Françoise Vergès (Ubu)

Já para compreender as questões de gênero atravessadas pelas questões raciais, que tanto permeiam a convivência das turmas na escola, Catarina indica a leitura desta obra.

“Longe de ser um discurso feminista abstrato, esses fatos são visíveis a quem deseja vê-los. A cada dia, em cada cidade, milhares de mulheres negras, racializadas, ‘abrem’ a cidade. Elas limpam os espaços que o patriarcado e o capitalismo neoliberal precisam para funcionar.”, diz um trecho da obra. 

Os Meninos são a Cura do Machismo, por Nana Queiroz (Record)

Para o coordenador pedagógico, esta obra aponta um caminho para começar a discutir as masculinidades com as turmas e apostar no diálogo com os meninos.

“A metáfora que melhor descreve meu ponto de vista é a do hospedeiro consciente e o vírus. Uma pessoa doente não é culpada por contrair um vírus (ao menos, não na maioria dos casos), mas, se não busca tratamento disponível, é responsável pela deterioração da própria saúde e pela infecção daqueles com quem entra em contato. O machismo estrutural é o vírus dessa história. Os homens, o hospedeiro. Nós, a sociedade, somos os profissionais de saúde que têm de tornar o tratamento disponível. Podemos — e devemos — nos valer de medicamentos fortes como protestos, leis e punições. Mas também devemos trabalhar a prevenção, construindo uma educação que impeça que os meninos sejam seduzidos pelo torpor dessa febre.”, diz um trecho do livro. 

EXTRA | Podcast Projeto Querino, por Tiago Rogero

Durante a live Hora do Intervalo, um(a) participante indicou o podcast que conta a formação do país a partir de um olhar afrocentrado, isto é, que adiciona outras camadas à narrativa conhecida e que foi criada majoritariamente por homens europeus e cristãos. Saiba como o projeto pode ajudar os professores a contar as outras histórias do Brasil.

Assista à live Hora do Intervalo sobre violência contra escolas na íntegra:

Na contramão de medidas repressivas, escolas abrem diálogo sobre violência extrema

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