Qual o papel dos professores e como estimular a participação dos estudantes?
Publicado dia 23/09/2013
Publicado dia 23/09/2013
A escola é sem dúvida construída por sua comunidade – e, assim como o gestor ou a equipe diretiva da unidade tem seu papel na organização do projeto escolar, é preciso que toda comunidade esteja envolvida na implementação e construção do projeto.
Assim, professores e estudantes são fundamentais na articulação do projeto da escola e devem participar ativamente da sua construção. Na educação integral, todos são corresponsáveis e trabalham juntos na construção de uma educação de qualidade.
Nessa perspectiva, mais de 50 especialistas* (organizações e indivíduos) em Educação Integral indicam as seguintes recomendações às escolas:
Em uma escola de educação integral, a equipe de professores identifica as expectativas e necessidades de desenvolvimento integral dos seus estudantes e propõe ou articula oportunidades educativas capazes de atendê-las.
Assim, cabe ao professor:
Coerência: atuar em sintonia com o Projeto Político Pedagógico da escola, compreendendo seu papel e cumprindo suas metas.
Integralidade: compreender o estudante de forma integral, buscando identificar suas necessidades de desenvolvimento no nível intelectual, físico, emocional, social, cultural.
Reconhecimento: conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola e estes estudantes estão inseridos.
Empatia: acolher as diferenças, reconhecendo que cada estudante é único, aprende de uma forma diferente e vive em um contexto próprio.
Sonhos: conhecer os interesses, anseios e/ou o projeto de vida dos seus alunos e apoiá-los a alcançar seus objetivos.
Tempo Integral: considerar o estudante durante todo o tempo em que está na escola e não apenas na sua sala de aula.
Cumplicidade: conhecer as famílias de seus alunos, dialogar com elas e criar vínculos para fortalecer o seu desenvolvimento integral.
Trilhas: construir roteiros educativos que integrem disciplinas tradicionais com atividades complementares, saberes acadêmicos e populares.
Colaboração: trabalhar de forma colaborativa com outros professores da escola, criando comunidades de aprendizagem para compartilhar desafios e propor estratégias articuladas que respondam às demandas do desenvolvimento integral.
Relacionamento: estabelecer uma relação mais igualitária e dialógica com seus alunos, reconhecendo seus saberes e legitimando a sua capacidade de contribuição com seu próprio processo de desenvolvimento.
Mediação: ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento, provocando o aluno a aprender a partir de seus próprios questionamentos.
Pesquisa: convidar o estudante a perceber a realidade como objeto de estudo.
Protagonismo: promover o protagonismo do aluno como autor e proponente do seu próprio processo pedagógico.
Participação: colaborar com a equipe gestora no sentido de apontar necessidades de infraestrutura, propor projetos e ações inovadoras e se envolver com atividades do programa que extrapolem a sua sala de aula.
Acompanhamento: avaliar continuamente os processos de ensino-aprendizagem, em conjunto com seus estudantes, estimulando que reconheçam o que precisam fazer para alcançar seus objetivos individuais e coletivos.
Aprendizagem: admitir que pode errar e aprender enquanto ensina, inclusive com seus alunos.
O Professor é um articulador fundamental na escola: ele deve apoiar a relação entre famílias, alunos e gestores.
O professor deve acolher as diferenças e as considerar no processo de ensino-aprendizagem, reconhecendo que cada estudante aprende de uma forma diferente, tem um contexto próprio e precisa ser reconhecido como indivíduo.
Ele deve aprender a conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola e estes estudantes estão inseridos.
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O professor deve trazer a comunidade para a sala de aula, buscando aproximar os conhecimentos comunitários dos conhecimentos acadêmicos.
Ele deve ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento e não apenas aquele que detém a informação. Ele deve atuar como um pesquisador, que provoca o aluno a ser também curioso e descobrir a partir de seus próprios questionamentos. Deve convidar o estudante a ver a realidade como seu objeto de estudo. Ele é um mediador que deve negociar os conhecimentos que todos têm e apoiar os estudantes a juntos sintetizarem o conhecimento compartilhado.
O professor deve olhar para o aluno de forma integral, buscando identificar suas diferentes dimensões formativas e como sua atuação – nessa função educadora -, responde ou dialoga com elas.
O professor deve compreender quem são as famílias de seus estudantes e estabelecer diálogo com as mesmas, estreitando relações e criando vínculos que fortaleçam o processo educativo dos estudantes.
Ele também deve levar em consideração todo o tempo em que o aluno está na escola, e não só na sua sala de aula. Ele deve atuar de acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola e pensar no currículo de forma diferenciada, integrando o conhecimento acadêmico aos saberes da comunidade e dos próprios estudantes.
Professor também deve ter o papel de aluno: deve aprender ao passo que ensina. Professor e alunos devem compartilhar os princípios éticos e a proposta do PPP da escola que vão nortear essa perspectiva de ensino-aprendizagem como um processo dialógico.
Para entender a formação integral dos alunos, ele deve desenvolver estratégias de trabalho colaborativo com outros professores da escola, criando espécie de comunidade de aprendizagem colaborativa entre professores. Juntos, eles devem compartilhar seus anseios e propor estratégias de trabalho que respondam às demandas que identificaram.
O professor deve elaborar estratégias de trabalho para dar protagonismo para a aula, para que o estudante possa participar ativamente como autor e proponente do seu próprio percurso pedagógico.
Ele tem que pensar o projeto do seu aluno e apoiá-lo a alcançar esses sonhos. Junto aos estudantes, ele deve ser um avaliador contínuo de todo esse processo, estimulando que o estudante reconheça individualmente e com seus pares o que precisa fazer para alcançar seus objetivos individuais e objetivos coletivos – da turma, da escola e da própria sociedade.
Ele precisa de uma equipe pedagógica para ajudar a formar seu currículo em diálogo com o projeto pedagógico da escola. Por isso, é fundamental que o gestor organize em horas de planejamento o apoio necessário ao docente.
Dessa forma, a gestão deve construir espaços para apresentar o papel desse professor na dinâmica da Educação Integral, discutindo com a equipe docente como o projeto ou programa foi elaborado na secretaria e como ele pode ser implementado na escola.
O gestor precisa convidar e trazer para troca de experiências e convivência professores que já participam de programas de Educação Integral. Convidá-los a apoiar a equipe docente da escola é uma estratégia importante para apoiar a equipe.
A escola deve ter um professor que atue como articulador e educador comunitário, estabelecendo as pontes entre oficineiros, parceiros e oportunidades educativas do território com o corpo docente e escola.
O gestor, equipe gestora ou esse professor/ educador comunitário deve reconhecer as lideranças comunitárias e construir junto à escola cardápios de oportunidades educativas no território que apoiem os professores: o plano de aula pode ser complementado ou construído a partir da oferta do território.
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Para garantir o envolvimento desse professor, ele precisa ter tempo na escola. Assim, é fundamental que a gestão pública invista na dedicação exclusiva de professores na escola e que estes tenham garantidas horas de planejamento remuneradas. O plano de carreira do docente deve valorizar seu vínculo com a escola.
A equipe gestora deve estimular que seu corpo docente acesse novas propostas de práticas pedagógicas e que conheça novas formas de ensinar. Da mesma forma, o professor deve ter apoio para entender o que significam as avaliações externas (como o IDEB, Saeb) e como eles, professores, podem aprimorar suas práticas a partir dos indicadores.
O professor precisa receber opinião constante de seus gestores e coordenadores pedagógicos. A valorização de seu papel na escola passa diretamente pelo seu acompanhamento – ele não deve estar sozinho em sua função.
A gestão pública, ao adotar um programa de educação Integral, deve garantir aos docentes a formação continuada em serviço. A formação deve ser sobre Educação Integral e temas correlatos e acontecer como parte da carga horária do profissional.
Por fim, o professor deve ter acesso à direção para discutir a necessidade de espaços e estrutura, para desenvolver atividades que não aconteçam apenas em sala de aula. Ele precisa se sentir autônomo para propor projetos e ações inovadoras que respondam às suas necessidades didáticas e de aprendizagem dos seus estudantes.
Fundamentalmente, a escola deve garantir a presença de grêmios estudantis efetivos. Para tanto, é preciso que o gestor e corpo docente invistam em formação dos estudantes para a composição, regulamento e ação política dos estudantes.
A escola deve investir na criação e efetivação de instâncias políticas de decisão. Uma estratégia é a realização de assembleias que deliberem sobre temas e necessidades concretas da escola: como regras de convívio, currículo, PPP, uso de uniformes, etc.
“Descobri que é muito importante mostrar aos demais que o que eu quero para mim é o que eu quero para o outro.” Raab Carolina Barros, estudante da EE Alexandre Von Humbolt.
A escola deve oferecer espaços e o direito para os estudantes conviverem livremente na escola. É preciso que haja um espaço e tempo dedicado ao ócio e ao convívio.
Os professores devem convidar os estudantes a disporem e pensarem sobre o próprio currículo. Os estudantes devem ser estimulados a responder sobre o que desejam aprender.
A escola precisa investir em espaços para troca intergeracional e não mediados: ou de estudantes com estudantes, ou de estudantes com outros segmentos da escola, ou de estudantes com estudantes de outras escolas.
As ações escolares devem ser estabelecidas – para além do PPP -, na construção de um plano plurianual participativo, em que os estudantes tenham voz e possam expor suas expectativas em relação à escola e a sua aprendizagem.
A escola deve estabelecer em seu Projeto Político Pedagógico a relação entre professores e alunos como uma relação mais igualitária, dialógica, em que o professor não se coloca como aquele que detém todo o conhecimento, mas aquele que orienta percursos de pesquisa e de descoberta do conhecimento.
O professor deve assumir sua responsabilidade, mas reconhecer os saberes dos alunos. Essa relação deve se estabelecer a partir da legitimidade desses papeis, construídos em diálogo entre os envolvidos. A relação deve ser não hierárquica e de respeito.
O professor deve garantir ao estudante seu direito de opinar sobre o currículo e sobre a gestão da escola. Assim, a escola deve estimular que o aluno e o professor compartilhem sonhos e desejos.
É fundamental que todos – família, professores, estudantes e direção -, mudem a concepção de que professores e estudantes são sempre ideais. É preciso “admitir” o mundo real, e compreender o professor e o estudante como sujeitos que vivem nesse mundo com seus conflitos e dificuldades.
Professor que não pode ter preconceito: deve reconhecer e admitir todas as culturas, estimulando que os estudantes também convivam e se relacionem com a diferença.
O professor deve perceber que quando o aluno é autor e ator do processo de ensino-aprendizagem, ele se sente pertencente à escola.
O professor também é um ser humano e pode errar. Para tanto, é preciso transparência nessa relação. Ele deve poder admitir que aprende com seus alunos.