Abertura da escola à comunidade possibilitou repensar o currículo

Publicado dia 08/01/2016

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Créditos: divulgação

A diversidade que constituía o universo da Escola Estadual João Cesar de Oliveira era a mesma que deixava marcas indesejáveis no ambiente escolar. Essa foi a percepção de Eliane Sales Pereira ao assumir a direção da instituição em 2007. “Tínhamos muitos alunos de comunidades quilombolas, afrodescendentes, e alguns episódios de racismo e outros tipos de preconceito e até violência”, coloca a gestora.

Diante do ambiente, Eliane sentiu a necessidade de propor uma ação interdisciplinar, capaz não só de trazer temas candentes do cotidiano para reflexão, como aproximar os atores que compõem a instituição, como os estudantes – em torno de 300 entre fundamental e médio -, docentes e outros profissionais, familiares e comunidade.

O início do trabalho veio com o que chamou de ação global, em 2010. A escola foi aberta por um dia para oferecer atividades diversas ao público, por meio de parcerias locais conseguidas no distrito de Inhaí, com Conselho Tutelar, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucurí (UFVJM), Promotoria da Infância e Juventude, Secretarias Municipais de Educação, Saúde e Meio Ambiente, e a Polícia.

Foram oferecidas oficinas aos estudantes, como futebol, além de atendimentos jurídicos para a comunidade, apoio para emissão de documentos pessoais e serviços como corte de cabelo.

Da experimentação à prática

A repercussão em torno da abertura da instituição foi mais do que suficiente para que a diretora decidisse incluir a prática na rotina diária escolar. Para além dos parceiros já estabelecidos, Eliane entrou em contato com o “Projeto Caminhando Juntos (Procaj)” e dessa união nasceu o “Eu, Você e a Escola, Educação que Transforma” que quer ampliar a abordagem curricular e também a interlocução da instituição com a comunidade e vice-versa.

A iniciativa mantem como fio condutor a escola aberta com a promoção de oficinas uma vez por semana, fazendo com que todos os estudantes tenham duas horas a mais de atividade no dia. O planejamento delas considera a demanda dos alunos e o trabalho semanal realizado pela equipe pedagógica da escola em conjunto com a do Procaj nas reuniões de módulo II.

“Nesses momentos buscamos fazer a mobilização interna para o projeto e também alinhar a educação integral que queremos”, coloca a diretora da instituição. A escola atende em turno regular e tem duas turmas de educação integral nos anos iniciais do ensino fundamental, com 50 alunos.

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Atualmente são ofertadas oficinas de dança, leitura e esportivas; há o cantinho da beleza (onde é possível contar com atendimentos como cortes de cabelo, unhas e orientações sobre higiene pessoal), sala de vídeos educativos e a sala preto no branco (que oferece palestras orientativas aos familiares).

Esses momentos consideram os saberes comunitários: os próprios moradores podem ficar a cargo dessas atividades como voluntários, caso da professora de dança e de música, que moram no entorno da escola em Inhaí.

Eliane também destaca a participação dos professores nas oficinas para que as aprendizagens não se deem descoladas da sala de aula. “Por exemplo, se vamos falar sobre DSTs na aula, já nos articulamos para trazer um profissional que possa nos apoiar com o desdobramento do tema para outras atividades”, exemplifica.

Ainda de acordo com a gestora, hoje se fazem presentes na instituição temas como segurança alimentar, abuso sexual, violência doméstica, uso de drogas entre outros fundamentais para o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes.

O percurso ainda é avaliado a cada dois meses pela equipe da escola e Procaj, forma de entender a viabilidade das ações e também de considerar as novas demandas que a instituição apresenta com o tempo.

Reconhecimento

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Créditos: divulgação

Para Eliane, os benefícios do projeto extrapolam o espaço escolar. “Nos alunos, sentimos a melhora da autoestima e, com isso, ganhos na interação e na aprendizagem. Hoje eles expressam seus desejos e necessidades com a equipe escolar. Também ampliamos nosso diálogo com a universidade, temos 59 alunos que conseguiram ingressar”, conta.

Além disso, a diretora fala sobre o papel da iniciativa no fortalecimento da cultura da comunidade que vive em um território marcado pela atividade garimpeira  e que tem como ofício a roça, o cultivo e o garimpo.

O projeto rendeu à instituição o seu primeiro prêmio, recebido ainda no final de 2015. A Escola Estadual João Cesar de Oliveira foi a vencedora da 11ª edição do Prêmio Itaú Unicef, que tem o intuito de fortalecer as práticas que dialogam com a educação integral.

Com isso, Eliane fala em ampliar a iniciativa. “Queremos melhorar as oficinas, comprar equipamentos e materiais para as atividades, pintar a escola e promover o intercâmbio de nossos alunos com outra unidades de educação do país”, finaliza.

Contato:

Escola Estadual João Cesar de Oliveira
Telefone: (38) 3532-3076
Email: [email protected]

 

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