publicado dia 03/10/2023

Projeto 1619 conta a história dos EUA na perspectiva afrocentrada

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Em agosto de 1619, pisaram no porto de Virgínia, nos Estados Unidos da América, entre 20 e 30 africanos sequestrados para serem escravizados – o começo de uma série de violências com desdobramentos permanentes e extensos em todas as áreas do país até hoje.

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Para contar a história de como a escravização norte americana moldou as instituições políticas, econômicas e sociais do país, a jornalista Nikole Hannah-Jones publicou em agosto de 2019, no New York Times Magazine, o Projeto 1619.

A data, de acordo com Nikole, marca o momento verdadeiro de fundação dos Estados Unidos, e não a independência política da Inglaterra, em 4 de julho de 1776, que costuma ser comemorada pelos cidadãos norte-americanos. 

A criadora da iniciativa esteve presente no Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, que aconteceu nos dias 18 e 19 de setembro, em São Paulo (SP), realizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). 

“Os homens que criaram o nosso novo país eram escravocratas porque foi assim que eles conseguiram poder e dinheiro. Somos fundados por causa da liberdade, porque o rei estava sendo injusto com impostos e não queríamos impostos sem representação. Mas a escravização estava em todas as colônias. O Projeto 1619 subverte essa narrativa e diz que não foi fundado em 1776, foi em 1619, porque foi a escravização que deu poder e dinheiro para eles acharem que eles poderiam ter liberdade. George Washington chegou a dizer que não queria ser tratado pela Inglaterra como eles tratavam os negros escravizados”, disse Nikole durante o evento.

“Toda luta por justiça racial desperta uma reação”, disse Nikole Hannah-Jones

Vencedora do Prêmio Pulitzer de 2020, a jornalista reflete sobre como os problemas do país em relação à Saúde, acesso à universidade, desigualdades, altos índices de encarceramento e pobreza na primeira infância estão todos relacionados à origem escravocrata dos Estados Unidos. E isso precisa ser debatido nas escolas.

“Hoje, muitas escolas estão proibidas de mencionar o Projeto 1619, que traz a versão mais honesta da história dos EUA, escrita por acadêmicos historiadores. É um medo do que essa história diz sobre os EUA, de reconhecer que a história das pessoas que admiram, que fundaram o país, são de escravocratas”, afirmou a jornalista.

Quando publicada, a edição da revista esgotou rapidamente. O sucesso foi tanto que deu origem a um podcast, livros, eventos e outras ações, como um site que oferece materiais voltados para estudantes e professores. “Mas toda luta por justiça racial desperta uma reação”, lembrou Nikole.

O então presidente Donald Trump foi um dos principais opositores ao projeto – e também divulgador. “Ao falar sobre o Projeto 1619, Trump ajudou a espalhar a palavra, o que fez com que muitas pessoas ficassem curiosas para saber mais sobre essa história. O próprio ano de 1619 era desconhecido por muitas pessoas e agora elas sabem que foi o ano em que começou a escravização e não vão esquecer mais”, comentou.

No Brasil, Projeto Querino é inspirado no Projeto 1619

Saiba mais sobre o Projeto Querino nesta entrevista com Tiago Rogero e como aproveitá-lo na escola.

Durante o evento, ao lado de Nikole estava Tiago Rogero, jornalista que criou o Projeto Querino. Inspirado no Projeto 1619, o podcast conta a história do Brasil adicionando outras camadas à narrativa conhecida e que foi criada majoritariamente por homens europeus e cristãos. Ou seja, a história afrocentrada do país.

“A Independência do Brasil é basilar para explicar por que somos esse país. O racismo não está no ar, como diz a Ynaê Lopes. Ele existe porque é uma escolha e beneficia um número considerável de pessoas. Na independência a escolha de manter a escravização é reiterada e ampliada”, explicou Tiago. 

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