publicado dia 21/08/2023
Livro “Como ser um educador antirracista” é convite para repensar a escola
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 21/08/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
🗒️ Resumo: Conheça o livro Como ser um educador antirracista (Editora Planeta, 2023), de Bárbara Carine, que traz um panorama histórico do racismo no Brasil e na Educação, bem como os caminhos para enfrentá-lo. Em linguagem acessível e produzido com base em experiências do chão da escola, a obra não se pretende um passo a passo, mas uma disparadora de reflexões e formações individuais e coletivas.
Ser um(a) educador(a) antirracista é papel de brancos e negros, famílias, professores e todos os demais profissionais que atuam em uma escola, ou fora dela, no atendimento a crianças e adolescentes.
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Isso se faz necessário não apenas para cumprir a lei 10.639, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de cultura e história africana e afro-brasileira em toda a extensão curricular da Educação Básica, mas por um dever cidadão de reparação histórica.
“Você, professor, professora branco/a, não só pode como deve abordar as questões étnico-raciais na sala de aula. Você tem o seu lugar de fala, e é um lugar precioso, considerando que está em uma condição de respeito e admiração diante da estudantada.”, diz um trecho da obra Como ser um educador antirracista (Editora Planeta, 2023).
O livro foi escrito por Bárbara Carine, que é mulher negra, baiana, intelectual, professora no Instituto de Química na Universidade Federal da Bahia (UFBA), escritora de vários livros e artigos e influenciadora digital. Ela também é a idealizadora da Escola Afro-brasileira Maria Felipa, a primeira no Brasil a ser registrada em uma Secretaria de Educação como uma escola afro-brasileira.
Ao longo das páginas, Bárbara entrelaça sua experiência como pesquisadora, educadora e mãe aos fatos históricos e contemporâneos para evidenciar os efeitos da branquitude e do racismo no Brasil e na escola.
Em diálogo com diversas autoras e pesquisadoras sobre o tema, o livro traz reflexões sobre o que é preciso pensar e repensar para criar propostas educacionais que se contraponham à escola eurocentrada e ao currículo colonial de forma efetiva. Por exemplo, um amplo diálogo com a comunidade escolar sobre qual é a filosofia e as escolhas políticas e pedagógicas que a escola vai fazer.
O objetivo final é construir uma escola que não seja apenas inclusiva, mas “implosiva”, como define a autora, no sentido de que é necessário ir além de colocar “o diferente” para dentro e construir a muitas mãos as novas estruturas da escola.
“Bárbara Carine nos apresenta outra perspectiva de diversidade. Ela nos alerta para o fato de que a diversidade deve ser celebrada, principalmente no currículo e nas práticas escolares”, diz Nilma Lino Gomes no prefácio da obra.
“O racismo não é desconstruído sozinho. É preciso que essa desconstrução se dê também em relação a outros fenômenos perversos, tais como o machismo, a LGBTQIAPN+fobia, o capacitismo e o fundamentalismo religioso”, diz Nilma Lino Gomes, professora titular emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no prefácio da obra.
A especialista continua: “Bárbara Carine nos apresenta outra perspectiva de diversidade. Ela nos alerta para o fato de que a diversidade deve ser celebrada, principalmente no currículo e nas práticas escolares. […] Apresenta-nos a possibilidade de construir uma organização curricular que se abre às múltiplas formas de ser e de existir e as celebra. Que não nega os conflitos, mas aprende com eles, valoriza os sujeitos e as sujeitas da educação e indaga as relações de poder construídas na sociedade. Educa e reeduca para a emancipação, e não para o conformismo.”.
O que o livro aborda?
A primeira parte do livro faz uma contextualização ampla sobre racismo e branquitude. Com exemplos concretos e linguagem simples, Bárbara explica os principais conceitos em torno da questão, como o mito da democracia racial e o lugar de fala.
“Por mais antirracista que a pessoa branca seja, ela se beneficia do racismo, mesmo sem querer. E é disso que todo/a educador/a branco/a precisa se conscientizar, no mínimo”, explica Bárbara Carine.
“Por mais antirracista que a pessoa branca seja, ela se beneficia do racismo, mesmo sem querer. E é disso que todo/a educador/a branco/a precisa se conscientizar, no mínimo. Nesse sentido, pautamos o fim da branquitude e, reforço, isso não versa sobre o extermínio de pessoas brancas, mas sobre o fim do sistema social que as privilegia.”, explica a autora.
Bárbara afunila o debate para a escola, no ponto em que geralmente a questão aparece: casos de racismo entre os estudantes. Ela diferencia bullying de racismo e explica por que é impossível promover uma escola antirracista responsabilizando individualmente algumas crianças.
“Como está o currículo de vocês? Qual história negra vocês contam? A de que a nossa história começou há mais de trezentos mil anos ou a história dos quatro séculos de escravidão nas Américas (massivamente apresentado em dezesseis anos de vida escolar)? Como está a representação de pessoas negras nas literaturas utilizadas pela escola? E na estética da escola: paredes, outdoor, placas, panfletos de matrícula? E no corpo profissional escolar, onde estão as pessoas negras? Elas ocupam os cargos de direção, coordenação, psicologia, financeiro, administração ou estão apenas nos espaços subalternizados, limpando o chão, abrindo o portão e servindo cafezinho?”, diz um trecho do livro.
A educadora também discute práticas pedagógicas e compartilha o calendário de comemorações da escola Afro-brasileira Maria Felipa para ilustrar uma saída possível para reconhecer a diversidade do país.
“A coisa mais comum que eu escuto por aí em palestras sobre diversidade é que precisamos construir espaços diversos. E fico refletindo que talvez não seja sobre um processo de construção, pois o mundo é diverso, mas sim sobre processos de entendimento e aceitação da própria realidade social”, afirma Bárbara.
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