publicado dia 24/10/2017
Os caminhos trilhados pelas Comunidades de Aprendizagem na América Latina
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 24/10/2017
Reportagem: Ingrid Matuoka
A Comunidade de Aprendizagem (CA), conceito implementado pelo Instituto Natura em 2012, propõe uma transformação social nas escolas a partir do envolvimento das famílias e da comunidade no cotidiano escolar.
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Hoje, estão presentes no Brasil, México, Argentina, Peru, Chile e Colômbia. São 715 escolas envolvidas e 250 formadores certificados atuando nesses territórios.
Para reunir e promover o debate entre os diferentes atores responsáveis pela implementação dessas comunidades, o Instituto Natura realizou, nos dias 23 e 24 de outubro, o VII Encontro Internacional de Comunidade de Aprendizagem, em São Paulo (SP).
“A América Latina possui contextos e desafios muito semelhantes. Por isso, precisamos trocar cada vez mais e compartilhar estratégias”, disse Fernanda Pinho, coordenadora de Comunidade de Aprendizagem Brasil, durante seu discurso de abertura. “Queremos levar os princípios da CA para dentro das secretarias e criar políticas públicas que sejam dialógicas e participativas”, afirmou.
“A América Latina possui contextos e desafios muito semelhantes. Por isso, precisamos trocar cada vez mais e compartilhar estratégias”, disse Fernanda Pinho
Roseli Rodrigues Mello, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e autora do livro Comunidade de Aprendizagem: outra escola é possível, também esteve presente no evento e resumiu a essência da CA.
“Trata-se de garantir uma aprendizagem e um convívio de máxima qualidade para todos, em que cada pessoa atua como um gestor da escola, mediante uma organização aberta e participativa”.
A professora citou ainda o educador Ramón Flecha: “o diálogo entre professores, estudantes, familiares e comunidades é a chave para superar desigualdades e a exclusão social em clima de solidariedade”.
Os coordenadores de implementação de diferentes países explicaram algumas das estratégias que utilizaram para levar a CA às escolas. Na Argentina, recorreu-se à centralização. Por meio de parcerias com ministérios, instituíram a CA como política pública.
O desafio, agora, é construir para além dos líderes que possibilitaram a implementação do projeto, trabalhando com formadores, universidades e outros articuladores que possam atuar diretamente nas escolas.
No Chile, também há busca por parcerias com o Ministério da Educação e as secretarias, mas o foco está na rede de aliados, composta tanto por grandes organizações como pelas famílias.
Na experiência chilena, essa é uma forma de incentivar a interculturalidade e diversificar os recursos humanos e econômicos. Eles enfrentam, contudo, a dificuldade de manter tantas frentes diversas alinhadas com o projeto e com a qualidade que desejam.
A Colômbia, por sua vez, investiu diretamente nas escolas. Por meio de processos de formação dos docentes e gestores, transmitiram os conceitos de Comunidade de Aprendizagem.
Ao mesmo tempo em que os educadores aprendiam sobre o outro e sobre si mesmos nestas formações, estimulava-se o diálogo igualitário, o trabalho em equipe, a solidariedade, e a atitude reflexiva, dentre outros conceitos de CA.
O diálogo entre professores, estudantes, familiares e comunidades é a chave para superar desigualdades e a exclusão social
O México também adotou uma abordagem similar, de ação direta nas escolas, mas por meio de uma formação de assessores técnico-pedagógicos.
No começo deste ano, formaram 196 articuladores para pré-escola, primário e secundário, em encontros presenciais que totalizaram 18 horas. Agora, estes formadores coordenam todo o trabalho de implementação nas instituições de ensino. A expectativa é formar mais 290 articuladores até o final deste ano.
Já o Peru encontrou sua forma de integrar-se à CA recorrendo à modalidade de escola de alternância, em que os estudantes ficam parte do tempo morando na instituição de ensino e, depois, passam o mesmo período em sua comunidade de origem, desenvolvendo e aplicando projetos trabalhados em aula.
Um dos principais pontos fortes deste formato é sua versatilidade: além das escolas, ele já funciona em instituições de atendimento a jovens em conflito com a lei e para a educação de crianças com deficiência.
Por fim, o Brasil atua em três frentes diferentes: diretamente nas escolas, nas secretarias, por meio da formação de uma equipe técnica que leva o conceito até as unidades escolares e, por fim, na rede, que tem o papel de disseminar e influenciar mais pessoas a conhecerem a Comunidade de Aprendizagem.
Cleia Gonçalves Cabral dirige a Escola Estadual Professor Pedro Augusto Carneiro Leão, em Recife (PE), que atende 855 estudantes do 6º ao 9º ano, e é uma das 715 escolas que aderiram ao conceito de Comunidade de Aprendizagem.
A diretora explicou que precisavam mudar a convivência na escola e melhorar as relações neste espaço. Os alunos pediam por respeito, desejavam estimular a cultura da paz, além de um espaço para críticas e sugestões, um núcleo de mediação de conflitos, dentro outras demandas.
“Vimos uma oportunidade de ter uma comunidade escolar diferente, de unir esforços, compartilhar responsabilidades e cultivar o diálogo. Passamos por todas as etapas de transformação: sensibilização, tomada de decisão, sonhar e selecionar prioridades e o planejamento de infraestrutura, pedagógico e relacional”, contou a diretora.
Em vídeo, Ana Angélica, professora do colégio, deu seu depoimento sobre as mudanças que viu ocorrer na escola: “achei que seria mais um projeto para sobrecarregar a gente mas, depois que eu entendi, me apaixonei e minha expectativa é que a comunidade e os alunos cresçam”.