publicado dia 01/08/2019

Inovação educativa: como a gestão pública pode ser uma aliada?

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Publicado originalmente no Movimento de Inovação na Educação

São muitos os educadores que experimentam novas formas de aprender e ensinar seja mapeando novos territórios para o aprendizado, compreendendo as mudanças no seu papel como professor, dando espaço para a criatividade e para o senso crítico ou adaptando-se às tendências e demandas do séc XXI.

Mas estes movimentos, muitas vezes, ficam centrados em propostas ou ações de indivíduos ou instituições – isolamento que os torna pouco sustentáveis. “Muitas práticas inovadoras ficam restritas a figura de um professor. Isso porque ainda predomina a ausência de uma plataforma de escalabilidade das mudanças criadas pelos docentes. Mas a inovação para ser efetiva requer a formação de ecossistemas, de novos arranjos sociais no âmbito escolar”, comenta Luciano Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco e sócio-fundador da Joy Street.

Neste cenário, as gestões públicas possuem um papel decisivo. Além de possuírem meios para apoiar o processo de inovação de forma perene, secretarias de educação e suas equipes conhecem como ninguém suas respectivas redes de ensino e podem agir como propulsores da transformação na educação.

“Uma das coisas que está na mão dos gestores é avaliar boas políticas da área de educação e implementá-las de acordo com os contextos das suas redes. E quando estamos falando de políticas inovadoras e não somente de práticas temos uma garantia maior de que elas podem se sustentar para além de gestores ou governos”, diz Cleuza Repulho, ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

Um dos caminhos para isso é a implementação de projetos-piloto de inovação educativa, isto é, iniciativas temporárias empreendidas para testar a viabilidade da solução. Mas para que isso dê uma amostragem real de êxito é preciso olhar com cuidado o escopo onde está sendo aplicado.

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“Hoje, o que vemos muito são secretarias que implementam projetos pilotos inovadores ou em escolas muito boas ou escolas muito ruins e isto impede a gestão pública de ter uma noção real de sua dimensão, porque são exemplos extremos”, explica Cleuza. Para a especialista, é mais aconselhado a implementação de projetos-piloto em grupo de escolas ou etapas educacionais como o Fundamental II para depois, se for o caso, serem ampliados para a rede.

Formação continuada

E nada impede que o caminho inverso seja traçado. “No caso de experiências exitosas de educadores, a rede pode pegar estas práticas, registrá-las, analisar seus resultados empíricos, isto é, como elas contribuem de fato para a aprendizagem dos alunos e, fazendo os devidos ajustes, estruturá-las para serem institucionalizadas pela rede de ensino”, diz Cleuza.

Outra forma de fomentar a inovação a partir de práticas já criadas por professores é colocar essas figuras para compartilhar, de forma sistematizada, suas ideias e propostas. “Esse educador pode ter uma grande contribuição para os demais se for convidado para dar formações continuadas na rede de ensino”, diz a ex-gestora.

Luciano Meira endossa essa necessidade de que a formação continuada seja uma estratégia da gestão pública para apoiar a inovação. “Uma estratégia é criar grupos de educadores para discutir práticas didáticas inovadoras. Quando faço isso, eu os desafio a permitirem filmar pedaços de suas aulas para trocarem entre si. Apoiados pela gestão, esse exercício permite que eles visualizem como seus pares inovam na prática”, conta.

Estes encontros podem ainda oportunizar o entendimento e a apropriação de documentos educacionais importantes como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Mesmo com todas as críticas possíveis de se fazer à BNCC, o documento representa um esforço estruturante para a inovação didática na educação brasileira”, defende.

Mas para isso aconteça, acrescenta o especialista, se faz necessário apoio, isto é, que os municípios possam ser apoiados pelos estados e esses, por sua vez, pelo governo federal. “Para tanto, os professores precisam – com o apoio da gestão – trocarem entre si, seja em encontros presenciais ou via  plataformas de e-learning. Se não houver estratégia de formação encabeçada pelas secretarias, essa oportunidade pode ser perdida”, finaliza.

 

 

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