publicado dia 20/09/2017
Gestão Doria encerra tempo integral em ao menos 3 escolas de São Paulo
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 20/09/2017
Reportagem: Ingrid Matuoka
Por decisão da gestão de João Doria (PSDB), ao menos três escolas públicas de Educação Infantil da cidade de São Paulo deixarão de funcionar em tempo integral: CEI Dom Gastão, EMEI Antonio Figueiredo Amaral e EMEI Alceu Maynard.
A medida faz parte da tentativa de cumprir a promessa do prefeito de aumentar o número de vagas nas creches.
Leia + Escola de tempo integral alia-se à comunidade para transformar realidade local
As escolas afetadas até o momento são todas da Diretoria Regional de Ensino Ipiranga, e a partir do início de 2018 passarão a receber as crianças somente no período da manhã ou da tarde.
Duplica-se, portanto, o número de vagas, mas onera as famílias que não têm onde deixar as crianças no turno inverso enquanto trabalham, caso da maior parte de quem recorre às escolas de tempo integral.
Embora nenhum comunicado oficial tenha sido emitido ainda, as creches já foram avisadas pela Diretoria Regional de Educação (DRE).
O CEI Dom Gastão, além disso, vai deixar de receber as crianças de 4 e 5 anos. Ao todo, 84 crianças irão para outras duas escolas, a mais de dois quilômetros de distância, a EMEI Antonio Figueiredo Amaral ou a EMEI Alceu Maynard, que também vão deixar de funcionar em tempo integral para atender à mudança e acomodar os novos alunos.
No lugar desta medida, que impacta mais de 500 crianças, e considerando a necessidade de ampliar as vagas, a comunidade escolar do CEI propôs à Secretaria Municipal de Educação retomar um prédio que pertence à pasta mas está ocupado pela Guarda Civil Municipal.
Outra sugestão foi ampliar o atendimento em CEIs já existentes na região, com capacidade de atender 50 crianças a mais. Nenhuma destas medidas foi aceita.
Esta não é a primeira vez que a gestão Doria prioriza vagas em lugar de qualidade na Educação. No início do ano, foram fechados espaços de leitura e brinquedotecas em 33 escolas para abrir novas salas de aula.
Tanto as famílias quanto as escolas alegam que não houve qualquer diálogo sobre esta decisão e, para esta sexta-feira 22, as famílias estão organizando um protesto às 7 horas da manhã em frente à creche Dom Gastão.
Maristela Callegari, que faz parte da comissão de familiares que se organizaram contra esta medida, afirma que pais e mães estão preocupados.
“Elas não têm onde deixar os filhos para poder trabalhar, não tem como pagar para alguém cuidar, para buscar. Muitas são separadas e não têm ninguém para ajudar”.
Este é o caso de Gabrielle Mekaro, 20, que trabalha como vendedora de segunda a sábado, das 8h30 às 17h — como a maior parte dos brasileiros — e é mãe de uma menina de 4 anos. “Eu não tenho outra opção de onde deixar minha filha, não sei o que vou fazer”, afirma.
Para Maristela Gomes Nascimento, 33, que trabalha o dia inteiro e tem uma filha de 4 anos matriculada na creche, a questão vai além.
“Não vou deixar minha filha com alguém que eu não conheço, sozinha. E não é só isso, na escola há outras crianças, e ela tem se desenvolvido e aprendido muito. É bem melhor do que ficar em casa assistindo à televisão”, diz.
A escola em tempo integral, especialmente na Educação Infantil, tem dupla relevância: permite que as famílias trabalhem e é oportunidade para o desenvolvimento integral das crianças.
“A educação em tempo integral tem mais condições de promover a formação humana dos alunos quando oferece múltiplas oportunidades e possibilidades pedagógicas, quando baixa os muros da escola, possibilita relações sociais saudáveis, estimula o questionamento do mundo e a resolução de conflitos”, diz Jaqueline Moll, professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que foi diretora de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica no MEC de 2007 a 2013.
“A educação em tempo integral tem mais condições de promover a formação humana dos alunos”, diz Jaqueline Moll, da UFRGS
“Como podemos oferecer uma educação mais qualificada reduzindo tempo e oportunidades educativas? Como podemos dar menos educação às crianças que vivem em situações em geral degradantes?”, questiona.
Para a especialista, a educação integral diz respeito ao que queremos para o País e uma educação encurtada em tempo e em processo educativo “corresponde a uma sociedade cindida, diminuída e subserviente a outras”.
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que “toda e qualquer projeção feita neste momento referente a 2018 se trata apenas de estudo feito no âmbito da Diretoria Regional de Educação, que ainda deve passar por apreciação do gabinete. Portanto não há nada definido para o próximo ano letivo”.