publicado dia 22/11/2024

“Flexibilização curricular planeja o currículo para todos e para cada um” 

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒 Resumo: Como trabalhar com a flexibilização curricular na Educação Integral Inclusiva? O tema será discutido por especialistas no Seminário Educação Integral em Debate 2024, mediado por Maria Antônia Goulart. 

A flexibilização curricular, uma estratégia fundamental da Educação Inclusiva, beneficia a todos os estudantes, não apenas os com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e/ou altas habilidades ou superdotação. 

A mudança no trabalho pedagógico, além de promover aprendizagens melhores e mais significativas, também contribui para o clima de afetividade e cooperação entre todos. 

É o que sintetiza Maria Antônia Goulart, assessora de Educação Sesc Senac Rio de Janeiro, em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral. A especialista também é mediadora da mesa “Educação Integral Inclusiva: flexibilização curricular”, que vai aprofundar o tema durante o Seminário Educação Integral em Debate 2024.

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O evento está programado para acontecer nesta sexta-feira (22/11), a partir das 9h (horário de Brasília). A mesa sobre flexibilização curricular começará às 15h30 com a participação de Amanda da Paixão Montenegro (Diretora da escola Sesc de Nova Iguaçu), Beatriz Benedito (Instituto Alana) e Rodrigo Hübner Mendes (Instituto Rodrigo Mendes).

Em 2024, o Seminário Educação Integral em Debate é realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, Cidade Escola Aprendiz, Canal Futura, Avante, Ashoka, British Council, Cenpec, Fundação Vale, Fundação Santillana, Flacso, Instituto Alana, Itaú Social, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Tomie Ohtake, Roda Educativa, Oi Futuro e Unicef. 

Assista ao Seminário Educação Integral em Debate:

Garantir tempo para os professores e professoras planejarem o currículo a partir das demandas e formas de aprender de cada um dos seus estudantes favorece aprendizagens e vínculos. Esse é o objetivo da flexibilização curricular.

“O currículo flexível demanda que no planejamento se considere as várias formas que a turma tem de se apropriar e manipular a informação, e de produzir e se expressar em relação ao que sabem. No dia em que realizo a atividade, todo mundo está contemplado”, explica Maria Antônia Goulart.

Leia a entrevista: 

Centro de Referências em Educação Integral: O que é a flexibilização curricular?

Maria Antônia Goulart: É uma perspectiva que planeja o currículo, que é a abordagem, espaço, relações, para todos e para cada um. É uma forma de atender às especificidades dos vários estudantes e seus perfis de aprendizagem.

“Qualquer alteração que eu fizer na hora, é uma adaptação, porque flexibilização exige planejamento prévio”, explica Maria Antônia Goulart.

Para pensar um currículo rígido e um flexível, gosto de propor uma analogia. Se tenho massinha achatada, para deixá-la redonda não perco material. Se for uma madeira, provavelmente vou ter que cortar. No currículo, se altero a forma sem perder a substância, é uma perspectiva flexível. Se perco substância, é um currículo rígido.

Na prática, se planejo uma atividade em que o estudante vai ler um texto e apresentar um resumo sobre ele, certamente vou perder conteúdo se eu precisar mexer nela porque uma criança não conseguiu ler sozinha ou outra leu rápido demais e ficou sem nada para fazer. Qualquer alteração que eu fizer na hora, é uma adaptação, porque flexibilização exige planejamento prévio.

Nesse exemplo, vou considerar o perfil da minha turma na hora de planejar a atividade. Sei que alguns vão precisar de 20 minutos para ler e 30 minutos para produzir e me entregar um texto. Outros, vão precisar de apoio, então ofereço o texto no dia anterior, por exemplo. Para os que sei que vão terminar antes, já deixo preparada uma atividade para ser realizada em sequência. 

Então o currículo flexível demanda que no planejamento se considere as várias formas que a turma tem de se apropriar e manipular a informação, e de produzir e se expressar em relação ao que sabem. No dia em que realizo a atividade, todo mundo está contemplado. 

CR: Quais condições a equipe docente precisa ter para realizar a flexibilização do currículo com qualidade?

Maria Antônia: Sem tempo de planejamento, não tem como garantir qualidade. É preciso tempo para olhar para a proposta, considerar o perfil e as hipóteses pelas quais vão se apropriar dessa informação. 

A outra coisa é o professor se apropriar das diferentes formas que os estudantes têm de perceber e manipular o conhecimento e se expressar em relação ao que sabem. 

“É possível organizar atividades que vão conseguir mobilizar o interesse dos estudantes, fazê-los colaborarem entre si e respeitar os tempos e formas de aprendizagem de cada um”, diz a especialista.

Quais são as formas pelas quais eles acessam as informações? Como posso apresentar uma mesma informação acionando sentidos do corpo diferentes? A forma pela qual a gente percebe o mundo é pelo corpo. 

Apostamos muito na visão e na audição na escola, mas tem todos os outros sentidos, a combinação entre eles e a forma como se relacionam com o ambiente. Então preciso de diversidade de experiências que mobilizem mais de um sentido.

Também é retomar Paulo Freire e entender que ninguém aprende nada sozinho. Aprendemos uns com os outros quando estamos experimentando e refletindo sobre as coisas do mundo.

O professor precisa ser capaz de entender como os estudantes percebem o mundo e colaboram e produzem conhecimento. Então é criar intencionalmente momentos pensados observar como eles vão se apropriar dos materiais, instrumentos, estabelecer relações, trocar entre eles e produzir seus entendimentos sobre aquilo. 

A partir daí, com mais conhecimento, é possível organizar atividades que vão conseguir mobilizar o interesse dos estudantes, fazê-los colaborarem entre si e respeitar os tempos e formas de aprendizagem de cada um. 

CR: Como essa mudança no fazer pedagógico contribui para melhorar o clima escolar e a relação entre todos os estudantes?

Maria Antônia: Esse é o grande ponto a favor da Educação Inclusiva. Ela deixa de ser uma demanda específica dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e/ou altas habilidades ou superdotação, e passa a ser uma perspectiva que conversa com outra forma de pensar a Educação, que de fato abraça todos e cada um dos estudantes, mesmo em uma turma que não tem um estudante com deficiência.

“Quando eles começam a trabalhar juntos e produzir, eles desenvolvem relações de afetividade, parceria e companheirismo, o que reduz casos de violências entre eles”, observa Maria Antônia.

Quando coloco estudantes diferentes para colaborarem uns com os outros, tiro o foco de que tem aluno que é pior e outro que é melhor, o que sabe e o que não sabe, e passo a demonstrar que todos nós temos algumas coisas nas quais somos melhores e outras nem tanto. É uma forma de trabalhar que coloca todo mundo em lugar de reconhecimento de suas possibilidades, não de suas limitações.

Quando eles começam a trabalhar juntos e produzir, eles desenvolvem relações de afetividade, parceria e companheirismo, o que reduz casos de violências entre eles. 

Em síntese, é reconhecer cada um dos estudantes a partir de sua humanidade, que traz desafios e potencialidades. E vale lembrar que isso é diferente de dizer que a criança com deficiência é mais fofa, especial, amorosa – o café com leite – porque esses eufemismos desumanizam e criam espaço fértil para as violências. Ela é uma criança e ponto. 

“Na Educação Integral, a escola precisa favorecer relação com a natureza e vivência coletiva”

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