publicado dia 20/09/2023

Como professores cultivam a paz em suas escolas no dia a dia

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🗒️ Resumo: Durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado pela Jeduca nos dias 18 e 19 de setembro, em São Paulo (SP), professores compartilharam suas experiências lidando com a violência cotidiana que permeia as escolas. Nessa difícil tarefa, não podem ficar sozinhos.

No fogo-cruzado entre as violências que crianças e adolescentes aprendem na sociedade e reproduzem na escola e aquelas que são perpetradas pelas próprias unidades escolares, estão professores e professoras que precisam lidar cotidianamente com o cenário.

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“Tento fazer toda intermediação que posso, uso muito o esporte, mas o professor não é salvador de tudo ali”, disse Cinthia Barbosa, professora de Educação Física que desarmou o autor do ataque na EE Thomazia Montoro, em São Paulo (SP), em março deste ano. 

O depoimento da educadora ocorreu durante a mesa “Para além dos ataques: como professores lidam com tensões frequentes e violência na escola”, do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado pela Jeduca nos dias 18 e 19 de setembro, em São Paulo (SP).

A professora reafirma a necessidade de envolver toda a sociedade para evitar que novas violências extremas contra as escolas se repitam. “Sou professora-tutora de 17 alunos e minha função é acompanhar o desempenho acadêmico e me colocar à disposição para questões emocionais. Mas, como professora, tenho limite para atuar, então a junção de forças, com a Saúde, Segurança, famílias, é o que vai guiar a gente para um caminho melhor”, pontuou Cinthia.

Cultura de paz por meio do diálogo e da arte

Em uma aula, a professora Celiana Moroso, há 22 anos na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (DF), usou a palavra “todes”. Na linguagem neutra, o artigo masculino genérico é substituído pelo “e” a fim de incluir na fala todas as pessoas: as que se identificam com o gênero masculino, feminino e as não-binárias, que não se identificam nem com um, nem com outro.

Uma mãe soube do caso e, revoltada, pediu para conversar com a educadora. “Pedi ajuda para uma colega que já passou por isso e ela foi minha fortaleza. Na reunião, depois de muita conversa, a mãe pediu desculpas para mim e, depois, para outros dois professores que ela já havia processado”, contou Celiana. “A minha melhor arma é dialogar, argumentar, perguntar”, acrescentou.

Para trabalhar este mesmo princípio com seus estudantes, a professora criou o projeto Desiderata, que visa despertar o interesse das turmas pela leitura, atrelada a uma visão crítica da sociedade. Temas como racismo, homofobia e preconceito são discutidos em rodas de conversa. 

“Eu não sou a detentora do conhecimento, sou a mediadora. Tenho que passar todas as informações necessárias para que os estudantes busquem informações”, definiu a educadora. 

Ao mesmo tempo em que aprendem a respeitar e cuidar do outro, por meio da arte também encontram caminhos para expressar suas próprias dores e angústias no papel, na música e na dança, ao invés de fazer isso no próprio corpo, com automutilações e ideações suicidas.

“Faço atividades de poesia, desenho, RAP, para que eles descubram do que gostam e falem sobre suas questões. Uma escola rica em projetos vai incentivar o talento de cada um, escutar o que cada estudante gosta e o que aquela comunidade precisa”, disse Celiana.

A pedagogia da presença

Manaus (AM) foi uma das regiões brasileiras em que houve mais mortes durante a pandemia de Covid-19, com 144 mil vítimas. Soma-se a isso, o agravamento da fome, do desemprego e da violência nos últimos anos. 

“A escola recebe toda essa problemática diretamente na escola. Isso impacta no relacionamento entre alunos, deles com os professores, a escola e as famílias. Qual o papel da Educação e dos professores?”, questionou Erison Lima, educador na rede estadual de Manaus (AM) e na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 

“Não vamos resolver todos os problemas da sociedade, mas o professor tem que entender de onde vem seu aluno e se interessar pela vivência dele”, diz Erison Lima.

Para ele, a saída foi criar o Clube do Silêncio, um espaço semanal onde estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Médio podem falar sobre suas demandas, problemas e dúvidas.

“Não vamos resolver todos os problemas da sociedade, mas o professor tem que entender de onde vem seu aluno e se interessar pela vivência dele. A escola precisa ser acolhedora, aberta para todos, em que o aluno seja participante, atuante e acolhido nas suas demandas. É a pedagogia da presença e a ética do cuidado”, definiu Erison. 

Além dos educadores, os demais profissionais também podem atuar nesse sentido. “Um aluno quando encontra uma merendeira, alguém da faxina, que senta com ele e o acolhe, se torna um escutador da escola. A fama corre entre os alunos e sabem que aquela pessoa é alguém disponível para ouvir, atender, ser atencioso. E aí eles se abrem”, disse o educador.

Novo ataque à escola reafirma a necessidade da cultura de paz

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