publicado dia 19/06/2023

Novo ataque à escola reafirma a necessidade da cultura de paz

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Nesta segunda-feira (19/6), uma estudante de 16 anos foi assassinada durante um ataque contra a escola e outro está internado em estado grave. O caso aconteceu no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, no município de Cambé (PR), quando um ex-aluno, de 21 anos, invadiu a unidade e fez os disparos com uma arma de fogo.

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Como denunciar | O Disque 100 recebe denúncias de ameaças de ataques a escolas. As informações podem ser passadas por WhatsApp, pelo número (61) 99611-0100. Informações sobre ameaças de ataques podem ser feitas ao canal Escola Segura.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, o atirador foi preso. É o terceiro ataque violento com mortes em ambientes escolares desde o início do ano. Desde janeiro, ao menos seis pessoas morreram em decorrência da violência extrema. 

Após a tragédia, o presidente Lula se manifestou nas redes sociais. “Mais uma jovem vida tirada pelo ódio e a violência que não podemos mais tolerar dentro das nossas escolas e na sociedade. É urgente construirmos juntos um caminho para a paz nas escolas. Meus sentimentos e preces para a família e comunidade escolar”, disse em sua conta no Twitter.

Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, também manifestou solidariedade às famílias das vítimas: “Quando um jovem perde a vida, na verdade, toda a juventude perdeu um pedaço da sua vida. Sou pai e, por isso, sei bem da intranquilidade que aflige as famílias na medida em que, de modo inaceitável, essa modalidade de violência se implantou no Brasil e serve de reflexão quanto aos traços culturais da violência”.

Por uma cultura de paz nas escolas

Dois dias antes do novo ataque extremo contra a escola, Miriam Abramovay, que é socióloga especialista em violência escolar e integrante do grupo que atua junto ao Ministério da Educação (MEC) para enfrentar as violências contra as escolas, reforçou a importância de promover a cultura de paz nas unidades de educação e em todo o país. 

Ela participou do Festival LED – Luz na Educação, que aconteceu nos dias 16 e 17 de junho, no Rio de Janeiro (RJ), e destacou que se trata de combater todas as violências – no plural – que permeiam as escolas. 

Ela cita, por exemplo, as violências cotidianas, como racismo, homofobia e gordofobia. Também quando os estudantes são reprovados, não são ouvidos e suas culturas são deixadas do lado de fora da escola. Ou quando o Estado não garante os direitos de alimentação, transporte e infraestrutura escolar. 

Mas há, ainda, a violência que faz parte de toda a sociedade e, como não poderia deixar de ser, também chega às escolas. “É a questão do extremismo, que tem a ver com os jovens que ficam o tempo inteiro na internet, com grupos fascistas e que levam a esse extremismo. Tem a ver com o fato de que viemos de quatro anos onde havia propaganda de armas, onde havia incentivo para compra de arma, e a escola não está separada disso”, disse Miriam durante o evento. 

Para enfrentar essa conjuntura, a especialista propõe políticas públicas nacionais de convivência escolar e de cultura de paz. “A escola tem que ser um lugar protetor e protegido, mas isso não significa colocar polícia dentro da escola. A polícia tem que proteger as crianças e estudantes desde que saem de casa até chegarem na escola”, afirmou a socióloga, que é uma das autoras da cartilha do Ministério da Educação (MEC) “Recomendações para Proteção e Segurança no Ambiente Escolar”.

Nesse sentido, também é preciso ir além de discutir armamento e treinamento de defesa pessoal para educadores. Em nota de pesar, a Campanha Nacional Pelo Direito à Educação destacou que “o debate sobre a violência nas escolas não pode se limitar à segurança pública”. 

“O aumento de ideias e comportamentos fascistas, de extrema direita entre a população, da cultura de ódio, racismo, bullying, xenofobia e intolerância em suas mais variadas formas, contribuem diretamente para um cenário propício a atitudes cada vez mais violentas na sociedade, seja nas escolas, ou fora delas. Programas como a educação militarizada, via Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, um projeto contra a gestão democrática e contrária aos princípios que garantem o direito à Educação, coíbem o pensamento crítico, a autonomia e a cultura da paz”, reforçou a organização.

Outra frente para promover a cultura de paz em toda a sociedade também passa por discutir as masculinidades e a branquitude, uma vez que a maioria dos ataques extremos às escolas foram realizados por meninos e homens brancos.

“Acho importante a gente começar também a pensar nessa masculinidade tóxica que existe na sociedade e que muitas vezes é criada dentro de casa, num ambiente também doente onde ele pode ter visto a mãe ser agredida ou ter sido agredido”, disse Miriam.

Assista ao debate sobre cultura de paz que aconteceu durante o Festival LED – Luz na Educação:

As lutas urgentes e as lutas importantes no contexto dos ataques às escolas

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