Diadema (SP) aposta na articulação intersetorial contra violências nas escolas

Publicado dia 16/05/2023

“Uma brincadeira é algo que agrada o outro”, diz Raquel, de 10 anos. “É fazer o outro feliz”, complementa seu colega Guilherme, 9 anos. “E quando alguém fala para parar, tem que parar. Também não pode deixar ninguém isolado”, reforça Ezaquieu, 10 anos.

Leia + O que é cultura de paz nas escolas e como ela acontece na prática

É assim que os estudantes da EMEB Anita Catarina Malfatti, em Diadema (SP), definem como as interações entre eles precisam acontecer para que todos sejam respeitados e possam conviver. 

Esses aprendizados tiveram início com o projeto “Brincadeira só é brincadeira se fizer o outro feliz”, criado pela professora Eneida de Lima Santos para ensinar sobre cultura de paz. 

Observatório de Segurança Escolar 

A iniciativa foi fortalecida após os ataques mais recentes contra escolas, e se somam às ações do Observatório de Segurança Escolar, criado pela Secretaria de Educação de Diadema em abril deste ano como forma de enfrentar as violências contra as escolas de forma intersetorial. 

Fazem parte dele representantes das Secretarias Municipais de Educação, Segurança Cidadã, Esporte, Cultura, Saúde e Assistência Social. “Não queremos polícia dentro da escola. Então criamos quatro Observatórios espalhados pela cidade que vão construir suas próprias saídas para os problemas junto aos territórios e às comunidades”, define Ana Lucia Sanches, gestora da rede educacional. 

Em um primeiro momento, vão realizar um diagnóstico da situação de cada área. Depois, vão pensar em possibilidades de proteção e, por fim, avaliar e monitorar se as violências diminuíram. “Mas também se melhorou o sentimento de violência, que não é necessariamente uma ação em si, mas também é muito importante”, explica Ana Lucia. 

A iniciativa também conta com a parceria das cidades vizinhas para ampliar os territórios de segurança e a escuta das crianças. O projeto envolve, ainda, formações com a Guarda Civil Municipal (GCM), as famílias, os professores e os próprios estudantes. “Eles aprendem a identificar o que é bullying e racismo e como promover uma cultura de paz nas escolas”, diz a gestora da rede.

Outra frente de atuação fundamental deste trabalho encontra respaldo em um programa anterior. Criado em 2021, o Escola que Protege combate outra forma de violência: a contra as crianças. 

No ano passado, foram 800 casos atendidos. O ponto comum entre todos eles era a baixa frequência escolar. “Tornamos mais rígido o controle de faltas e mobilizamos equipes que resolvem e acompanham situações de violação dos estudantes. Também sensibilizam os professores para identificar sinais de qualquer tipo de abuso, porque as verdadeiras violências que temos aqui são contra as nossas crianças e adolescentes”, lamenta Ana Lucia. 

O protagonismo das crianças

Para que a cultura de paz se concretize nas escolas, a participação ativa dos estudantes é fundamental. “A ação mais bonita é a dos Curumins, que são os conselhos infantis e grêmios da rede”, afirma Ana Lucia.

A eleição para os representantes aconteceu no final de abril. Eles passaram por uma formação em cultura de paz e fizeram uma oficina para discutir o que tira a paz deles na escola, no bairro e na cidade. Em seguida, se reuniram com o prefeito de Diadema e Secretária de Educação. 

“Os Curumins da nossa escola disseram a eles que querem levar esse projeto do que é uma brincadeira para fora da escola, porque todo mundo tem que reconhecer que não pode ter violência. Na unidade, já são eles que multiplicam essas questões entre os pares”, conta a professora Eneida.

Em breve, os Curumins também vão se reunir na Universidade Metodista de São Paulo, com os estudantes de Jornalismo, para gravar um podcast sobre cultura de paz.

“Uma das ações que estamos fazendo para cultivar a paz na escola é cada turma decidir uma atividade e uma periodicidade de um momento de paz”, explica Eneida. “A minha turma gosta de colocar uma música relaxante, tranquila, e desenhar”, conta Ezaquieu. 

Nos corredores e intervalos, também têm se construído a cultura de parar e perguntar “isso é uma brincadeira?”. “Tem sido bem interessante que eles fazem isso entre eles, não vem de cima para baixo, então eles se sentem responsáveis por isso. Quando uma criança fala para outra, o sentido é bem maior”, observa a professora.

Para a gestora da rede, todas essas ações tratam de resgatar a potência da escola como um espaço de formação humana e cidadã. “Precisamos formá-los desde a infância para uma cultura de paz. Se aceitamos que a escola é violenta e insegura, enfraquecemos a potência de sua natureza. Escola é um espaço de formação cidadã, de cuidado com o outro”, diz Ana Lucia.

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