Quatro estratégias de ensino para promover a leitura
Publicado dia 05/06/2017
Publicado dia 05/06/2017
A leitura pode ser um tema tenso para pais, professores e alunos. Uma boa competência leitora é essencial para acessar todo o currículo escolar, logo, os docentes costumam colocar muita ênfase nesse trabalho desde cedo.
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No entanto, a pressão e a ansiedade em fazer com que os alunos se tornem leitores aptos “dentro do prazo” podem extrair o prazer de uma atividade que muitas crianças adoram quando pequenas. Para elas, a leitura é uma maneira de acessar histórias que, por sua vez, as fazem se perguntar e imaginar o mundo. Na corrida para fazer com que elas leiam bem, pode ser fácil cair no equívoco de tratar a leitura como um procedimento, ao invés da experiência complexa que é.
Texto originalmente publicado por Katrina Schwartz, do Portal MindShift, da rede de parceiros de conteúdo do Centro de Referências. Katrina é uma jornalista residente na Califórnia. Ela trabalhou na Rádio Pública KPCC, de Los Angeles e escreve para a KPCC online desde 2012. É também parte da equipe do MindShift para Educação.
Não é de se estranhar, portanto, que tantos alunos passem a dizer que detestam ler. Mas no lugar de forçá-los a ler obras que odeiam ou preencher registros de leitura para mostrar que estão lendo em casa, é muito mais efetivo aplicar estratégias que os aproximem do hábito pelo prazer.
Para isso, é necessário entender que crianças que apresentam dificuldades de leitura têm uma noção equivocada de que nunca serão boas leitoras. No Ensino Fundamental ou Médio, ao tomarem consciência de que não estão lendo no mesmo nível da classe, muitas passam a evitar a prática.
Professora com 10 anos de experiência, Courtney Rejent lembra que cada estudante, porém, tem habilidades e pontos fortes, mas muitas vezes eles não conseguem reconhecê-los. Logo, o primeiro passo do professor ao lidar com um estudante que afirma que odeia ler é apontar o que ele está fazendo positivamente, como uma maneira de ajudá-lo a ver esses pontos por si mesmo.
A professora também acredita que é inapropriado que as crianças estejam totalmente conscientes do seu próprio nível de leitura. “Os níveis são importantes para o professor, para saber o que o aluno ainda precisa compreender. Mas não é algo que deve rotular a criança”.
O fato de um aluno gostar ou não de ler é, muitas vezes, decorrente de um acúmulo de experiências em torno da leitura. Desta maneira, o foco não deve ser o nível de leitura, mas o encorajamento dos alunos para que tentem diferentes estratégias e encontrem seu caminho individual.
O fato de um aluno gostar ou não de ler é decorrente de um acúmulo de experiências em torno da leitura
Além disso, na maioria das vezes, os professores gastam tempo demais impondo aos alunos o que devem ler e como devem mostrar o que estão aprendendo com a leitura, monitorando o processo para certificar-se de que os alunos fizeram o que foi pedido – papel que coloca o professor, equivocadamente, como o principal motor do aprendizado.
Como o professor pode ajudar os alunos a se tornarem melhores leitores. Para se afastar desses papéis tradicionais, os professores têm de adotar novas estratégias. Abaixo, Courtney Rejent dá algumas dicas:
1. Observar: Para entender o que está motivando a relutância de cada indivíduo, os professores precisam retroceder e observar como o aluno interage com a leitura, o que diz sobre as abordagens dos docentes com a leitura e como ele se sente sobre isso para entender quais estratégias específicas funcionam ou não.
Os alunos não gostam de ler por muitas razões e diferentes estratégias funcionarão com crianças diferentes. Um aluno que articula o que ele tentou, o que não entendeu e no que ele precisa de ajuda está, por exemplo, sinalizando que está disposto a avançar. Isso é muito diferente de um aluno que evita ler completamente. Este quadro mais individualizado do leitor não virá de testes padrões. Dar feedback específico e ser positivo no início de um relacionamento com um aluno também é essencial. Quando essa dinâmica da sala de aula muda, os alunos começam a fazer coisas por si mesmos e não porque a professora pediu que fizessem.
2. Espelhar: É aí que os professores podem dar aos alunos um feedback orientado e construtivo, apontando quais estratégias eles usaram ou não e como estas impactaram o resultado final. A linguagem é muito importante neste ponto: é preciso pensar no feedback como uma narrativa, e não como um rótulo. Mesmo dizer algo simples como “eu gosto de como você fez uma previsão” pode indicar satisfação com os resultados. Descreva o que o leitor fez, ao invés de rotulá-lo. Dessa forma, se reconhece o esforço que eles despenderam.
3. Dar exemplos: Aqui é quando os professores podem mostrar para os alunos como usar estratégias que podem ajudá-los a melhorar. É o terceiro “movimento do professor” porque, antes que os professores possam efetivamente orientar, eles precisam ter uma noção do indivíduo-leitor e ter dado feedback sobre as estratégias já utilizadas. Pense nessa etapa como em um programa televiso de culinária onde são dadas dicas úteis e quando elas podem ser usadas. Se o professor perceber que muitos estudantes estão pulando palavras que não sabem, por exemplo, ele pode dar como modelo o que ele faz quando se depara com uma palavra que não conhece, em um exercício de leitura compartilhado.
Outra parte importante é ajudar os alunos a entenderem como transferir estratégias de leitura de um livro para o outro. Por exemplo, ao ler alto para os alunos, o professor pode, ao identificar um conflito na trama, parar e discutir com os alunos como esse conflito reflete todas as decisões que o personagem faz. Então, os alunos podem voltar para suas leituras independentes para praticar a mesma estratégia em um livro diferente.
4. Guiar: Quando um aluno está tentando usar uma nova estratégia, ele pode ter dificuldade. É quando o professor pode dar uma assessoria, como “tente ler esse trecho novamente”, ou “que outras palavras você conhece que têm nessa parte”. É crucial, no entanto, que os professores não façam todo o trabalho pelos estudantes. Quando os docentes ajudam demais, tiram do aluno o “aprendizado alto”, que advém do sentimento de compreender algo que não veio naturalmente.
Pode ser muito difícil deixar os alunos se esforçarem, mesmo quando sabemos que a habilidade está ao alcance do aluno. Então, três dicas podem ajudar. Primeiro, dê um passo para trás. Esse espaço é importante para lembrar que não é seu trabalho consertar isso. O professor também pode escrever a dificuldade em um caderno para, mais tarde, conversar com o aluno sobre. Isso dá permissão para se afastar no momento certo. Por fim, o professor pode nomear a dificuldade para o aluno. Por exemplo, “você está confuso sobre a ideia principal da trama.” Quando dita com empatia, a frase pode dar ao aluno um pequeno impulso na direção certa, mas sem resolver o problema por ele.
*Tradução de Thais Paiva