Como trabalhar mitos indígenas em sala de aula?

Publicado dia 28/09/2017

Apresentar outras culturas e realidades aos alunos sem sair da sala de aula pode ser um desafio. Quando essa cultura se refere à rica diversidade dos povos indígenas do Brasil, a complexidade é ainda maior.

Para Janice Thiel, doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em Literatura Indígena, os mitos que povoam a tradição dos povos ancestrais podem ser grandes aliados na hora de cumprir essa tarefa.

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“É interessante trabalhar a literatura indígena na escola porque ela promove o conhecimento da diversidade, da cidadania, ajudando a compreender o diferente, o outro”, afirma.

A Lei nº 11.645/08 estabelece que  o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena é obrigatório nas escolas públicas e privadas de Ensino Fundamental e Médio

A professora explica que os mitos indígenas são narrativas de tradição oral, passadas de geração em geração, que funcionam como um arquivo de conhecimento, documentando como aquela comunidade entende o mundo.

Nesta perspectiva, ajudam os alunos a perceberem diferentes realidades e como outros povos organizam a vida em sociedade.

“Os textos indígenas são construídos não apenas pela grafia, mas também pelas imagens, o que contribui para o trabalho na escola”, acrescenta.

A pedido do Centro de Referências em Educação Integral, Janice indicou estratégias e abordagens para trabalhar os mitos indígenas com os alunos, em diferentes etapas da Educação Básica, e selecionou obras que podem servir de apoio ou ponto de partida. Confira:

Mitos indígenas na sala de aula

Fundamental 1

Os mitos indígenas podem ser uma forma de começar a despertar os alunos mais novos para questões que envolvem a natureza, a relação com a terra e com os animais. Para a professora, a contação de histórias é a forma mais indicada para trabalhar o conteúdo no Ensino Fundamental 1.

Mitos indígenas são narrativas de tradição oral, passadas de geração em geração, que funcionam como um arquivo de conhecimento

Durante a atividade, é interessante comentar como uma mesma questão pode ser interpretada de várias formas.

Janice Thiel explica que na cultura não indígena a serpente, por exemplo, costuma aparecer como um símbolo do mau e representar coisas ruins. Já na tradição indígena, o animal pode aparecer nas histórias com um sentido positivo e ligado ao conhecimento.

Como os textos indígenas costumam ser acompanhados por ilustrações, trabalhar o mito a partir dessas imagens também é uma forma de levar certos temas para a sala de aula. “Isso vai fazer com as crianças percebam a diversidade cultural que convivemos no Brasil”.

Fundamental 2

No Fundamental 2, Janice Thiel sugere trabalhar não apenas histórias, mas também o gênero textual e a construção da narrativa. “O que é um mito para o indígena? O que eles estão tentando passar com esse texto? São algumas perguntas que podem ser feitas aos alunos”, diz.

Nesse momento, o professor pode apresentar a diferença de significado que o mito tem para indígenas e não indígenas. “Na nossa sociedade é uma narrativa fantasiosa, mas para eles esse relato tem um papel essencial. São narrativas verdadeiras que explicam as relações sociais e a organização do mundo”, explica Janice Thiel.

Além disso, é importante perceber como literatura, política, ideologia, cultura e linguística são pontos que se articulam e aparecem nos mitos de alguma forma, seja no título, imagem ou significado por trás daquele relato.

Ensino Médio

O Ensino Médio é o momento de propor atividades que trabalhem com o senso crítico do aluno. “Qual é a voz manifestada por esses povos nas histórias?”, sugere questionar.

A partir disso, o aluno deve perceber como as vozes presentes no texto mostram a resistência dos povos indígenas aos estereótipos e como os autores utilizam a literatura para reconstruir a identidade do seu povo.

“É possível refletir sobre como a literatura construiu a imagem dos índios no Romantismo e como essa imagem é construída de forma diferente na contemporaneidade com as obras indígenas”.

Também é interessante integrar a literatura indígena com outras matérias, como História, e sugerir aos alunos uma pesquisa sobre os povos que originaram aqueles mitos.

Janice Thiel listou cinco obras com diferentes mitos que podem ser trabalhados com os alunos:

Obras

  1. Como surgiu: mitos indígenas brasileiros – Daniel Munduruku
  2. Contos indígenas brasileiros – Daniel Munduruku
  3. As serpentes que roubaram a noite e outros mitos – Daniel Munduruku
  4. Coisas de índio – Daniel Munduruku
  5. A mulher que virou Urutau – Maria Kerexu e Olívio Jekupe

Escola

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