Coronel Fabriciano (MG) leva a educação integral para mais da metade de sua rede
Publicado dia 03/07/2015
Publicado dia 03/07/2015
A articulação em torno da educação integral começou em 2004 no município de Coronel Fabriciano (MG). As demandas locais, vinculadas à alta vulnerabilidade socioeconômica dos habitantes e à necessidade de se discutir estratégias de desenvolvimento para crianças e adolescentes foi o que motivou a aproximação a essa concepção. De início, foram feitos alguns encontros entre gestores públicos e comunidade – lideranças locais, igrejas, famílias e estudantes – para entender os reais desejos do território.
Para educar para o desenvolvimento integral dos indivíduos, o município precisou rever suas diretrizes políticas e entendê-las a partir de um contexto intersetorial, com envolvimento de pastas como Saúde, Esporte, Lazer e Assistência Social. O Plano Decenal Municipal de Educação (2006-2015) foi a primeira política a contemplar os arranjos da educação integral; em 2006, também foi consolidado o Programa de Educação Integral em Tempo Integral.
Na prática, essa experiência foi sendo delineada aos poucos. De início, chegou a apenas uma das escolas da rede, composta ao todo por 23 instituições. A Escola Municipal Otávio Cupertino dos Reis foi a primeira a receber o programa, justamente por estar inserida em um dos territórios que possuía problemas de diversas naturezas.
Antes de tudo, a proposta pedagógica teve que resistir a alguns enfrentamentos, para depois buscar se consolidar. Aumentar a jornada seria ter as crianças mais tempo na escola, condição que causava estranhamento nas famílias, devido à falta dessa cultura. A mudança também gerou incômodo no tráfico de drogas local que, muitas vezes, convocavam os jovens para tarefas.
Embora diante de algumas dificuldades, a equipe da Secretaria de Educação identificou naquele lugar um grande potencial para iniciar o programa. Além de promover palestras e diálogos com os atores da comunidade, se uniu às áreas de Assistência Social e Saúde para efetivar o trabalho. O Fórum Municipal da Saúde Mental da Criança – articulado por essas instâncias – teve um trabalho ativo com os estudantes, no sentido de entender possíveis dificuldades de aprendizagem, ou de outras naturezas, e então direcioná-los aos atendimento do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) ou Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas); também podiam fazer intervenção junto às famílias, se necessário.
Os testes in loco deram o embasamento necessário para que a proposta de educação integral pudesse ser oferecida para as demais unidades da rede. Porém, do ponto de vista financeiro, isso só foi possível com a adesão ao Mais Educação, programa do governo federal que, em 2009, trouxe a amplitude orçamentária e outras possibilidades de atuação a partir dos macrocampos.
O Programa de educação integral se consolida em 2010 por meio de uma portaria. De maneira gradativa e levando em considerando as demandas de implementação, a proposta foi sendo ampliada e hoje contempla 14 unidades escolares do território.
Enquanto desenvolviam a experiência piloto, os gestores públicos já iam inserindo as demais escolas na proposta. A estratégia utilizada foi promover momentos formativos com os diversos atores escolares – gestores, professores, merendeiros, responsáveis pela limpeza e segurança – para que eles pudessem entender quais mudanças a nova perspectiva pedagógica traria do ponto de vista dinâmico e também físico, já que as escolas teriam que receber esses estudantes por oito horas diárias.
Um dos grandes apoiadores desse percurso foi o TEIA – Territórios, Educação Integral e Cidadania – da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – que ofertou algumas formações que traziam aspectos importantes do arranjo integral, como a exploração do território, a abertura da escola, a participação da comunidade, entre outros.
A própria Secretaria também buscou ofertar oficinas, disponibilizar materiais formativos e permitir intercâmbio entre as escolas da rede – a Escola Otávio Cupertino dos Reis serviu como modelo – e também com unidades de outras cidades. Não há um modelo próprio da educação integral e cada escola pode praticá-la de acordo com a sua possibilidade e demanda. Há escolas da rede que integram o ensino regular à jornada ampliada, outras que a separam em turno.
Da mesma maneira, o currículo não se consolida como algo engessado, mas vivo, buscando dialogar com a realidade de cada instituição. Por algum tempo a rede contou com o apoio do professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Miguel Arroyo, para debater a perspectiva curricular. Esses momentos foram feitos junto com gestores e monitores.
A perspectiva de trabalho com o currículo também é dada pela escola, que conta com o apoio da Secretaria. Na rede, quatro escolas praticam o currículo integrado (com oficinas e disciplinas regulares mescladas), uma delas, inclusive, é uma unidade rural; as outras dez instituições praticam um currículo alternado, umas com a totalidade de alunos, outras parcialmente – os estudantes dos anos finais do ensino fundamental não estão totalmente inseridos na proposta, muitas vezes pelo exercício de alguma atividade no mercado de trabalho.
Para assumir a proposta da educação integral, as escolas acabaram por assumir novas identidades, o que passou pela própria estrutura física delas, que tiveram que atender a demandas concretas, como refeitórios para os estudantes poderem realizar, em média, quatro refeições ao dia; também foram necessárias quadras cobertas e espaço para atividades fora da classe. Para além das mudanças na estrutura física, as escolas também se abriram a novos atores que passaram a integrar essa proposta pedagógica.
A rede contempla, por exemplo, monitores que são estudantes de Pedagogia ou Educação Física do próprio município ou de cidades vizinhas. São eles que atuam com as oficinas oriundas dos macrocampos do Mais Educação, e também como acompanhamento pedagógico de estudantes dos anos iniciais, em que se fazem presentes processos de alfabetização e letramento.
Além deles, há os prestadores de serviços, sob responsabilidade da Prefeitura, que nada mais são do que profissionais de áreas específicas, tais como teatro, dança e música que ofertam a possibilidade de um conhecimento mais técnico aos alunos. Com caráter itinerante, esses profissionais são deslocados diariamente para uma das escolas da rede, garantindo a continuidade da ação em todas.
Todos esses atores atuam em conjunto para planejar as atividades e também avaliá-las do ponto de vista pedagógico e sistêmico. Os monitores, por exemplo, já tem destinadas 16 horas mensais em atividades e quatro em formação com a escola, sendo cada unidade responsável por formatar esse momento. De qualquer forma, o momento de coordenação coletiva sempre considera a presença de professores, monitores e prestadores de serviço.
Para além disso, a Prefeitura reserva uma agenda mensal com os coordenadores das escolas – cada unidade tem o seu. A ideia é que nesse momento se façam as trocas de experiências, se pontuem os formatos válidos e as diferenças. Essa mesma agenda é mantida com os prestadores de serviço que, por estarem “menos inseridos” no dia a dia escolar, podem contribuir com outro ponto de vista.
Início: de 2004 até os dias atuais.
Local: Coronel Fabriciano (MG).
Parceiros: grupos e instituições da comunidade.
Responsáveis: Secretaria Municipal de Educação
Financiamento: Secretaria Municipal de Educação; Mais Educação
Segundo os gestores do município, o percurso trilhado até então não foi fácil. Nesse sentido, eles elencam a integração curricular como um dos principais desafios justamente para que se fuja da lógica de “aumentar o turno por aumentar”. O comprometimento deve girar em torno da ampliação com qualidade.
Por outro lado, com o novo arranjo vivenciado, as escolas do território ganharam visibilidade, essencialmente pela forte presença da cultura permeando as atividades educativas. Hoje, as escolas garantem espaço nas principais apresentações culturais do município, evidenciando outras habilidades dos estudantes.
A proposta de educação integral promoveu algumas ressignificações no território: entre as escolas, que além de se reconhecerem como espaço formador, se viram constituintes de uma rede, o que fortaleceu os intercâmbios entre as diversas unidades; entre os alunos, que viram, a partir da expansão do turno, uma oportunidade de explorar outros conhecimentos e possibilidades formativas; entre os familiares, que entenderam o papel educador das escolas frente a questões de desigualdade do território.
Contato:
Prefeitura Municipal de Coronel Fabriciano
Fone: (31) 3846-7010