Conheça a primeira escola de educação integral e jornada estendida de Tremembé (SP)
Publicado dia 05/06/2019
Publicado dia 05/06/2019
“Eu adoro vir para a escola por causa das aulas misturadas.” É assim que Pedro, de 8 anos, descreve sua escola, a primeira de educação integral com jornada estendida da cidade de Tremembé, em São Paulo.
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A EMEF José Inocêncio Monteiro, que existe há mais de 40 anos, passou por reformas em sua infraestrutura e currículo e, desde abril, recebe diariamente 152 crianças de Ensino Fundamental I durante oito horas.
Neste período, os estudantes aprendem os conteúdos curriculares, como Português e Matemática, mas partindo da educação integral e as novas metodologias de ensino-aprendizagem, o fazem por meio de projetos, trabalhos em grupos, das linguagens das infâncias e do território local.
Mas nem sempre foi assim. Antes, as aulas eram separadas em turnos: com a grade curricular pela manhã, e oficinas, aulas de hip hop, violino, xadrez e práticas de esportes opcionais à tarde. Esse formato segue dessa maneira para os alunos do Fundamental II, mas já há planos de transformá-lo também.
“Os alunos falavam que tinham as aulas chatas pela manhã e as aulas legais à tarde. Mas, agora estamos conseguindo mesclar os conteúdos e formatos de todas as aulas. As famílias estão adorando, as crianças estão gostando de ficar na escola, e aprendendo com mais facilidade”, conta o diretor da escola, Pedro Nunes da Silva.
Parte desta conquista se deve a contratação de professores com dedicação exclusiva, e que portanto conseguem desenvolver um trabalho mais completo e conectando diferentes disciplinas.
“Nossos professores têm, em horário de trabalho, momentos designados para planejar suas aulas, dialogar com outros profissionais da escola e um momento de estudos”, diz Cássia Dias, coordenadora pedagógica da escola.
A mudança é fruto da revisão curricular pela qual Tremembé passa. Desde 2018, no ensejo da aprovação da Base Nacional Comum Curricular, a Secretaria Municipal de Educação decidiu implementar a educação integral em suas 17 escolas.
Trabalhando em parceria com o Centro de Referências em Educação Integral, gestores, coordenadores e professores têm passado por formações e reestruturado os currículos da rede e das escolas.
“Estamos em momento de transição a partir da BNCC. Ainda trabalhamos coisas da diretriz antiga, mas o plano trimestral das professoras já traz temas geradores, componentes curriculares articulados de maneira interdisciplinar, e fazemos planejamento reverso”, explica a coordenadora pedagógica.
A 130 km da capital paulista, Tremembé fica na região metropolitana do Vale do Paraíba, e é habitada por 45 mil pessoas. Parte delas está lá temporariamente, acompanhando algum familiar preso em uma das sete penitenciárias da região. Por isso, diz-se que é uma cidade transitória – realidade que a escola não ignora.
“Nós temos o Projeto de Vida, em que trabalhamos a autoestima dos alunos, e mostramos que existem outras coisas aqui para além dos presídios. Assim, saímos pela nossa cidade e as do entorno, para ampliar os horizontes”, explica Pedro.
Outro assunto abordado na escola é a rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, que corta Tremembé e leva a Campos do Jordão. Muito movimentada nos meses mais frios, e portanto mais perigosa, a rodovia foi escolhida como tema gerador de estudos para este ano.
De maneira interdisciplinar e envolvendo também outros atores da comunidade, como agentes de trânsito, os professores trabalham temas relacionados – acidentes, notícias e até lendas que rondam a rodovia.
A maneira de organizar as salas também começou a ser alterada. A coordenadora pedagógica explica que, de acordo com a aula, os professores formam rodas, duplas, grandes grupos, ou levam as crianças para fora da escola.
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“Estamos começando a desconstruir o modelo de deixar um aluno atrás do outro, para que nenhuma criança fique invisível, e porque queremos quebrar com o costume de um professor que sabe tudo na frente falando e o aluno escutando. Já percebemos que alterar esse formato promove mais diálogos igualitários e aprendizagem entre pares”, diz Cássia.
Promover todas essas mudanças não é possível sem uma gestão democrática. É preciso que professores confiem nos gestores para inovar, que as famílias apoiem esse processo, e que se construa uma escola em conjunto.
“Começamos a trazer a comunidade para participar da escola, com muito trabalho e conversa. Deixamos a porta da direção sempre aberta para alunos e familiares conversarem com a gente sempre que quiserem”, afirma Pedro Nunes.
Para Cássia, o principal benefício da escola de educação integral e jornada estendida é promover a formação integral do aluno. “Quando trabalha de uma maneira integral, você consegue enxergar seu aluno todo, e não mais de forma fragmentada.”
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