Como uma escola de São Paulo ensina sobre sustentabilidade na prática
Publicado dia 22/11/2019
Publicado dia 22/11/2019
A EMEF Teófilo Benedito Ottoni, localizada no bairro do Butantã, em São Paulo (SP), fez de uma praça, de um parque e a da comunidade Vila Nova Esperança suas novas salas de aula.
Leia + Guia apresenta metodologia para educação integral no território
A vontade de olhar para o território e encontrar nele oportunidades educativas era antiga.
Foi em 2002 que a direção e os professores começaram a se envolver com uma área até então chamada Fazenda Tizo (hoje Parque Jequitibá) quando o local passou por uma série de disputas judiciais e permaneceu fechado até 2006.
Por meio da luta das escolas e da comunidade, o governo autorizou a criação do parque, mas não deu início às reformas necessárias para que ele funcionasse adequadamente. Ainda assim, a escola aproveitava para fazer passeios, aulas e piqueniques no espaço.
Em 2010, o parque foi novamente fechado e a Teófilo Benedito Ottoni tornou a mobilizar organizações da sociedade civil e outras 15 escolas da região para pedir que as reformas fossem feitas, e o local reaberto – o que só aconteceu em julho de 2019.
“Nós criamos a rede de educação ambiental, para trocar experiências e práticas pedagógicas entre nove escolas e estimular que o parque esteja sempre ocupado pelos alunos, para mantê-lo como um espaço de pesquisa científica e estudos pedagógicos”, diz a professora Arlete Borba da Silva, coordenadora dos projetos de sustentabilidade da escola.
Com a reabertura, a EMEF retomou os trabalhos no parque. A primeira etapa consistiu em levar cada uma das turmas ao local e apresentá-lo às crianças, começando assim um processo de sensibilização. Acompanhada de 20 alunos, elegidos como monitores da sustentabilidade, a professora conduz cada uma das turmas, pedindo que eles prestem atenção nos sons, sintam as variações de temperatura e observem as plantas e insetos.
“Nós vamos devagar, apresentando a natureza, e mostrando a importância da sua preservação e deste espaço. E o mais interessante é que as famílias têm vindo aqui no final de semana, e a comunidade tem descoberto – isso ajuda a defender o espaço”, conta Arlete.
Atrás da escola há uma área verde que ocupa meio quarteirão, e era tomada por uma grama que atingia 2 metros de altura e servia como depósito de entulho e lixo. Com o intuito de mostrar para as crianças que elas também têm responsabilidade na preservação ambiental, a professora uniu alunos, famílias e moradores do entorno para revitalizar o espaço e cobrar da Prefeitura uma poda mais frequente, a remoção dos entulhos e a instalação de lixeiras.
Hoje, a praça serve para observação das espécies de plantas e de bichos, realização de gincanas e apresentações de teatro. Mensalmente, os alunos também se mobilizam para recolher o lixo que eventualmente ainda jogam por lá.
O grupo também planeja pintar os muros que cercam um dos lados da praça, e fazer uma horta comunitária. “Agora eles aprender a cuidar do lugar onde eles moram, e depois vão ampliar isso para a cidade, o país e o mundo.”
Vizinha ao Parque Jequitibá está a comunidade Vila Nova Esperança, onde vivem cerca de 600 famílias, e que se constituiu como um modelo de sustentabilidade, inovação e tecnologia social.
Assim, a EMEF e a Vila Nova Esperança firmaram uma parceria para construírem a horta na praça atrás da escola, desenvolver um centro de educação ambiental no parque, e promover encontros educativos e brincadeiras entre as crianças da escola e da comunidade. A escola também vai aproveitar a oportunidade para debater as questões sociais, históricas e políticas da ocupação dos espaços no país e a desigualdade social.
Para garantir a continuidade de projetos que olhem para questões do território, a escola vai incluir essa missão em seu projeto político pedagógico e continuará formando os professores recém-chegados na concepção de educação integral.
“A proposta de qualquer escola começa por olhar para os problemas que vemos ao nosso redor. A escola não está isolada da sociedade, estamos em um bairro, que tem problemas e cabe à escola olhar para eles. Se não conectarmos a escola à vida, ela fica obsoleta”, diz Arlete.