publicado dia 19/07/2019
Quem são os pensadores sobre inovação em educação
Reportagem: Da Redação
publicado dia 19/07/2019
Reportagem: Da Redação
O desenvolvimento e a presença cada vez maior da tecnologia na sociedade têm provocado algumas mudanças nas práticas pedagógicas e no processo de ensino e aprendizagem em todo mundo. Mas não é de hoje que o tema permeia as discussões de especialistas, educadores e organizações sociais preocupadas com o futuro da educação.
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Educadores brasileiros fundamentais para compreender a educação integral
Um dos primeiros educadores a reconhecer o impacto transformador da tecnologia no modo como as pessoas aprendem, trabalham ou se divertem foi Seymour Papert. O matemático, que nasceu em Pretória, África do Sul, em 1928, foi um pioneiro ao considerar o uso do computador como uma ferramenta educacional.
Contemporâneo e estudioso do psicólogo suíço Jean Piaget, Papert também estabeleceu fortes diálogos com o educador brasileiro Paulo Freire e foi inspiração para muitos modelos de aprendizagem que existem atualmente, como o ensino de programação para crianças e jovens e a visão do aluno como um indivíduo capaz de construir conhecimento.
De acordo com o Movimento de Inovação na Educação (MIE), uma iniciativa da Associação Cidade Escola Aprendiz, Ashoka e Fundação Telefônica Vivo, inovar na educação é pensar novos conceitos, estruturas e metodologias para o ensino-aprendizagem, buscar diminuir as desigualdades sociais, desenvolver os alunos de forma integral, pensar o processo educativo de forma coletiva e dialógica e, acima de tudo, oferecer educação de qualidade.
Além de Seymour Papert, pensadores de diversas áreas do conhecimento se dedicaram a pensar modelos educacionais mais alinhados com as rápidas mudanças da sociedade. O trabalho deles, materializado em livros e artigos científicos, inspirou aquilo que até hoje é pensado como inovação em educação.
Veja a seguir algumas das maiores referências no assunto e que podem estimular, provocar e fazer refletir sobre como é possível desenvolver práticas pedagógicas inovadoras dentro e fora da sala de aula.
O filósofo e pedagogo estadunidense John Dewey (1859-1952) foi o inspirador do Escola Nova, um movimento pela renovação do ensino que alcançou países na Europa, América do Norte e no Brasil – neste caso, liderado pelo educador Anísio Teixeira.
Algumas das ideias mais inspiradoras de Dewey foi o modelo de ensino-aprendizagem, que percebe o aluno como protagonista de seu processo de educação, além de sua proposta de desenvolvimento integral do indivíduo, levando em consideração aspectos físicos, emocionais e intelectuais. Para o pedagogo, tão importantes quanto atividades cognitivas, era o desenvolvimento de habilidades manuais e criativas.
Dewey também tinha como preocupação a relação indissociável entre teoria e prática e acreditava que o conhecimento era construído de forma coletiva, por meio do compartilhamento de experiências.
Para saber mais, nas obras: A escola e a sociedade (1899) e Democracia e educação (1916)
Maria Montessori
As teorias, práticas e materiais didáticos desenvolvidos pela pedagoga, educadora e primeira mulher a se formar em medicina na Itália, Maria Montessori (1870-1952), ficaram conhecidos como Método Montessori e inspiram as metodologias de muitas escolas no Brasil e no mundo.
A metodologia é baseada em seis pilares: autoeducação, educação como ciência, educação cósmica, ambiente preparado, adulto preparado e criança equilibrada. Busca o desenvolvimento da criança levando em consideração as diferentes épocas de sua vida e quais são as necessidades e comportamentos específicos de cada fase.
Para Montessori, a formação escolar transcendia o acúmulo de informações: era necessário formar integralmente os jovens, oferecendo uma educação para a vida. A pedagoga também apostava na individualidade e liberdade do aluno, pensando nele como sujeito e objeto do ensino, simultaneamente.
Para saber mais: A descoberta da criança: pedagogia científica: a (1909) e Formação do homem (1949).
O pedagogo francês Célestin Freinet (1896-1966) foi um dos fundadores da Escola Moderna, um movimento de renovação na educação que surgiu nas primeiras décadas do século XX na França.
Em sua visão, as escolas tradicionais eram fechadas, tinham uma postura enciclopédica e não davam atenção aos interesses e prazeres fundamentais das crianças. Sua proposta, então, era do papel da escola como um importante elemento de transformação social, como um espaço democrático, livre de contradições sociais e que não marginalize crianças pela classe social.
Freinet é autor das propostas das aulas-passeio (estudos de campo), dos cantinhos pedagógicos (uma forma de estimular o aprendizado por meio de brincadeiras) e da troca de correspondências entre as escolas(socialização de informações e conhecimentos entre os alunos).
Para saber mais: Pedagogia do bom senso (1946) e As técnicas Freinet da escola moderna (1964)
A gênese do conhecimento, sua evolução até a adolescência humana, passando pelo desenvolvimento cognitivo e as formas como os indivíduos apreendem o mundo, foram os principais temas de pesquisa de Jean Piaget (1896-1980).
O biólogo e psicólogo suíço debruçou seus estudos principalmente sobre a forma como as crianças constroem o conhecimento, levando em consideração aspectos cognitivos, morais, sociais, afetivos e linguísticos da aprendizagem, fundando aquilo que chamou de epistemologia genética.
Suas descobertas evidenciaram que a transmissão de conhecimentos, no sentido professor-aluno, é limitada e, por isso, educar seria estimular as crianças a procurar o conhecimento, favorecendo sua atividade mental.
Para saber mais: Nascimento da inteligência na criança (1970) e Para onde vai a educação? (1971)
Outro psicólogo que é referência nos estudos de inovação em educação é o bielo-russo Lev Vigotski (1896-1934). Apesar de sua vida curta, faleceu aos 37 anos vítima de tuberculose, teve uma importante contribuição para a reflexão sobre o desenvolvimento intelectual de crianças, associando-o às interações sociais e condições de vida dos indivíduos.
De acordo com Vigotski, para que o aprendizado ocorra, sempre existe algo que faz a mediação da relação do sujeito com o mundo, o que ele chamou de aprendizagem mediada. Atuam como elementos mediadores os instrumentos que podem ser objetos, por exemplo, e o signo, que é humano. O educador é um exemplo de intermediário entre o aluno e o conhecimento.
Vigotski, inclusive, foi leitor da obra de Piaget e escreveu um prefácio em um dos livros dele, estabelecendo pontos de convergência e divergência com o psicólogo suíço.
Para saber mais: Pensamento e linguagem (1934) e Imaginação e criação na infância (1930)
O psicólogo nasceu nos Estados Unidos e marcou oposição às visões e práticas dominantes nos consultórios e escolas da época. Carl Rogers foi fundador da terapia não-diretiva, que é centrada no indivíduo e, por isso, preferia pensar que tinha clientes no lugar de pacientes, pois cabia a quem era atendido no consultório o sucesso do tratamento.
Suas contribuições ultrapassaram seu campo de formação e influenciaram também a educação. Era dessa mesma forma que ele entendia a relação entre professor e aluno: ao educador cabia a tarefa de facilitar o aprendizado, que é conduzido pelo estudante de forma própria.
Para que essa relação se estabeleça, três qualidades são demandadas: congruência (ser autêntico com o aluno), empatia (compreender seus sentimentos) e respeito.
Para saber mais: Terapia Centrada no Cliente (1951) e Tornar-se Pessoa (1961)
Por meio da Lei 12.261/2012, Paulo Freire (1921-1997) é considerado o patrono da educação brasileira e é o terceiro pensador mais citado em trabalhos acadêmicos em todo o mundo, segundo levantamento do Google Scholar.
O educador desenvolveu uma metodologia de alfabetização de adultos que ficou conhecida como Método Paulo Freire, alfabetizando cerca de 300 cortadores de cana de Angicos (RN) durante 45 dias. Assim, na perspectiva de Freire, a educação tem como missão conscientizar o aluno, fazendo com que indivíduos entendam sua situação dentro da sociedade e atuem para conquistar sua libertação.
O educador era crítico daquilo que chamava de “educação bancária”, que ocorre quando o professor e aluno estabelecem uma relação vertical, em que um deposita no outro o conhecimento, respectivamente.
Para saber mais: Pedagogia do oprimido (1968) e Educação como prática de liberdade (1967). Conheça ainda o Guia definitivo da obra de Paulo Freire
As contribuições de John Dewey, Maria Montessori, Célestin Freinet, Jean Piaget, Lev Vigotski, Carl Rogers e Paulo Freire continuam inspirando quem pensa e produz conhecimento sobre o campo da inovação em educação. Eles são importantes referências para autores contemporâneos que acrescentaram mais um elemento às propostas de inovação em educação: a tecnologia.
Além de Saymour Papert, conheça autores de diferentes áreas que auxiliam no embasamento da produção teórica e prática de inovação em educação mediada pela tecnologia.
O espanhol é considerado um dos principais estudiosos da era da informação e das sociedades conectadas em rede. Doutor em sociologia pela Universidade de Paris, é professor e autor de dezenas de livros, com destaque para a trilogia A era da informação, composta por A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio.
Pierre Lévy
Mestre em História da Ciência e Ph.D. em Comunicação e Sociologia e Ciências da Informação, Pierre Lévy é um dos mais importantes defensores do uso do computador, em especial da internet, para a ampliação e a democratização do conhecimento humano. Suas pesquisas concentraram-se especialmente na área da cibernética e da inteligência artificial.
Criador da linguagem de programação Scratch, é professor de Pesquisas Educacionais do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Lá, desenvolve novas tecnologias e atividades para envolver principalmente crianças nas suas experiências criativas. Além disso, ele é responsável pelo programa Lifelong Kindergarten, em tradução livre: Vida longa ao Jardim de Infância.
Texto originalmente publicado no site da Fundação Telefônica Vivo
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