publicado dia 17/04/2019

Programa de educação integral para crianças impulsiona criatividade e curiosidade

Reportagem:

*Publicado originalmente no site do Porvir.

A melhoria da qualidade do atendimento na educação infantil pode fazer com que as crianças cheguem ao ensino fundamental com mais de um ano meio à frente no desenvolvimento de sua curiosidade e criatividade, em comparação com colegas de perfil sociodemográfico semelhante. Essa é uma das conclusões apresentadas no relatório de avaliação de impacto do programa Paralapracá, do Instituto C&A e da ONG Avante, que oferece formação continuada em redes municipais com foco na educação integral das crianças.

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Para contribuir com o desenvolvimento das crianças em todas as suas dimensões, o programa oferece formação em caráter presencial e a distância com atividades que giram em torno de seis eixos: Assim se Brinca, que valoriza o brincar como forma de aprender; Assim se faz Artes Visuais, que foca na experimentação e ampliação do repertório das crianças por meio das artes visuais; Assim se faz Música, que promove a experimentação pelo universo da música; Assim se faz Literatura, que valoriza a leitura de livros e a contação de histórias para enriquecimento do repertório das crianças; Assim se Explora o Mundo, que promove interação com o meio natural e social; e Assim se Organiza o Ambiente, que discute o espaço físico e a organização do ambiente escolar.

“O programa Paralapracá tem basicamente três intenções: construir uma educação pública de qualidade para todos por meio de formação, produzir materiais de qualidade e estabelecer um diálogo permanente com a comunidade. Não são coisas novas, mas o problema é que elas não são feitas”, explica Maria Thereza Marcilio, presidente da ONG Avante. As atividades são centradas na figura do coordenador pedagógico para que ele atue na formação dos professores da instituição. “Ele deve criar um ambiente de aprendizagem coletiva, observar a prática e trazer bibliografias para fundamentar as práticas. Por isso, ele está no centro, até porque seria impossível formar professores em escala”, destaca.

Para avaliar o impacto do programa, que teve início em 2010 e, desde então, chegou a dez municípios, em dois ciclos de implementação, o relatório entrevistou 200 responsáveis por alunos que estudaram em escolas que receberam formações do Paralapracá e outros 200 responsáveis de alunos de escolas que não passaram pelas formações mesmas regiões. No total foram visitadas 24 escolas distribuídas em cinco redes participantes: Olinda (PE), Natal (RN), Maceió (AL), Camaçari (BA) e Maracanaú (CE).

A avaliação teve como base um instrumento desenvolvido pelo Telethon Kids Institute, da Austrália, que funciona como um índice capaz de gerar métricas para o desenvolvimento infantil de forma holística. Com foco em crianças de 3 a 5 anos, ele captura aspectos nas seguintes dimensões: comunicação verbal; abordagens à aprendizagem; numeração e conceitos; leitura; escrita; conhecimento cultural; habilidades socioemocionais; perseverança; saúde física.

Os resultados são medidos segunda a percepção de pais e mães ou cuidados por meio de um questionário composto por 58 perguntas de respostas fechadas (sim ou não), além de duas perguntas sobre peso e altura da criança. Todas as respostas são convertidas em uma pontuação com valores que vão de zero a um, sendo que quanto mais próximo de um, maior é desenvolvimento infantil.

Ao comparar crianças com perfil sociodemográfico semelhante, a avaliação demonstrou que o programa Paralapracá teve impacto significativo na competência “abordagens à aprendizagem”, que está associada à adaptabilidade e à capacidade de “aprender a aprender”, incluindo o nível de abertura a novas experiências, curiosidade e criatividade.

Em comparação com outro estudo de maior abrangência, que também utilizou o teste EHCI, desenvolvido pelo Telethon Kids Institute, as crianças de escolas que receberam formações do Paralapracá apresentaram um avanço significativo na competência “abordagens à aprendizagem”. Em comparação com a média nacional, elas chegam ao ensino fundamental com um ano e meio de vantagem no desenvolvimento de curiosidade e criatividade.

Ao analisar resultado e o impacto do programa no desenvolvimento de curiosidade e criatividade, para que isso não se perca ao longo da trajetória escolar em detrimento do conteúdo, Maria Thereza afirma que deve existir um diálogo entre a educação infantil e o ensino fundamental. “O que acontece é uma tentativa do ensino fundamental de cercear a educação infantil no sentido de dizer que as crianças têm que chegar lendo e escrevendo, que alguns brincam muito. Mas já existe no mundo inteiro um esforço de entender que brincar é a forma mais natural para a criança se expressar”, pondera.

Além de apresentar melhora no indicador relacionado à adaptabilidade e à capacidade de aprender, a avaliação também demonstrou que o programa contribuiu para a aprendizado inicial de português e matemática das crianças com mães de baixa escolaridade. “Nós ficamos agradavelmente surpresos que justamente as crianças que mais precisam são as mais beneficiadas. Crianças que vêm de lugares mais vulneráveis, com pais de baixa escolaridade e foram os que mais aproveitaram”, afirma.

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