publicado dia 24/01/2019

Projeto cria espaços verdes nas cidades para incentivar o brincar na natureza

por

Por Cecília Garcia, do Cidades Educadoras

Quando pequeno, Robin C. Moore vivia em Sevenoaks, cidade inglesa cercada por uma grande área verde. Seu espaço de aprendizado se dava correndo e brincando nas matas próximas. Para o ainda futuro arquiteto, esses anos seriam determinantes na sua maneira de ver o desenvolvimento das crianças como somente possível se feito em uníssono com a natureza e o brincar livre.

Leia +: Como o brincar na natureza estimula o desenvolvimento das crianças

Com uma carreira dedicada à natureza como direito da infância, o caminho de Robin cruzou com o da psicoterapeuta Nilda Cosco, argentina nascida em Rosário, município referência em práticas em consonância com uma cidade educadora. Em 2000, os dois criaram o Natural Learning Initiative (NLI), organização especializada em projetar espaços ao livre e que funciona na NC State University, na Carolina do Norte (EUA).

Trabalhando com escolas, museus, praças e espaços urbanos, o instituto se fundamenta em quatro pilares: a assistência para comunidades, design participativo de projetos, formação de profissionais na área de educação e arquitetura e pesquisa.

“O instituto possui uma dedicação ao humano e ao natural. Na parte do meio ambiente, ele se concentra no mundo natural em situações urbanas, pensando em como se pode melhorar a biodiversidade de espaços onde crianças e famílias passam a maior parte do seu dia. E aí que entra a parte humana: ao fazer isso, estamos expondo-as à beleza e ao entendimento do mundo natural, para que cresçam cidadãos que entendem a importância de cuidar do planeta para futuras gerações”, explica Robin.

Esverdeando espaços com participação social

Richard Louv, autor do livro “A Última Criança da Natureza” e parceiro do NLI, declara em sua obra que “natureza e tempo são um binômio inseparável”. Para que crianças se desenvolvam de maneira saudável, é necessário, no entanto, de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 12 m² de área verde. Em São Paulo, esse índice não passa de 2,6 m².

“No Brasil, nos Estados Unidos, o problema é sempre o mesmo: não somente a falta de espaço, mas a possibilidade de usá-lo. Seja um grande pátio ou um pedaço verde na rua, os ambientes externos têm o poder de atrair as crianças. Mas trabalhá-los é fazer com que elas se desconectem da cultura da tela”, explica Nilda, coordenadora de programas do NLI.

“No Brasil, nos Estados Unidos, o problema é sempre o mesmo: não somente a falta de espaço, mas a possibilidade de usá-lo”, diz Nilda Cosco

Um dos projetos que exemplifica a “naturalização de espaços”, como Nilda classifica o design operado pela NLI, são os pátios das escolas Montessori, na Carolina do Norte e em Nova York. Neles, foram concebidos os “ambientes preparados” (prepared environment), isto é, áreas facilitadoras da exploração e aprendizado com a natureza.

As mudanças demonstram como escolhas arquitetônicas e paisagísticas são decisivas para aproximar a criança da natureza: espaços fluidos e com divisões pouco aparentes entre natureza e arquitetura; caminhos curvos e ladeados de verde; áreas abertas onde possam acontecer aulas; atividades lúdicas ou simplesmente o brincar e o descanso; estruturas como casas de árvore e escorregadores conectados com a natureza, onde a fauna e flora locais revelam potencial pedagógico.

Nilda pontua que, mais do que a biodiversidade, o principal componente desses labirintos verdes é a participação dos agentes das comunidades, que escolhem e orientam os projetos. “O foco é no design participativo, para que as pessoas engajadas vejam valor no que estão fazendo e se apropriem disso. Crianças, parentes, doadores e escola trabalham juntos, participando de atividades como workshops de design.”

crianças em horta ao livre em Montessori

Um dos espaços ao ar livre das escolas Montessori / Crédito: Facebook

O brincar como aprendizado e saúde

A defesa do brincar livre como aprendizado e sua associação com um desenvolvimento saudável são bandeiras defendidas pelo NLI. “Especialmente para as crianças pequenas, brincar é aprender. É um aprender não formal, ou como gostamos de chamar aqui, de ‘aprender tacitamente’ com as experiências. Crianças aprendem fazendo, olhando outras, explorando a natureza. É um grande desafio mostrar aos educadores que eles não precisam continuar instruindo tanto, e sim, deixar as crianças livres”, relata Robin.

Um dos projetos que será apresentado em Cascais e que reflete essa preocupação com o brincar para além do ato lúdico é o POD (Prevenindo Obesidade pelo Design). Aliando saúde, ocupação urbana e design, o instituto se alia com políticas públicas de Saúde para remodelar espaços ao ar livre, ajudando na prevenção da obesidade infantil nos Estados Unidos – que atinge quase 20% da população, segundo o CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

mapa de um dos projetos POD do natural learning institute

Planta de um dos projetos do POD / Crédito: Site do NLI

Aumentar o espaço verde para as crianças como prática de prevenção à obesidade, segundo Robin e Nilda, aumenta o nível de atividade física das crianças, o tempo passado no lado externo, e também a proximidade com uma alimentação saudável, tornando-as atentas aos processos de crescimento de vegetais e frutas.

“Mais do que um projeto, o POD é uma estratégia que pode criar modelos de política pública não somente nos Estados Unidos, mas em outros espaços no mundo”, finaliza o arquiteto.  

Como o brincar com a natureza estimula o desenvolvimento das crianças

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.