Casa das Expedições busca desenvolvimento integral de crianças e adolescentes abrigados
Publicado dia 16/09/2013
Publicado dia 16/09/2013
Iniciativa: Saica (Serviço de Acolhimento Institucional Para Criança e Adolescente) – Casa das Expedições
Pública ou Privada: Pública com parceria do 3º setor
Descrição: Nos anos de 1990, o Brasil viveu o nascimento de políticas sociais voltadas exclusivamente para crianças e adolescentes. Nada mais justo, uma vez que estas também são pessoas dotadas de opinião e de saber. Promulgado em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um dos marcos da legislação brasileira na tentativa de respeitar os direitos desses sujeitos. Nesse período, nasceram muitos espaços com foco nos direitos da criança e do adolescente. Exemplo disso são os abrigos, que servem como acolhimento de jovens que, por algum motivo, estão em situação de rua ou em vulnerabilidade social.
No Bairro do Limão, zona norte da cidade de São Paulo, um abrigo tem feito a diferença pela região. Trata-se da Casa De Expedições, instituição que vem desenvolvendo um trabalho com crianças e adolescentes em situação de rua e/ou vulnerabilidade social desde 2005.
O principal objetivo da iniciativa é fazer com que os meninos e meninas que lá chegam tenham consciência de sua história. Para isso, o espaço utiliza como estratégia de trabalho, o resgate da memória do adolescente por meio do projeto nomeado de “Expedições de Mim”, que segue três premissas: o passado, o presente e o futuro. O passado serve como elemento de resgate da história do adolescente, que é convidado a recuperar e perceber sua história, de sua família, fazendo-o entender como chegou até o abrigo. O tempo presente é utilizado para que o sujeito entenda o porquê de estar naquele lugar. Já a palavra futuro aparece como linha condutora para o jovem pensar como, a partir de sua história e de seu momento atual, ele pode traçar seu futuro e planejar seus projetos de vida.
Para a diretora da instituição, Valéria Pássaro, a ideia do projeto é apoiar o educando a se compreender como um sujeito de direitos. Ela conta que muitos deles passam por instituições que acabam os considerando apenas objetos do serviço prestado.
O PPP da organização tem como referências diversas experiências e autores em Educação Integral. Entre eles, a Summerhill, Comunidade Enfance, a Escola da Ponte (Portugal), e educador Paulo Freire, o psicanalista argentino Pichòn-Riviere, o psicanalista Donald Winnicott e os filósofos Michel Foucault e Edgar Morin.
Todas as ações da Casa são baseadas em um Projeto Político Pedagógico (PPP) construído a partir das demandas dos próprios jovens atendidos pelo serviço. Dentre as estratégias, destacam-se as assembleias gerais, os grupos de escuta por gênero (espaços para meninos e meninas separadamente), as expedições culturais e ambientais e também o Projeto Baobá, que é um diagnóstico realizado junto às famílias dos atendidos para compreensão e acompanhamento da trajetória individual de cada um dos atendidos pela casa. Todos os educandos frequentam escolas públicas, porém, a organização informa que ainda há dificuldade da escola em lidar com os jovens, que muitas vezes voltam da aula desmotivados por apresentarem defasagem na apreensão dos conteúdos curriculares.
O projeto nomeado expedição cultural nasceu de questionamentos dos próprios adolescentes sobre espaços da cidade. Assim, foi realizado um mapeamento colaborativo dos espaços que eles já frequentavam e daqueles que eles ainda não tinham acesso. Foi criado, então, um mapa de espaços culturais e artísticos que os meninos poderiam conhecer, com um objetivo de reaproximá-los da sociedade.
A partir do mapeamento cultural, os estudantes passaram a questionar também elementos ambientais da cidade. Disso culminou uma espécie de expedição ao Rio Tietê (SP), na qual realizaram uma navegação que ultrapassou os limites da capital paulistana, pesquisando onde estava a nasceste e afluentes desse rio. A partir dessa atividade, a Cada das Expedições passou a planejar atividades fora do estado, levando as crianças e adolescentes a conhecer outros territórios e modos de vida. Até o momento, os educandos já visitaram comunidades quilombolas, comunidades pesqueiras do Pantanal, interior de Minas Gerais, entre outros. As viagens duram em média 15 dias e têm como principal fundamento a pesquisa histórica a partir da ação prática.
Há uma equipe que realiza o acompanhamento das famílias de todos os 20 jovens atendidos, com o intuito de entender o histórico familiar e contextualizar a razão de seus filhos terem ido para o abrigo. Durante esse monitoramento junto às famílias, foi possível aplicar uma pesquisa da própria organização que aferiu que, de total das famílias que têm filhos no abrigo, 100% são afrodescendentes, 80% são semianalfabetos, 80% são migrantes, 90% deles vivem em áreas de risco e 70% já estiveram por algum tipo de abrigo ou penitenciária.
Para a direção, ao buscar entender o porquê do abandono, a Casa entendeu que as famílias haviam sido “abandonadas” muito antes de abandonarem seus filhos.
A maioria dos jovens atendidos chegavam à Casa medicados por receituário especial, porém, esses remédios eram receitados sem um entendimento prévio do contexto social e afetivo daquele adolescente. Para diminuir o uso desses remédios, a organização realizou uma série de parcerias com universidades de São Paulo, no intuito de promover o acompanhamento psicológico desses jovens de forma contínua, o que resultou no fim da medicalização de boa parte deles.
Início e duração: Desde o início em 2005 até os dias de hoje.
Público atendido: 20, entre meninos e meninas de 11 a 18 anos, da Zona Norte de São Paulo (SP).
Local: Bairro do Limão, zona norte de SP.
Responsáveis: Casa das Expedições
Envolvidos e parceiros: A Casa das Expedições é uma das Casas Taiguara, que trabalha com acolhimento desde 1996. Além disso, possui parceria com universidades, Secretaria da Habitação, Poder Judiciário, Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), entre outros.
Financiamento: A Secretaria de Assistência Social é o único financiador direto e permanente do espaço. Portanto, para a realização dos projetos diferenciados, apenas o recurso oferecido pela Secretaria não é suficiente. Assim, a organização busca se inscrever em editais públicos de financiamento e traçar parcerias com outras organizações. Atualmente, recebe financiamento também do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (Fumcad) na realização do projeto de acompanhamento com as famílias.
Além de muitos deles saírem dos abrigos autônomos, estudando e trabalhando, há um número significativo que volta para suas famílias de origem. Segundo a direção, aumentou a presença e participação das famílias no serviço e também nas reuniões escolares e acompanhamentos de saúde. As famílias se constituíram em grupo solidário com ações de ajuda mútua e os resultados desta convivência acolhida contribuiu para a harmonização nas relações entre meninos e meninas, profissionais, serviço e familiares.
A Casa também aferiu que houve maior inserção dos jovens atendidos no mercado de trabalho formal e maior participação e adesão dos adolescentes em serviços de tratamentos e acompanhamentos a usuários de drogas lícitas e ilícitas.
Veja aqui slides de apresentação do projeto.
Endereço: Rua Felipe Fragoso, 177, Bairro do Limão
Telefone: (11) 3951-6987
Celular: (11) 9-4132-5814
Blog: www.casadasexpedicoes.blogspot.com.br/(ainda em construção)