publicado dia 07/12/2022

Racismo ambiental: o que é e como abordar na escola

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O racismo, por ser estrutural, se manifesta em todas as dimensões da vida em sociedade: na Educação, Saúde, Cultura, nas legislações e, também, no meio ambiente. O racismo ambiental é, portanto, outra frente a ser considerada pela educação antirracista nas escolas.

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O conceito surge nos anos 80 com o líder de direitos civis Benjamin Chavis, no contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais nos Estados Unidos da América. Ele observou um padrão: áreas negras, de latinos e hispânicos costumavam ser impactadas por degradação ambiental e despejos tóxicos, assinalando, assim, a desproporcionalidade nos impactos das desigualdades ambientais. 

“Racismo ambiental é justamente o que aconteceu quando os portugueses invadiram nossas terras, exploraram nossos povos indígenas, apagaram suas memórias e cultura, exploraram os recursos naturais. Não é uma coisa nova, faz parte da colonialidade, dessa desumanização do outro”, explica Ana Sanches, pesquisadora sobre questões de desigualdades socioambientais e raça sobre a ótica do racismo ambiental e ecologismo decolonial e assessora de projetos no Instituto Pólis.

No contexto brasileiro atual, a especialista afirma que o racismo ambiental se faz presente quando falta água e o esgoto é ao céu aberto nas periferias, mas não nas áreas nobres. Quando não há pessoas negras e indígenas decidindo, nos espaços de poder, sobre seus próprios territórios. “Quem é mais impactado, é quem menos está podendo decidir”, destaca Ana.

Para Givânia Silva, quilombola, professora universitária, militante, uma das cofundadoras e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), a interseccionalidade racial aprofunda o debate sobre o meio ambiente. 

“Temos que nos incomodar com os maus tratos dos animais, mas também com o das pessoas. Se esses animais sobreviveram até agora, é porque alguém não os matou. Querem preservar os rios e as florestas, mas não quem os protegeu até a lei chegar, aí dizem que eles não podem mais permanecer nos seus territórios. Incomoda se o quilombola e o indígena pescar algo, mas não incomoda o desmatamento ilegal”, pontua Givânia. “É uma luta por direitos humanos, sempre foi por pessoas, por dignidade”, complementa Ana

O papel da educação diante do racismo ambiental

Enfrentar o racismo ambiental é parte de um conjunto mais amplo: o combate ao racismo estrutural em toda a sociedade. Assim, nas escolas, esse trabalho antirracista deve fazer parte de um conjunto de ações planejadas coletivamente e intersetorialmente, ou seja, com a presença da comunidade escolar e das lideranças comunitárias, em articulação com as demais Secretarias e agentes do território.

“Temos que pensar o sistema, não uma escola individualmente. Também não adianta falar de racismo só no Ensino Superior. A educação antirracista tem que começar com nossas crianças e acompanhar todo seu processo formativo”, explica Givânia. 

Nos currículos, tem a ver com trazer outros saberes e referências intelectuais para além de homens brancos. “Mulheres, quilombolas e indígenas nunca são colocados em lugar de intelectuais, embora já estejam produzindo saberes. A escola precisa repensar a herança colonial que construiu uma ideia de bom, belo e justo, e os educadores e educadoras têm que ter um olhar crítico, rever o que está posto e, em todos os debates e aspectos, racializar: cadê os negros e os indigenas? Por que eles não estão aqui?”, orienta Ana.

Além de pensar em quais pessoas estão representadas, em quais espaços de poder ou de ausência de poder, o currículo também precisa dialogar com o território em que a escola está. “O território é o espaço que alimenta o currículo para atender às diversidades do Brasil”, explica Givânia sobre como combater questões raciais também apoia no enfrentamento às mudanças climáticas, já que se trata de humanizar a todos e a todas, e não achar legítimo que existam territórios mais ou menos valorizados e que, portanto, seriam mais ou menos bem preservados.

Assista ao debate completo:

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