publicado dia 18/05/2017
Protagonismo e criatividade tomam as escolas no Dia De Aprender Brincando
Reportagem: Thais Paiva
publicado dia 18/05/2017
Reportagem: Thais Paiva
“Pode mesmo misturar tudo e fazer sujeira?”, pergunta animada– mas um pouco desconfiada – uma criança com as mãos cheias de fubá enquanto joga sementes e temperos em sua inovadora receita de “sopa”. Ao seu lado, um grupo mistura raízes e folhas em um pequeno pote na empreitada de fazer uma poção mágica.
Ao longo desse 18 de maio, o gramado da EMEI João Theodoro, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, pareceu uma grande cozinha experimental. Ingredientes culinários e elementos da natureza promoveram um verdadeiro piquenique sensorial de texturas e cheiros para celebrar o Dia De Aprender Brincando, campanha global que valoriza o aprendizado por meio do brincar ao ar livre.
Inspirada no Dia Fora da Sala de Aula, criado no Reino Unido, a data convida escolas de todas as partes do mundo para tirar os alunos das salas de aula e colocá-los para “aprender fazendo”, permitindo assim um desenvolvimento maior da consciência sobre o meio ambiente e oportunidades de aprendizagem mais criativas, desafiantes e independentes.
A campanha não poderia ser mais oportuna: estima-se que 1 em cada 10 crianças em todo o mundo não brinca ao ar livre em um dia normal. Entre os fatores que contribuem para esse quadro, o entendimento equivocado de que a brincadeira é uma atividade supérflua, que nada acrescenta ao indivíduo.
A realidade, no entanto, é que as lições aprendidas de forma lúdica, ao ar livre, são melhor absorvidas, sejam elas de matemática, de ciências ou alfabetização. Atividades desta natureza também favorecem o foco, a descoberta e têm impacto positivo no comportamento dos alunos, aumentando a retenção escolar.
“A brincadeira é essencial para o desenvolvimento da criança, para a descoberta de si e do mundo. Nesse sentido, brincar é coisa muito séria”, resume Sueli Ramos, coordenadora pedagógica da EMEI João Theodoro. Na escola, aliás, a escolha pela brincadeira culinária foi um caminho encontrado para valorizar a multiculturalidade presente entre os alunos, já que muitos deles são de origem migrante.
“Temos alunos bolivianos, sírios, chineses, libaneses, equatorianos, entre outras nacionalidades. Juntamos essa particularidade da nossa escola à nossa proposta pedagógica de incentivo ao brincar. Nessa interação com o espaço e com o outros eles se socializam, desenvolvem a linguagem, e trazem também aspectos de suas culturas”, conta a educadora.
O ato de brincar como pedagogia é também a abordagem que norteia a CEI Lar Criança Feliz, também localizada no bairro paulistano do Bom Retiro. Para comemorar o Dia De Aprender Brincando, as 110 crianças da unidade puseram a mão na massa e prepararam seus próprios biscoitos, pães, gelatina e massinhas comestíveis. Os menores, de até 1 ano de idade, experimentaram as diferentes texturas e sabores de frutas.
A brincadeira também serviu para aprenderem as cores a partir dos corantes adicionados às massas, e o controle motor, tanto na hora de amassar, misturar, dar forma à massa como na hora de levar a comida à boca com as mãos ou com uma colher. O processo de transformação de ingredientes separados em um produto final também pareceu agradar os pequenos, que exibiam com orgulho suas conquistas culinárias.
A coordenadora pedagógica Angélica Salmeron afirma que os alunos, professoras e pais estão acostumados com atividades similares, o que permite liberdade aos educadores para propor brincadeiras. “Os pais não se importam, por exemplo, quando as crianças voltam para casa sujas de tinta depois de passar o dia usando o corpo no lugar do pincel, e os pequenos estão habituados a saber como se comportar, interagir e dividir ferramentas e o espaço com os colegas durante as brincadeiras”.
Ao todo, o Dia de Aprender Brincando mobilizou mais de 1 milhão de crianças de 79 países em 8500 escolas. No Brasil, foram 1070 escolas, envolvendo 147.500 crianças.
Para o inglês Tim Gill, estudioso das infâncias e um dos criadores do Dia de Aprender Brincando, se quisermos que as crianças sintam que são parte de uma comunidade e que têm direito e responsabilidade com a cidade, temos que garantir a chance de sentir essas conexões. “E isso não se ensina. Temos que permitir que elas aprendam por si mesmas, pelo dá-e-toma de estar fora de casa, você só tem isso com liberdade. Sem liberdade, não há conexão com a cidade, com o mundo”, resumiu em entrevista ao Cidades Educadoras, de 2016.
*Colaborou Ingrid Matuoka