publicado dia 15/01/2018

O que os alunos esperam da reforma do Ensino Médio

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O movimento Quero Na Escola conversou com estudantes para saber o que eles pensam sobre a Reforma do Ensino Médio e a necessidade de escolher seu itinerário de aprendizagem, uma das mudanças mais significativas.

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As alterações para as escolas adaptarem-se à reforma devem começar já este ano. Sancionada pelo presidente Michel Temer (PMDB) em fevereiro de 2017, a medida gerou polêmicas e insatisfações, sobretudo entre parte significativa dos estudantes, que se mobilizaram contra a reforma do Ensino Médio.

O Quero Na Escola escutou  209 alunos de 14 estados brasileiros. Dos entrevistados, 30 (14%) sequer sabiam da reforma. Entre os que sabiam, 33% relataram já ter escolhido a área que seguirão entre Linguagens e suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza e suas tecnologias, Ciências humanas e sociais aplicadas, ou Formação técnica e profissional.

A estudante Camila Odete Silva, 17, de Alagoas, afirma que a princípio a Reforma do Ensino Médio parecia positiva, impressão desfeita após olhar a proposta em detalhes. “Filosofia, artes, educação física e sociologia são disciplinas que tem de ser obrigatórias, pois são pontos fundamentais para a formação do cidadão, sem falar que priorizar uma das áreas de conhecimento levaria a uma desestruturação de conhecimento básico muito grande”, diz.

Os demais alunos ouvidos dividem-se entre querer mais de uma opção de formação (33%) e ainda não saber e precisar de mais tempo para decidir (31%). Destes que ainda não escolheram, a maior parte já está no fim do Ensino Médio.

Para Melissa Garcia, de 15 anos, que mora em São Paulo, é muito difícil escolher uma área com tão pouca idade. “Acho que mudanças são necessárias, mas os estudantes e a comunidade escolar deveriam participar da elaboração de um novo ensino”, conta a jovem.

Nem todas as escolas vão oferecer as cinco áreas, nem disponibilizar a escolha no primeiro ano do Ensino Médio. Essa decisão fica a critério de cada instituição em decisão conjunta com os estados, que são responsáveis por essa etapa de ensino. Isso pode forçar alguns estudantes a alterar sua escolha de área ou mudar de escola.

Neste caso, 62% dos estudantes optariam por mudar de escola para manter sua área de interesse, enquanto a minoria (33%) preferiria mudar de área a mudar de escola.

Letícia, estudante do Ceará, diz recear ficar defasada nas demais áreas

Crédito: Acervo pessoal

“Eles colocam essa escolha, mas a gente nem tem direito de escolher”, afirma Letícia Maria Oliveira Ferreira, 16, do Ceará, sobre o fato de que muitos jovens terão de decidir entre trocar de área ou de escola. Esta segunda opção, mais provável entre os jovens, vai exigir tanto da família quanto do Estado uma logística e reorganização cuidadosa para evitar salas lotadas ou jovens estudando muito longe de casa.

A jovem do Ceará afirma ainda recear que alunos de escolas particulares tenham melhor desempenho no vestibular, isso porque o ensino privado terá mais condições de oferecer todas as cinco áreas. Já as públicas veem-se diante de mais um desafio, e provavelmente só vão conseguir ofertar um ou dois itinerários formativos.

Letícia também afirma temer que a necessidade de optar por estudar mais uma área do que as demais leve a um ensino mais técnico e menos voltado ao desenvolvimento integral dos jovens e que a reforma acabe levando a uma maior disparidade entre a rede pública e particular.

“Parece que querem que a gente [de escola pública] entre logo no mercado de trabalho e nem vá para a faculdade, porque a gente vai escolher só algumas matérias prioritárias, mas vão cair todas no vestibular”, observa Letícia.

O que os jovens esperam do Ensino Médio?

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