publicado dia 06/09/2023

Currículo mobiliza debate no II Seminário Nacional de Educação Integral

Reportagem:

📄Resumo: A discussão sobre currículo agitou o terceiro e último dia do II Seminário Nacional de Educação Integral, realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Salvador (BA) nos dias 04, 05 e 06/09. Na ocasião, especialistas e educadores debateram a construção de diretrizes curriculares na Educação Integral. 

Nesta quarta-feira (06/09), a mesa “Educação Integral, Currículo e o Projeto de Sociedade” reuniu educadores com diferentes trajetórias para debater o que está sendo proposto no âmbito das diretrizes curriculares para a Educação Integral e a relação de tudo isso com o projeto de Brasil que se deseja almejar. 

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O debate fez parte do II Seminário Nacional de Educação Integral, realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. 

Estiveram presentes Penildon Silva Filho (UFBA), Claudia Santos (Comitê Territorial Baiano de Educação Integral e Integrada), Natacha Costa (Associação Cidade Escola Aprendiz), Roberto Sidnei (UFBA) e  Tássio Ferreira (UFBS), além da professora Ilizete da Hora de Jesus e da mediadora, Rosilene Cavalcante. 

Confira o debate na íntegra: 

Direitos Humanos, democracia e Educação Integral  

Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e vice-reitor da mesma instituição, Penildon Silva Filho fez um panorama histórico do campo dos Direitos Humanos e das discussões sobre democracia e projeto de sociedade. 

“Quando vamos discutir currículo e Educação Integral é importante ter o modelo de sociedade que queremos”, explicou o especialista. Para ele, a Educação Integral é um campo de disputa política de tentativa de transformação da sociedade. 

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Em linha com a exposição feita pelo vice-reitor da UFBA, Roberto Sidnei Macedo defendeu que o currículo educacional, além de ser um projeto pedagógico, também precisa ser um projeto de vida e de sociedade. “Não há possibilidade de discutir currículo sem isso”, afirmou. O diretor da Faculdade de Educação da UFBA também alertou para o risco de repetir algo comum no contexto brasileiro. 

“Se a Educação Integral não chegar aos currículos, didáticas, gestões e formações docentes, corremos o perigo de criar panaceias”, afirmou, defendendo que as orientações, concepções e princípios das políticas de Educação Integral cheguem até as pessoas. 

“É preciso chegar nas escolas para que não tenhamos uma concepção de Educação Integral que se esvazie rapidamente”, disse. 

Currículo como construção coletiva nos territórios e escolas 

Trazendo a discussão para a prática, a pedagoga Ilizete da Hora de Jesus, afirmou que o currículo já está sendo construído pelas escolas e municípios. Na região do Baixo Sul da Bahia, por exemplo, a construção é coletiva.

“Na construção das diretrizes, escutamos as pessoas e as comunidades primeiro. No Baixo Sul, o currículo é pensado pelas pessoas que estão no campo, assentamentos, quilombos e cidades. Precisamos ouvir todas as pessoas para que elas possam dizer: ‘esse currículo é nosso”, compartilhou a educadora, que defendeu a força do diálogo nessa construção.

Natacha Costa, diretora-geral da Associação Cidade Escola Aprendiz, defendeu que a construção dos currículos escolares seja feita a partir das experiências e demandas concretas das escolas. 

A especialista em Educação Integral retomou a discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Segundo ela, o momento poderia ter ensejado um debate curricular nas redes. “Era a oportunidade para discutir currículo, mas isso não aconteceu. As práticas da escolas não foram reconhecidas como experiências e conhecimentos válidos e relevantes. Isso é um erro crasso. É justamente as pesquisas e conhecimentos dos professores que permite a construção do currículo nas escolas”, criticou. 

Natacha explicou que Educação Integral é uma concepção de qualidade na Educação. “Não é modalidade, é uma concepção de qualidade que diz que as aprendizagens escolares precisam caminhar junto com o desenvolvimento integral dos sujeitos”, afirmou, lembrando que o direito à aprendizagem e desenvolvimento integral é de todos. 

Nesse sentido, não é o tempo que define, necessariamente, uma escola de Educação Integral. Embora a luta pela ampliação da jornada seja histórica no campo educacional – uma vez que criaram-se diferentes turnos nas escolas para dar conta da universalização – só aumentar o tempo passado no espaço escolar é insuficiente. 

“Na maior parte dos estados brasileiros, há escolas de tempo integral de Ensino Médio que são todas iguais, com a mesma matriz praticamente. São escolas focadas nas áreas de Matemática e Linguagem, com secundarização dos demais saberes. Na nossa concepção, elas são escolas de tempo integral, mas não são escolas de Educação Integral”, afirmou. 

Pedagogia da circularidade e a Educação Integral para a classe trabalhadora 

Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia e autor do livro Pedagogia da circularidade: ensinagens de Terreiro (Editora Telha), Tássio Ferreira levou para a mesa de discussão ideias calcadas na filosofia africana e negrodiaspórica.  

“O que eu reivindico aqui é o terreiro como uma escola que não é oficializada ou reconhecida pelo Estado. Porque o terreiro não cabe na estrutura hegemônica do Estado”, refletiu. 

Para Tássio, existe um paralelo entre o sacerdote no terreiro e o docente na escola. “O papel [de ambos] é de mediação, para que cada pessoa encontro e caminhe o seu destino”, afirmou. No entanto, o que se vê na maior parte das escolas são estruturas e pacotes prontos, sem muita agência do estudante no processo. 

Outros pontos de conexão entre a Educação Integral e os fundamentos encontrados em terreiros de candomblé, de acordo com o educador, são a valorização do ensino de modo integral (isto é, sem fragmentação), circular (que se retroalimenta), corporal, ancestral (considerando valores imateriais de cada um) e místico (educação como experiência viva, em diálogo com o território). 

“As rodas de capoeira, os quilombos e os terreiros de candomblé são escolas que tem um tempo diferenciado e outro modo de pensar, que não são reconhecidos pelo Estado”, explicou. 

Claudia Santos, coordenadora do Comitê Territorial Baiano de Educação Integral Integrada, encerrou a mesa de discussão com uma fala bastante aguerrida. 

Retomando a ideia de que Educação Integral não é uma modalidade, mas uma concepção de Educação que pensa o sujeito em diferentes dimensões, a doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) defendeu a Educação Integral para a classe trabalhadora. 

“A negação da Educação Integral é para nós e para os nossos filhos. É negação para a classe trabalhadora”, criticou, provocando aplausos da plateia. 

“Educação Integral em tempo integral com qualidade sociocultural depende de luta para se concretizar”, defendeu. “E para surpresa de quem pensa que não somos arretados, tem muito lugar pequeno dando show de bola”. 

 

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