publicado dia 31/10/2019

Evasão escolar atinge 3,5 milhões de estudantes brasileiros

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Em 2018, 3,5 milhões de estudantes brasileiros foram reprovados ou abandonaram a escola. Para auxiliar as redes estaduais e municipais de todo o Brasil a enfrentarem esse desafio, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Instituto Claro lançaram nesta quinta-feira, 31, o curso online Trajetórias de Sucesso Escolar.

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“Falamos em cultura do fracasso escolar porque o Brasil tem usado a reprovação como estratégia de aprendizagem. E isso não funciona, leva à distorção idade-série e ao abandono. Precisamos pensar em estratégias diferentes para mudar essa situação”, defende Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil.

A formação se propõe a combater a evasão escolar e a distorção idade-série por meio do engajamento, escuta e participação dos estudantes no diagnóstico, planejamento e desenvolvimento de ações.

Acesse o curso online Trajetórias de Sucesso Escolar

O material também aborda ainda a formação de uma rede intersetorial para enfrentamento dos desafios, contando com as áreas da Saúde e Assistência Social, bem como o alinhamento das práticas e do projeto político-pedagógico com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

O curso online é gratuito e voltado para gestores de rede, gestores escolares e professores. O UNICEF também vai acompanhar as redes que aderirem à formação, para atualizá-la continuamente a partir da observação da implementação das práticas e os desafios e avanços que as redes conquistarem.

Unicef lança curso online para ajudar a combater a evasão escolar

Evento de lançamento do Trajetórias de Sucesso Escolar, em São Paulo

Crédito: Instituto Claro

Como Sergipe deu início ao enfrentamento à distorção idade-série

Parte da formação tem por base a experiência de Sergipe no enfrentamento à cultura do fracasso escolar. O estado, que tem em torno de 50% dos alunos em distorção, já desenvolvia ações nesse sentido em parceria com o UNICEF desde 2018.

“O Brasil tem usado a reprovação como estratégia de aprendizagem”, explica Ítalo Dutra

O primeiro passo foi entender quem são os alunos por trás dos números. Em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral, Ana Lúcia Muricy, diretora do Departamento de Educação da Secretaria de Educação de Sergipe, explicou que a rede realizou um mapeamento em todo o estado, escola por escola.

“Agora as escolas sabem quem são os alunos em distorção, em que ano estão e quais anos perderam. Ao analisar não número, mas pessoa, a escola se engaja, tem olhar diferenciado sobre essas crianças e adolescentes.”

Das 53 escolas, 40 iniciaram no segundo semestre deste ano uma avaliação diagnóstica, e 13 já estão no passo seguinte, de formação dos educadores. “Em cada módulo, os professores e gestores têm atividades a executar nas escolas, e isso é importante porque tem a vivência da teoria e da prática, partindo dos próprios saberes das escolas”, conta Ana Lúcia, que já espera para o ano que vem resultados positivos destes trabalhos iniciais.

Os mais afetados pela cultura do fracasso escolar

Além do curso online, a plataforma Trajetórias de Sucesso Escolar também organiza os dados do Censo Escolar sobre reprovação, distorção idade-série e abandono escolar referentes a cada unidade de ensino.

Os painéis permitem identificar os recortes de dados por região, estado, município, e escolas, o que favorece a criação de estratégias para o enfrentamento a essas questões e  para a elaboração de políticas públicas.

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“Esses dados servem para chamar a atenção de redes, escolas e qualquer interessado da população de que esses fenômenos acontecem e atingem as pessoas de maneiras diferentes”, diz Ítalo Dutra.

Essas diferenças aparecem, por exemplo, no fato de que a reprovação entre os meninos é 71% maior que a das meninas. E que as regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pelo atraso e o abandono, que é maior no Ensino Médio.

Já os pretos e pardos têm taxas de abandono que chegam a ser mais que o dobro dos brancos. Mais de 453 mil pretos e pardos abandonaram escolas estaduais e municipais em todo o país em 2018, enquanto este número foi de pouco mais de 181 mil para estudantes brancos. O número de reprovados pretos e pardos também é duas vezes maior que o de brancos, somando, em 2018, mais de 1,2 milhão de estudantes.

453 mil pretos e pardos abandonaram as escolas públicas brasileiras em 2018; 41% dos estudantes indígenas estão em distorção idade-série

Crianças e adolescentes indígenas são os mais afetados pela distorção idade-série e evasão escolar no país.

Enquanto a taxa de abandono para as escolas públicas no Brasil é de 3%, entre os estudantes indígenas a taxa é de mais de 6%. Já a distorção idade-série atinge mais de 41% dos indígenas matriculados. No último ano, mais de 15 mil abandonaram a escola.

O atraso escolar também afeta mais de 383 mil crianças e adolescentes com deficiência, o que corresponde a mais de 48,9% das matrículas. Quase 30 mil deixaram as escolas públicas em 2018. A taxa de reprovação dos estudantes com deficiência é de 13,8%, enquanto que para o grupo sem deficiência a taxa é de 8,7%.

As desigualdades educacionais no Brasil: enfrentando-as a partir da escola

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