publicado dia 10/10/2023
Com Miguel Arroyo, III Congresso Brasileiro de Educação Integral começa em São Paulo
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 10/10/2023
Reportagem: Ingrid Matuoka
📄Resumo: O III Congresso Brasileiro de Educação Integral (COBEI) acontece na Pontifícia Universidade Católica (PUC) em São Paulo (SP) entre os dias 09 e 11/10. Com a presença de educadores e especialistas em Educação Integral, o evento discute temas como formação de professores, ampliação da jornada escolar e gestão democrática nas escolas.
Ao longo de três dias, educadores, pesquisadores e especialistas estarão reunidos em São Paulo (SP) para dialogar e refletir sobre Educação Integral no III Congresso Brasileiro de Educação Integral (COBEI). É possível acompanhar o evento também pela transmissão ao vivo no canal no YouTube da PUC.
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Com a presença de Miguel Arroyo, José Pacheco e Jacqueline Moll, o evento é organizado pelo Grupo de Pesquisas em Educação Integral (GPEI) da universidade e apoiado pelo Centro de Referências em Educação Integral (CR).
Assista ao primeiro dia de discussões abaixo:
Com o título “Educação Integral: por um pacto pelo direito à educação humanizadora”, a conferência de abertura do COBEI foi realizada na segunda-feira (09/10).
Participaram referências importantes do campo da Educação Integral, como Miguel Arroyo, Professor Titular Emérito da Faculdade de Educação Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jaqueline Moll, Professora Titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Emília Cipriano Sanches, da Faculdade de Educação da PUC-SP.
Para Miguel Arroyo, a Educação Integral não é apenas mais tempo de atividades escolarizadas ou de uma escola meritocrática que visa atender somente ao mercado de trabalho. “É ver os educandos como sujeitos humanos integrais, não como mercadorias integrais. Os educandos são integralmente humanos”, disse Miguel, lembrando que esse processo envolve repensar, também, o olhar sobre educadores e educadoras.
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Ao falar sobre humanidade, o especialista lembra que a Educação Integral precisa ir na direção contrária ao paradigma de humano único, que deixa os demais em estado de desumanização. “Isso acompanha toda a história da pedagogia colonial, desde que o continente foi invadido por europeus”.
Miguel encontra na obra de Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido, o caminho para construir uma Educação que faça sentido para a vida de quem foi marginalizado pela sociedade – construir junto com eles, não para eles. Em seu mais recente lançamento, Vidas Re-existentes, o educador desenvolve essa noção de pluralidade de humanidades e, portanto, de pedagogias.
“Ninguém tem mais consciência das opressões do que aqueles que as vivem, desde crianças. Vamos ter que inventar outras teorias pedagógicas que deem centralidade à desumanização como realidade histórica. A Educação Integral terá que cumprir isso como tarefa prioritária. Reafirmando sua outra humanidade, não lutam para serem incluídos no modelo que já está posto”, explicou.
Jaqueline Moll reforçou a importância do diálogo e da horizontalidade para construir outra Educação, que possa beber das cosmovisões africanas e indígenas, e que pense no direito à vida de todos os seres vivos.
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“A luta pela Educação Integral é a luta pela democracia. Tanto é que o primeiro programa a ser desmontado depois do golpe foi o Mais Educação. Depois diz que [o programa] é reforço e traz a Reforma do Ensino Médio”, disse Jaqueline, lembrando de outras conquistas prévias como o Plano Nacional de Educação e a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área. “Nós estávamos no caminho de construir outra Educação”.
Isso também passa por mudar a avaliação da Educação brasileira e políticas que dão mais recursos para quem se sai bem nesses indicadores, incentivando a competição, não a colaboração, entre escolas e professores.
“É preciso considerar no conjunto das nossas avaliações as condições de vida dos estudantes, de formação inicial e continuada dos professores e condições objetivas de trabalho”, definiu a professora.
Nesse trabalho, Jaqueline lembra que não se trata de abrir mão de aprendizagens de conceitos e histórias, mas que esses saberes possam ajudar a construir histórias de vida diferenciadas, que produzam encantamento. “Um conhecimento que faça sentido para o bem viver e o bem comum. Que permita ao estudante transformar-se em sujeito da sua própria história”.
Isso envolve trabalho intersetorial, relação com as famílias, baixar os muros, encontrar com o território e permitir que as identidades entrem na escola. Ainda, manter a associação entre cuidar e educar ao longo de toda a Educação Básica, mudar o jeito de ser professor e de fazer gestão pública.
“Mas não estamos começando agora”, lembrou Jaqueline, retomando as experiências da Pedagogia da Alternância, a Escola Parque, dos CIEPS e o pensamento de educadoras como Maria Nilde Mascellani e Branca Ponce como referências norteadoras. “Educação Integral tem que ser construída por diferentes pessoas, instituições e movimentos sociais. Isso não é tarefa para poucos anos”, disse.