publicado dia 02/10/2019

As bibliotecas escolares além de espaços de leitura

Reportagem:

As bibliotecas escolares não precisam ser apenas locais para armazenar livros ou realizar atividades esporádicas e pontuais. Tampouco devem ser o espaço onde os alunos “ficam de castigo”.

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As possibilidades educativas das bibliotecas escolares se ampliam quando professores e bibliotecários trabalham juntos, quando olham para a cultura e a realidade dos territórios, envolvem a comunidade escolar, as famílias e os estudantes, e estão integradas ao currículo escolar, com projetos contínuos.

Quando estes fatores se unem, essas bibliotecas promovem o desenvolvimento integral e,  como consequência, também melhoram a aprendizagem dos alunos. Isso é o que mostram as experiências de diversas bibliotecas escolares brasileiras, apresentadas durante o seminário “Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares?”. 

Bibliotecas escolares da rede municipal do Rio de Janeiro

A MultiRio, empresa municipal de multimeios, vinculada à Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura, desenvolve desde 1993 um trabalho próximo às bibliotecas de mais de 1.500 escolas da rede. Simone Monteiro, assessora de articulação pedagógica da empresa e professora da rede, compartilhou os caminhos que algumas dessas escolas seguiram.

“As bibliotecas escolares que desenvolvem um bom trabalho são parte constitutiva do currículo, e não oferecem mais do mesmo. Elas ampliam as experiências escolares e fazem parte de um projeto coletivo”, explica. 

Neste sentido, as atividades desenvolvidas não são pontuais ou pertencem a um único professor ou só ao bibliotecário. Elas criam redes e parcerias dentro e fora da escola. Em uma delas, os garis da região leem para as crianças. Em outra, as famílias são convidadas a ler para os estudantes e a construir ao lado da escola os projetos de literatura.

As unidades fazem, ainda, um acompanhamento próximo, com planejamento e avaliação das atividades desenvolvidas. Também mantêm registros de dados que mostram a evolução dos leitores, além de um acompanhamento pedagógico da biblioteca. Esses dados, inclusive, podem servir para as aulas de Matemática, como fez uma professora que pediu aos estudantes para construírem gráficos a partir dessas informações. 

A estrutura física do espaço também importa. Assim, as bibliotecas escolares precisam estarem sempre abertas e serem adequadas às identidades dos leitores. Também é preciso que haja uma diversidade de acervo e de formatos, e que as criança possam levá-los para casa e sintam confortáveis para dizer se gostou ou não de alguma obra. 

“Quando a biblioteca deixa de ser o lugar do castigo ou da avaliação, ela ganha novas possibilidades. E ela deve invadir os jardins, os corredores, estar por toda parte. Mas todo esse trabalho não é responsabilidade só da biblioteca ou só da escola. É preciso ser entendida como objeto da política pública”, diz Simone. 

A biblioteca comunitária de São Leopoldo (RS)

Em 2013 foi inaugurada a Biblioteca Comunitária Ler é Saber – Germano Oscar Moehlecke. Ela funciona dentro da EMEF Dilza Flores Albrecht, em São Leopoldo (RS), alinhada ao projeto político-pedagógico da escola.

Localizada em um bairro longe do centro, na fronteira com a zona rural, em um território indígena Kaingang, a questão étnico-racial está presente tanto na escola quanto na biblioteca.

Desde 2005, a biblioteca conta com monitores – alunos da escola que auxiliam na mediação da leitura, durante a Hora do Conto. Neste projeto, cada turma da escola vai quinzenalmente ao local por 50 minutos para ler pequenas narrativas, acompanhados de professores de todas as áreas.

“Essas leituras retomam muitos dos conhecimentos estudados pelos alunos em disciplinas do currículo, e podem ampliar as possibilidades, como uma vez em que os alunos leram o relato de uma mãe indígena. Eles se interessaram tanto pelo assunto que começaram a pesquisar mais”, conta Monica Bolletta Uriarte, coordenadora da biblioteca.

A partir disso, eles estudaram questões de linguísticas, o papel das mulheres em diferentes culturas indígenas, assistiram a filmes, conheceram lendas, e fizeram leituras mais extensas em sala de aula. Também já visitaram uma aldeia próxima à escola, convidaram povos indígenas para palestrar e promoveram um concurso de declamação com a participação de 250 alunos. 

“Nosso crescimento como biblioteca e escola se faz notar. Mas isso só é possível porque todos — merendeira, professores, coordenadores — se reconhecem como promotores de leitura”, diz Monica. 

Quando as bibliotecas ganham as ruas

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