publicado dia 07/04/2015
Brincadeiras contribuem para desenvolvimento e bem estar de crianças
Reportagem: Ana Luiza Basílio
publicado dia 07/04/2015
Reportagem: Ana Luiza Basílio
“Ao norte da cidade de Churchill, província de Manitoba, Canadá, um urso polar faminto desiste de atacar dois huskys siberianos ao notar que a fêmea se coloca em posição de brincadeira”.
“Charles Whitman, mais conhecido como o assassino do Texas Tower, autor de um assassinato em massa em 1996, foi uma pessoa marcada pela ausência de brincadeiras e isso o tornou mais suscetível à tragédia que causou”.
As situações, aparentemente desconexas, tratam da mesma questão: o brincar. Na primeira, ele aparece como um elemento que provoca uma mudança em um comportamento dado e natural, de um predador que ataca sua presa; na segunda, como suporte fundamental ao desenvolvimento de um indivíduo.
Esses relatos compõem a fala do pesquisador Stuart Brown, especialista sobre o ato de brincar que, durante palestra ao TEDx, em 2009, reforça que “brincar é mais do que diversão, é vital”.
Para o pesquisador, embora o brincar seja comumente associado à infância, o ato não deve se limitar a essa fase da vida. A perda dessa capacidade [que acontece com frequência na fase adulta da vida de uma pessoa], em sua análise, diz de uma perda de cultura.
Brown reforça que a brincadeira não precisa de outro propósito além do simples fato de brincar; e que, exigir além disso é deslegitimar o ato. Nessa perspectiva, coloca que as brincadeiras podem estabelecer conexão somente com o corpo, ou deste com algum objeto e que, de qualquer forma, parte de uma curiosidade, de uma necessidade de exploração.
Outro ponto, em sua leitura fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos, é o brincar como elemento social que faz com que as crianças identifiquem a si mesmas e aos outros, e estabeleçam seus modos de convivência, suas regras e percepção do coletivo. Por isso, defende: “as crianças na pré-escola deveriam poder mergulhar, bater, assobiar, gritar, serem caóticas e desenvolverem através disso muito de sua regulação emocional e muitos outros subprodutos sociais – cognitivos, emocionais e físicos que fazem parte do ritual de brincar”.
O especialista convida às pessoas, especialmente as adultas, a buscarem em suas memórias lembranças relacionadas ao ato, como durante as férias ou em algum aniversário. E sugere que, cada um, avalie como esse momento se conecta à sua vida atual, como forma de resgatar o papel estruturante do brincar.
Além de ser uma maneira acessível das crianças fazerem a sua leitura do mundo, esses momentos de diversão possibilitam o desenvolvimento de aspectos físicos, motores e cognitivos, indispensáveis para a saúde e bem estar delas. Valores como companheirismo, autonomia, liderança e solidariedade também estão embutidos em diversas formas do brincar. Por isso, a defesa de que as escolas respeitem o tempo das brincadeiras, sem que seja colocada nelas, intencionalmente, uma proposta de aprendizagem ou a interferência de adultos.
A experiência da brincadeira, por si só, acaba por contemplar um potencial educativo, visto que estão colocadas nessas situações a imaginação e a criatividade da criança, e o envolvimento integrado do corpo e mente.
Para reiterar o direito ao brincar e também para defender a brincadeira como uma condição fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos, no Dia Mundial da Saúde, o Centro de Referências em Educação Integral em parceria com o Portal Aprendiz, listou cinco matérias que propõem reflexões sobre o brincar ou que elucidam práticas que o têm como premissa.
A matéria reúne especialistas do movimento Aliança pela Infância, que luta pelo direito a uma infância digna e saudável e da Rede Marista de Solidariedade para que reflitam sobre como é importante garantir o direito ao brincar, e como as escolas podem apoiar esse movimento e fazer das brincadeiras elementos educativos.
O Direito ao Brincar foi tema de seminário na cidade de São Paulo, em 2014. Na ocasião, os especialistas apontaram seis razões para que o brincar seja livre, sob gerência das crianças.
O relato da experiência do projeto coordenado pela educadora Renata Meirelles e pelo documentarista David Reeks evidencia a carga cultural contidas nas brincadeiras, e como elas podem ser elementos de intercâmbio de saberes, registros e difusão da cultura infantil.
A campanha Brinque.Cidade, realizada no ano passado em diálogo com a Semana Mundial do Brincar, deu origem à exposição virtual e interativa organizada pelo grupo Ludi.Cidade, que tinha como objetivo reunir fotografias de crianças brincando pelos espaços públicos de Campo Grande (MS).
Matéria convida especialista do Aliança pela Infância, Giovana Barbosa de Souza, para falar sobre o direito ao brincar, a importância do tempo livre para a brincadeira, e do brincar no contexto escolar.