Como integrar e formar novos agentes educativos para um programa de educação integral?
Publicado dia 27/08/2013
Publicado dia 27/08/2013
Ao trabalhar com o conceito de Educação Integral, a escola assume outra forma. Ela não possui mais os moldes tradicionais que se conhece desde o século XVIII. E se a escola não é mais a mesma, os professores também devem reinventar seu papel para se adequar a esse novo modelo. E o fazem com o apoio de novos agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
O Programa Mais Educação, por exemplo, prevê a contratação de monitores que atuam nas escolas em uma vasta gama de oficinas – de educação para mídia à capoeira. Sem necessariamente terem licenciatura ou outros treinamentos formais em educação, esses novos agentes educativos precisam ser apoiados em seus cotidianos nas escolas.
Da mesma forma, é preciso oferecer aos professores e diretores uma contínua formação para discutir os desafios e compartilhar práticas nos programas e ações de educação integral. A nova proposta exige uma reconfiguração da escola como um todo e principalmente convida a todos os envolvidos a uma lógica de colaboração permanente – em que as funções individuais se transformam em funções coletivas.
Ao trazer a comunidade para dentro da escola e a escola para a comunidade, muda-se a perspectiva de que há uma hierarquia entre o que se aprende como “conhecimento informal” e o que é “conhecimento do cotidiano”.
Para Jaqueline Moll, no texto Conceitos e pressupostos: o que queremos dizer quando falamos de educação integral?, “o debate da Educação Integral ganha sentido, portanto, nas possibilidades, que estão sendo e que serão construídas, de reinvenção da prática educativa escolar no sentido de seu desenclausuramento, de seu reencontro com a vida, do desenrijecimento de seus tempos, da interlocução entre os campos do conhecimento em função da compreensão e da inserção qualificada no mundo.”
Segundo a pesquisadora, é justamente esta interlocução entre os saberes e entre os diferentes tipos de agentes educativos que faz do processo de ensino-aprendizagem como significativo e pautado na realidade dos estudantes e educadores. “Os atores deste debate serão alunos, professores, pais, gestores, comunidades. A cidade, no seu conjunto, oferecerá, intencionalmente, às novas gerações experiências contínuas e significativas em todas as esferas e temas da vida.”
Assim, partindo da premissa de que todos esses atores são fundamentais, é preciso abrir a escola para a participação de novos agentes educacionais. Existem várias experiências exitosas sobre como encontrar esses agentes, mas todas têm em comum a valorização deste indivíduo e da sua potencialidade como educador, professor e agente educacional da escola.
Por isso, mais do que o processo de seleção em si, é necessário que a Gestão Pública fortaleça essa percepção – de importância desses agentes educativos – e que esta seja trabalhada com as escolas. Diminuir a resistência dos professores e diretores significa rediscutir o papel da unidade escolar e das funções nela estabelecidas. É preciso repensar as relações de participação, autonomia dos envolvidos, respeito ao Outro e principalmente investigar e fortalecer todos em uma agenda colaborativa.
Para tanto, é preciso incentivar que a escola não veja o ator externo como uma “intervenção”, deslocada da ações pedagógicas por ela já estabelecida. Assim, novamente, a proposta pedagógica se faz fundamental. É a partir dela que os atores e funcionários da escola pactuam suas relações para um projeto comum.
Segundo o Guia de Políticas para Educação Integral, da Fundação Itaú Social e CENPEC, “nas experiências mais exitosas do país, as secretarias desenvolveram processos formativos tanto de caráter administrativo como pedagógico, envolvendo diretores, assistentes, coordenadores pedagógicos, professores, educadores e funcionários”.
De acordo com a publicação, é fundamental que a secretaria desenvolva um programa formativo permanente e contínuo, envolvendo os diferentes atores da comunidade escolar. Idealmente, esses espaços – além de incentivarem a discussão e leitura conceitual – devem ser abertos à troca de experiências, na qual os diferentes atores podem compartilhar suas visões, estratégias desenvolvidas e eventuais dificuldades.
Para investir na mediação dos discursos e relações, é interessante que esses encontros sigam uma estrutura e permitam a construção de produtos e memória dessa reflexão. Por isso, a documentação se faz essencial e pode ser divulgada para toda a rede escolar e para a comunidade, envolvendo pais e parceiros na discussão.
Para investir na formação das escolas, é interessante investir também na formação da própria equipe técnica da secretaria que, fundamentalmente, acompanhará o desenvolvimento das ações ou do programa.
Existem inúmeras iniciativas para formação continuada de professores que podem ser encorajadas pelas secretarias. Entre elas, a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores, ProInfo Integrado, e-ProInfo, entre outros.
A Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior realiza formações por meio do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR).
Como são processos novos para todos os envolvidos, é muito importante que haja espaço para questionamentos, mas é preciso incentivar que estes sejam propositivos e visem, na construção colaborativa, caminhos e tentativas para solucionar possíveis entraves.
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