Reggio Emilia: escolas feitas por professores, alunos e familiares

Publicado dia 25/06/2014

Iniciativa: Reggio Emilia

Pública ou privada: Pública

criança é feita de cem. /A criança tem cem mãos/ cem pensamentos/ cem modos de pensar/ de jogar e de falar./ Cem sempre cem/ modos de escutar/as maravilhas de amar.
Cem alegrias/ para cantar e compreender./Cem mundos/ para descobrir./ Cem mundos/
para inventar./ Cem mundos/ para sonhar./ A criança tem/ cem linguagens/ (e depois cem cem cem)/ mas roubaram-lhe noventa e nove./ A escola e a cultura/ lhe separam a cabeça do corpo. (Trecho de As Cem Linguagens da Criança, de Loris Malaguzzi).

Descrição: O trecho do poema do pedagogo e educador Loris Malaguzzi, que reconhece as habilidades das crianças, resume a abordagem pedagógica presente na educação infantil de Reggio Emilia, cidade localizada ao norte da Itália, com cerca de 170 mil habitantes. Essa experiência educadora foi reconhecida como a melhor do mundo em 1991, mas a história teve início bem antes.

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Com o término da Segunda Guerra Mundial, e a cidade em ruínas, um grupo de cidadãos sentiu a necessidade de reconstruir o tecido social, cultural e político da comunidade e materializou a vontade por meio de uma escola para crianças pequenas – a escola 25 Aprille (25 de abril, em português), em Villa Cella. Construída a partir de um esforço comunitário, do qual o próprio Malaguzzi fez parte, contou com verba obtida da venda de um tanque de guerra abandonado, alguns caminhões e cavalos deixados pelos alemães em retirada.

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Impulsionado pelas teorias psicopedagógicas inovadoras da Europa nos anos 50 e 60, como Jean Piaget, Lev Vygotsky e John Dewey; e também de pedagogos italianos, como Maria Montessori, irmãs Agazzi, Bruno Ciari, o jovem Malaguzzi estava certo de que o processo pedagógico deveria ter como centro o desenvolvimento intelectual, emocional, social e moral das crianças.

O modelo pedagógico deu tão certo que acabou sendo municipalizado e hoje engloba 40% das escolas da cidade. A rede Reggio Children é composta de 13 creches e 21 pré-escolas.

As cem linguagens da criança

Créditos: Centro Malaguzzi / divulgação

Créditos: Centro Malaguzzi / divulgação

Partindo do pressuposto de que a criança nasce com as suas “cem linguagens”, a pedagogia da Reggio Emilia assume que os adultos têm como tarefa prioritária, a escuta e o reconhecimento das múltiplas potencialidades de cada criança, observada e atendida em sua individualidade.

Para tanto, as escolas criam espécie de “laboratórios do fazer”, que combinam as tradicionais linguagens gráficas, pictóricas e de manipulação (modelos e maquetes), mas também as do corpo, ligadas ao movimento, as da comunicação verbal e não-verbal, as linguagens icônicas, o pensamento lógico, científico, natural, discussões éticas, e manejo de ferramentas multimídia, sempre objetivando que a criança aprende “com todo corpo”, de forma fluída e permanentemente integrada.

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Essa perspectiva faz com que as escolas não trabalhem apenas com as linguagens codificadas e reconhecidas, mas reconheçam as experiências reais obtidas por meio da pesquisa e de descobertas sensoriais dos próprios estudantes.

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

O trabalho é conduzido de maneira democrática, sendo a equipe pedagógica, alunos e familiares atores importantes para sua consolidação. Os professores atuam em parceria com o atelierista, profissional que apóia a consolidação de pontes entre as diversas descobertas da criança, empoderada pela ideia de experimentar, de descobrir o mundo e os outros a partir do manejo das diferentes linguagens às quais é apresentada.

A mesma condução é feita pelos educadores que atuam no sentido de expandir o método de conhecimento próprio da criança, incluindo as linguagens artísticas e expressivas na prática cotidiana. A equipe pedagógica parte do pressuposto de que a mente do ser humano e, portanto da criança, é multidisciplinar e observá-la em sua forma de aprender é uma forma de incentivar a apropriação de conhecimento.

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Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Tal proximidade também é mantida com os familiares. Além de serem bem-vindos entre as dependências escolares, na entrada e saída dos alunos,  eles também participam de outras ações e iniciativas, como reuniões com professores e pedagogos, do conselho escolar, da consolidação das políticas escolares, e elaboração do percurso pedagógico, trilhado por eles mesmos, pela equipe pedagógica e pelas crianças.

Para realizar o projeto que recebe as características de cada comunidade, a formação inicial e continuada dos educadores se tornaram condições essenciais e indispensáveis??. Com o apoio da Reggio Children, as escolas concebem um processo de seleção e treinamento, que tem continuidade na própria unidade, em trabalho gerido por um coordenador. Assim como com as crianças, esse coordenador adota uma metodologia formativa que visa estimular e alcançar os “maiores talentos” de cada professor, assim como apoiar as questões apresentadas pelas crianças e o diálogo com os pais.

Na mesma perspectiva, a conduta pautada na educação inclusiva e coesão social faz com que as escolas mantenham uma capacidade de integração com os imigrantes. As unidades da rede apoiam essas famílias no acesso à cultura e tradição local, a partir da história do território, e das famílias dos outros estudantes. A postura evidencia outro valor comum a essa experiência educativa: o acolhimento irrestrito das diferenças.

A metodologia de Reggio Emilia evidencia que a diferença da subjetividade reforça o valor de cada indivíduo e por isso zela por um modelo educativo que dê conta de todas as particularidades dos estudantes e das suas famílias.

Espaços relacionais

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em diálogo com a proposta, as escolas da rede são construídas de modo a favorecer o diálogo e o conhecimento compartilhado das crianças. Para tanto, os ambientes – que permitem que a escola acesse o exterior e vice e versa – estimulam a construção de diversas perspectivas e pontos de vista, consentindo às crianças uma pluralidade de experiências sensoriais. A estética e arquitetura das escolas são pensadas como elementos de qualidade do conhecimento, a partir de uma estrutura que permite a conexão das crianças entre si, com a equipe pedagógica e com a área externa.

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Como exemplo, a cozinha, que é um espaço geralmente negado às crianças, é aberta e inteiramente conectada com a proposta pedagógica. Para a equipe gestora, a proximidade dos alunos ali reforça a importância da relação com a família, já que é no ambiente que se constroem importantes laços, como o “comer junto”, e a vida familiar cotidiana. A cozinheira também atua como educadora e permite aos alunos que participem do preparo dos alimentos – na tarefa, eles não só conhecem os alimentos, como são convidados a experiências sensoriais e de degustação, ao descascar, cortar e provar os diferentes ingredientes.

No caso das creches, dá-se ainda preferência por espaços com seções modulares flexíveis, criando a sensação de acolhimento. Outro elemento bastante presente é o espelho, não só nas paredes, mas também no chão, por se apresentar como algo intrigante para a faixa etária, já que a criança enxerga a si própria, aos amigos, e também as particularidades do ambiente, estimulando a visão por diferentes perspectivas.

Ainda na proposta de valorizar a experiência dos alunos, as salas que acolhem os projetos das crianças não são arrumadas para o dia seguinte. A ideia é que as crianças possam revisitar suas criações e mesmo dar continuidade às suas pesquisas, sendo este um fio condutor da aprendizagem.

Por dentro de Reggio Emilia

Para exemplificar o modelo pedagógico, a equipe da Univesp TV viajou até Reggio Emilia e conheceu duas unidades da rede: o Centro Internacional Loris Malaguzzi e a Creche Gianni Rodari. Os detalhes da rotina de professores, alunos e pais você pode conferir na reportagem a seguir:

Início e duração: de 1963 até os dias atuais.
Local: Reggio Emilia, cidade localizada ao norte da Itália.
Responsáveis: Prefeitura de Reggio Emilia.
Envolvidos e parceiros: Fundação Reggio Children e Centro Internacional Loris Malaguzzi.

Principais resultados

O trabalho coletivo é uma das bases da experiência de Reggio Emilia. A metodologia valoriza cada pessoa em sua experiência. Isso mostra que independente do papel que cumpre, ou função que desempenha, cada pessoa é importante na condução do ensino aprendizagem e, portanto, protagonista legítimo da experiência adquirida. Outra questão é a naturalidade com que é vista a interdisciplinaridade em meio à metodologia, o que evidencia o trabalho em prol do desenvolvimento de várias habilidades e competências.

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

A prática de inserir as crianças cotidianamente em situações de pesquisa e debate favorece o questionamento sobre si próprias e sobre os outros, o que as torna mais participativas e, futuramente, cidadãos mais críticos e cientes da importância de seu papel em uma sociedade mais justa e igualitária. Os alunos são convidados a compor seu ponto de vista em conjunto com os demais, fortalecendo o processo de construção não apenas de suas identidades individuais, mas do coletivo com suas múltiplas particularidades.

Em todo o processo de ensino e aprendizagem, as crianças têm suas habilidades reconhecidas e seu desenvolvimento conduzido a partir de suas próprias relações com os demais e com o mundo. Para tanto, as equipes gestoras garantem que as escolas sejam capazes de prover relações significativas e importantes para o desenvolvimento integral dos alunos.

A troca de experiências entre os alunos que, a cada término de atividades são convidados a participar de uma assembleia, também reforça que independente da experiência adquirida, o conhecimento é um patrimônio de todos.

Contato

Site: Reggio Children

Telefone: (39) 0522 513752

E-mail: [email protected]

Experiência construída com o apoio do Portal Aprendiz e Porvir.

 

Gestão Pública

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