CEMEI Paulo Rosas: a aprendizagem em diálogo com as etapas do desenvolvimento infantil

Publicado dia 02/06/2015

Esses são os princípios básicos que norteiam o projeto político pedagógico de aprendizagem do Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) Paulo Rosas, inaugurado em 2007, a partir de uma parceria entre a Prefeitura da cidade de Recife  e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A unidade atende 95 crianças, de 0 a 4 anos, e objetiva o desenvolvimento integral delas em seus aspectos físico, psicológico, emocional, social e cultural, considerando a ação das famílias e da comunidade.

Antes mesmo da abertura da escola, todos os profissionais envolvidos com o projeto – gestores, professores, equipes responsáveis pela limpeza e cozinha – passaram um mês reunidos estudando e organizando o ambiente. A ideia, segundo a atual gestora, Verônica Carmo de Araújo, na época professora, era fortalecer o grupo e promover reflexões. Quem seriam as crianças que atenderiam? O que gostariam de ensinar a elas? Qual seria a melhor proposta para contemplar a educação integral? Esses eram alguns dos questionamentos presentes nas discussões.

Espaço do berçário da CEMEI Paulo Rosas.

Espaço do berçário da CEMEI Paulo Rosas. Créditos: Reprodução

A grande inspiração para o grupo foi o livro As Cem Linguagens da Criança, de Loris Malaguzzi, obra que também inspira a proposta pedagógica da educação infantil de Reggio Emilia, e faz a experiência brasileira comumente ser associada à italiana.

Estrutura organizacional

A equipe escolar é composta pela direção, coordenação pedagógica, secretaria (um agente administrativo e um estagiário), corpo docente com professores regentes e itinerantes, para o trabalho com educação inclusiva, além de auxiliares de desenvolvimento infantil (ADI). Os professores se distribuem entre o berçário e grupos 1, 2, 3 e 4, determinados de acordo com a idade e desenvolvimento das crianças.

A principal tônica é que todos os atores envolvidos são considerados construtores de saberes. Nesse sentido, é considerada e valorizada a forma como as crianças se relacionam umas com as outras e com os educadores, e estes com as famílias. Os significados dessas interações são amparados com a realização de projetos e com uma sequência de atividades que trazem a oportunidade de criação, com exercícios frequentes de escuta, construção da autonomia e respeito à individualidade.

Tudo isso se dá no espaço escolar, também concebido como um elemento educador. Ele é pensado em sua totalidade, para além das segmentações em salas, como um lugar promotor de experiências e vivências integrais. Isso faz com que ele seja planejado para promover a exploração e a oportunidade de escolhas, sempre em consonância com o nível de desenvolvimento de cada criança.

Os espaços educativos

A principal tônica metodológica são os ateliês, espaços educativos que buscam valorizar a pesquisa, a descoberta, a aprendizagem, o diálogo e a cooperação. Eles se estruturam a partir de quatro eixos pedagógicos fundamentais para o desenvolvimento das crianças: o movimento, o faz de conta, as artes e as linguagens. Cada um desses eixos corresponde a uma faixa etária específica; ainda assim, ao longo da semana, as crianças são estimuladas a um rodízio de ateliês de maneira que possam desenvolver outras atividades e, dessa forma, terem oportunidade de desenvolverem habilidades e conhecimento relativos a cada eixo.

Atividade do Ateliê Movimento.

Atividade do Ateliê Movimento.

Ao todo, 80 crianças vivenciam os ateliês; as outras 15 estão na fase do berçário. No Ateliê Movimento, direcionado ao grupo 1 (crianças com até um 1 de idade) é marcada a necessidade de exploração do ambiente. A área não possui mobília, justamente para permitir essas descobertas espaciais. Há apenas uma estante grande de alvenaria que acomoda materiais diversos, como pneus, bambolês, bolas de tamanhos variados, instrumentos musicais ou elementos utilizados para reproduzir sons, cordas e giz. Há também um espaço para desenhar uma amarelinha no chão. O ambiente valoriza o corpo e a expressão da criança como fundamentais ao desenvolvimento.

Crianças na casa de plástico do Ateliê Faz de Conta.

Crianças na casa de plástico do Ateliê Faz de Conta.

O Ateliê Faz de Conta está voltado ao grupo 2, formado por crianças com até 2 anos de idade. A ideia principal é trabalhar com as fantasias infantis, o que também exige que o espaço não tenha móveis. Além de uma casinha plástica grande, ganham vez objetos como panelinhas, colheres, pratinhos, copinhos, bonecos que contemplam a diversidade de gênero e raça, miniaturas de animais domésticos e selvagens, miniaturas de ferramentas e fantasias diversas, além de elementos de vestuário como gravatas, bolsas e sapatos.

O Ateliê das Artes, que toma como base as crianças do grupo 3 (com até 3 anos de idade) visa desenvolvê-las a partir da aproximação com as criações artísticas. Para tanto, oferece papeis de diversas cores e formatos, lápis de cor e de cera, lápis grafite, tesouras, tintas, colas e sucatas, além de outros instrumentos que podem apoiá-los no desenvolvimento das atividades, como retalhos, pedaços de barbante, linha e isopor. Para facilitar esses momentos, a sala disponibiliza mesas e cadeiras.

Atividade no Ateliê Linguagens.

Atividade no Ateliê Linguagens.

Para o Ateliê Linguagens, direcionado às crianças do grupo 4 (com crianças de até 4 anos) o foco é o contato com as letras e números. Para essa condução, são disponibilizados recursos como revistas, jornais, jogos de dominó com nomes, e livros de educação infantil. O educador desse espaço é estimulado a propor contações de histórias, a trabalhar com músicas e a afixar nas paredes os aprendizados para que as crianças sejam constantemente estimuladas ao universo do letramento.

Em cada espaço atuam um professor e os auxiliares de desenvolvimento infantil (ADI), que figuram como apoiadores no planejamento e desenvolvimento das atividades. As rotinas são planejadas, mas a ideia é que cada criança se sinta livre para identificar as que mais lhe agrada, guiada pela diversidade de estímulos de cada ambiente.

Essas aprendizagens, no entanto, extrapolam os ateliês, reforçando a perspectiva do espaço educador. Além dos livros e recursos serem encontrados em outras dependências da escola, a unidade tem por prática padronizar todos os elementos de uso diário das crianças, como toalhas de banho, saboneteiras, estojos, mochilas. Cada item é identificado com o nome da criança, para que ela seja estimulada a reconhecer o seu nome e a identificar o que é seu.

Formação continuada

Para sustentar o projeto político pedagógico, a escola investe na formação continuada de sua equipe. Segundo a gestora, tudo começa pelos professores. Eles trabalham cinco dias na unidade e um fora da sala, sendo que, dessa maneira, cada dia um professor diferente se dedica à formação. Estão instituídos espaços de troca entre os cinco professores da instituição, no qual eles avaliam os percursos e entendem o que precisa ser desenvolvido ou sistematizado.

A parceria com a UFPE também faz da escola um campo de estágio. Isso possibilita um encontro dos professores escolares com os da universidade, configurando mais um espaço de formação e troca de conhecimentos. Além disso, a CEMEI recebe estagiários de diversas áreas do conhecimento, como educação infantil, enfermagem, odontologia e outras. A objetivo é que eles conheçam a proposta pedagógica e possam, primeiramente, observá-la ao lado de um professor em sala de aula e, posteriormente, partirem para a intervenção. Isso também possibilita que a equipe da escola seja permanentemente avaliada e incentivada a melhorar suas práticas.

Avaliação

O desenvolvimento das crianças é acompanhado a partir de uma observação diária que leva em conta os eixos sobre os quais elas transitam. Isso gera registros semanais por parte da equipe e um relatório semestral que é compartilhado com os familiares. Além disso, os pais podem interagir com a escola em quatro encontros planejados durante o ano.

Crianças em atividade de música.

Crianças em atividade de música.

Esses momentos são realizados por etapas, berçário e grupos do 1 ao 4. Além de um texto para reflexão coletiva, geralmente sugerido pelo professor responsável, há um momento de escuta com os pais e debate em que são colocadas questões de interesse comum. A instituição entende que esses espaços também figuram na avaliação do projeto político pedagógico uma vez que, passados estes momentos, a equipe leva seus registros e os compartilham com toda a comunidade escolar.

Principais resultados

O eixo do brincar é a principal diretriz da escola. Segundo a gestora, isso não foi compreendido pelos familiares das crianças no início. Nessa época, eram comuns questionamentos tais como: “aqui é só brincar?”. Com a abertura do diálogo escolar com a família foi possível promover a compreensão de que esse é um eixo fundante para a infância. Isso se deu a partir da contextualização do lúdico em um espaço educador, pensado em prol das dimensões do desenvolvimento integral de cada criança.

A escola consegue atuar com a individualidade de cada um sem fazer com que ela se perca no contexto coletivo; embora tenha atividades dirigidas a todos, a instituição procura olhar para o desejo da criança e conduzi-la a uma determinada aprendizagem em um momento mais significativo para ela. Os momentos coletivos, por sua vez, estimulam o convívio social e as trocas constantes entre toda a comunidade escolar. Com isso, as crianças desenvolvem uma postura autônoma desde bem cedo.

Os professores também são continuamente estimulados a contemplar essas diversas possibilidades de aprendizagem em seus planejamentos, o que faz com que cada um desloque o olhar do adulto para o da criança, primordial para uma educação infantil de qualidade.

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