Programa Escola da Gente molda educação integral no município de Betim
Publicado dia 15/07/2014
Publicado dia 15/07/2014
Iniciativa: Programa de Educação Integral Escola da Gente
Pública ou privada: Pública
Descrição: O Programa de Educação Integral Escola da Gente foi implementado pela Prefeitura Municipal de Betim em agosto de 2009. A iniciativa buscou traduzir as proposições que regem a proposta de Educação Integral, com vistas à qualidade educacional em diálogo com todas as dimensões humanas. Para tanto, o Programa nasceu com foco no território e no compartilhamento de saberes, se moldando como uma política de gerenciamento intersetorial, que redimensionou a matriz curricular do ensino fundamental, ofertando novas atividades de diversas áreas do conhecimento e ampliando tempos e espaços para o desenvolvimento das mesmas.
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A opção por uma estrutura de gestão pautada na intersetorialidade fez com que o Programa buscasse a convergência e a integração das políticas públicas municipais e ainda estabelecesse alianças com diversos setores e instituições da sociedade para ofertar uma educação que reconhecesse e abarcasse a integralidade das crianças e adolescentes atendidos nas escolas da rede municipal de ensino.
Para iniciar o desenho da proposta, a Secretaria de Educação realizou um diagnóstico no território que revelou diversos projetos educativos, encabeçados por diferentes instâncias públicas, mas que aconteciam de maneira isolada. No entanto, não bastava integrar apenas as ações, o que geraria uma demanda impraticável para um único dirigente, e sim contar com um esforço coletivo de gestão.
A partir de então, teve início o diálogo com outras secretarias, com o objetivo de compartilhar saberes e convergir recursos e esforços para as práticas educativas. Da articulação, nasceu o Fórum Intersetorial, organização responsável por planejar, executar e avaliar as ações pedagógicas que seriam propostas às escolas. Ao todo, 12 secretarias enviaram representantes que, uma vez por semana, pensavam as atividades e, mensalmente, as avaliavam.
Além de uma proposta pedagógica, o plano de trabalho considerou metas para outros setores, como infraestrutura e logística e orçamento e finanças.
Para ampliar as oportunidades educativas aos alunos, o Programa previu a inserção de atividades ao currículo, para além da oferta das disciplinas tradicionais. A partir dos eixos esporte e lazer, arte e cultura, acompanhamento pedagógico, educomunicação, meio ambiente e inclusão digital, os alunos podiam vivenciar experiências complementares e enriquecedoras aos conteúdos tradicionalmente trabalhados. Cada escola teve autonomia para escolher as atividades em conjunto com os alunos, familiares e até moradores do entorno onde se localizavam, mostrando a intencionalidade do programa de dialogar com as demandas de cada comunidade.
Ainda assim, com o passar do tempo, os gestores identificaram uma queda no envolvimento dos alunos, o que motivou a criação das chamadas atividades itinerantes, também eleitas pelos próprios estudantes. Elas giravam em torno da culinária, das atividades circenses, grafite, cinema, fotografia e língua espanhola e têm duração mais curta.
Também foi proposto uma maior interação das escolas com outros espaços públicos e privados (como sítios, clubes e hotéis fazenda), o que trouxe uma outra dinâmica educadora às comunidades, que passaram a reconhecer a intencionalidade pedagógica para além das instituições escolares.
A nova orientação curricular pediu uma nova equipe para cada escola, que somaria aos educadores já atuantes. Para cada unidade foi direcionado um gestor, um apoio e um monitor por área escolhida pela escola, como música, dança, esporte, acompanhamento pedagógico, entre outras. Cada profissional tinha atribuições que zelavam pela manutenção dos processos pedagógicos em diálogo com a educação integral.
Ao gestor, por exemplo, entre outras tarefas, cabia a divulgação do programa e a mobilização de estudantes; familiares e membros da comunidade. Os monitores, por sua vez, eram enviados pelas universidades – importantes parceiras do processo – e atuavam nos novos eixos educacionais contemplados pela proposta.
No acompanhamento pedagógico podiam atuar estudantes de cursos de licenciatura em letras, matemática, pedagogia, e ciências biológicas; em esporte e lazer, dos cursos de educação física ou fisioterapia; arte e cultura, dos cursos de belas artes, música, artes plásticas e outros relacionados à temática; em ecologia, dos cursos de gestão em educação ambiental, engenharia ambiental e outros.
A proposta previa a formação continuada para todos os envolvidos – gestores, coordenadores do Escola de Gente nas universidades, pedagogos das escolas inseridas no programa, representantes das secretarias e equipe. No caso dos monitores, as horas de atuação eram divididas entre o acompanhamento dos alunos (25 horas semanais) e momentos de formação (5 horas semanais). Aos demais profissionais, eram investidas 20 horas de formação, sendo dez coordenadas pela escola e dez pela universidade parceira.
De início, foi realizada uma formação inicial para os profissionais, colocando-os em contato com as diretrizes e metas do Programa, políticas educacionais (como Mais Educação, Lei de Diretrizes e Bases, FUNDEB e outras) e temáticas convergentes com a proposta de educação integral, como intersetorialidade, gestão pública, diversidade étnico-racial, educação inclusiva, afetividade e pertencimento.
Para estimular a atuação coletiva dos envolvidos, também foram propostos momentos de trabalho em grupo com elaboração e montagem de oficinas, além de vivências nessa prática pedagógica e ainda momentos de acolhida dos monitores, de reconhecimento do ambiente escolar e do perfil das comunidades, dos aspectos organizativos das escolas e interação com as próprias ferramentas do Programa, como formulários e documentos.
Além disso, havia as formações específicas por eixo de atuação direcionadas aos monitores e á comunidade atuante.
As escolas participantes do Programa também ficavam incumbidas de manter uma agenda próxima das famílias, que se traduzia em encontros mediados pela equipe participante, como um gestor, diretor, ou representante das secretarias e parceiros. A ideia desses momentos era trazer temas que contribuíssem para a reflexão da importância da família no processo educativo, tais como: “O desenvolvimento do adolescente e o papel dos pais”, ” O papel da família na educação dos filhos, “As fases de desenvolvimento das crianças”, entre outras abordagens.
Para resolver a questão da merenda e transporte, o Programa buscou parcerias com restaurantes populares nas diversas localidades em que as escolas estavam inseridas. Em cada região, foi nomeado um estabelecimento que ficava responsável pela entrega das refeições. No caso do transporte, a iniciativa custeou a aquisição do mesmo por escola.
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Os processos educativos eram avaliados bimestralmente pela coordenação geral do programa junto à equipe gestora das escolas e colegiado escolar. As práticas tinham por fim avaliar os profissionais envolvidos, a implementação do programa, a qualidade do trabalho, a aprendizagem dos alunos e reconhecer possíveis ajustes e redirecionamentos pedagógicos e a efetividade da intersetorialidade e da troca de experiências e informações.
A avaliação previa a participação da equipe do Programa Escola da Gente, mas também a dos familiares, alunos e parceiros. Por meio de questionários, cada um desses atores podia manifestar a sua opinião sobre o funcionamento do mesmo em relação à infraestrutura e condução pedagógica.
O processo não só ampliou a capacidade de escuta do Programa, como democratizou as tomadas de decisão, feitas com base nas diversas participações e opiniões.
Início e duração: de 2009 até os dias atuais. Contudo, na troca de gestão, o programa sofreu algumas modificações.
Local: Município de Betim, Minas Gerais.
Responsáveis: Prefeitura Municipal de Betim.
Envolvidos e parceiros: 14 secretarias municipais de Educação (planejamento, obras públicas, engenharia de tráfego, Instituto de Pesquisa e Política Urbana de Betim, assistência social, cultura, educação, saúde, esporte, meio ambiente, comunicação, agricultura, superintendência de políticas sobre drogas e coordenadoria de igualdade racial)
Financiamento: orçamento compartilhado entre as secretarias municipais envolvidas.
Desde a sua implementação em junho de 2009, quando o programa foi iniciado em três escolas, se acompanha o seu crescimento – em 2012, eram 37 escolas atendidas. A ampliação da oferta educativa à rede municipal de Betim modificou a dinâmica das escolas que passaram a enxergar o aluno como indutor de um processo de aprendizagem, e também a reconhecer e reforçar o papel colaborativo dessa condução, em parceria com outros atores e espaços educativos.
Isso modificou as relações para além do âmbito escolar. Os alunos ficaram mais engajados com a aprendizagem, já que passaram a exercitar outras habilidades e também é visível a aproximação desses jovens com o território, a partir da extensão das atividades educativas para outros espaços. Nesse contexto, a família também pôde se aproximar do processo, e não apenas entender o seu papel em meio a ele, como assegurar a sua proximidade engajada.
Para o município, houve ganhos na curva de aprendizagem e também na diminuição da violência em parte das comunidades em que o Programa atua. Segundo a equipe gestora que implementou o processo e não mais está a frente da iniciativa, o principal desafio foi o de caminhar para que se estabelecesse uma política governamental, capaz de garantir a continuidade das ações, independentemente dos interesses das variadas gestões.
Prefeitura Municipal de Betim
Telefones: (31) 3512-3444 / 3512-3000
Site: Programa Escola da Gente
Facebook: www.facebook.com/EscoladaGente