Professor leva crianças a uma volta ao mundo a partir da música
Publicado dia 18/02/2021
Publicado dia 18/02/2021
Usando xilofones, escaletas, instrumentos de percussão, o canto e a dança, as crianças do Ensino Fundamental I da escola municipal Hélio Damante, em Bom Jesus dos Perdões (SP), embarcam em uma expedição pelos sons, ritmos e melodias de países dos cinco continentes.
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A viagem é guiada pelo artista-educador, Sérgio Tück, que desenvolve esse trabalho com os estudantes desde 2013. Ao longo dos anos, eles já passaram pelas músicas de países como Chile, China, Equador, Estados Unidos, Grécia, Japão, Marrocos e Zimbábue.
Em 2019, a escola abraçou o projeto do professor e colocou essas atividades no foco de seus trabalhos, e lançou o projeto Músicas do Mundo, que foi um dos vencedores da 21ª edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã, realizado pelo Instituto Arte na Escola.
Cada turma escolheu um ou dois países para estudar sobre sua história, geografia e cultura. “Nos encontros de arte, nós formamos uma pequena orquestra, e as crianças ficaram empolgadas em aprender e estudar os diferentes ritmos. Tanto é que foram além dos instrumentos musicais e começaram a explorar os movimentos do próprio corpo”, conta Sérgio.
Para o professor, essa foi uma maneira divertida dos estudantes valorizarem e conhecerem mais sobre a diversidade cultural presente no mundo, além de aprenderem conceitos musicais, treinar a coordenação motora e praticar a persistência, compreendendo os erros como uma oportunidade de se aprimorar até conseguir dominar o instrumento.
“Mas a música nunca vai ser mais importante do que o ser humano e a relação que estabelecemos, porque no começo das aulas a gente fazia uma roda de conversa sobre como eles estavam, sobre a vida e como tinha sido o dia deles. E além disso, tocar junto é muito potente para entender o que é uma comunidade, o que é cada um fazendo sua parte para ter um todo harmônico”, afirma o educador.
Confira, abaixo, um breve relato sobre como foi o desenvolvimento do projeto em relação a três dos países estudados pelas turmas.
Uma das conversas frequentes que o professor Sérgio tem com suas turmas é sobre quais músicas as crianças gostam de ouvir. “É uma chance de entrar no universo musical deles”, diz. Em uma dessas rodas de debate, os alunos se pediram para aprender a tocar a música Bella Ciao, que estava em alta à época.
O professor Sérgio e a turma começaram, então, a investigar as transformações que essa música sofreu ao longo dos anos, abordando temas como imigração italiana e fascismo, até a apropriação da música pela série espanhola A Casa de Papel e sua remodelação e a versão funk que a canção ganhou aqui pelo Brasil. “Tem muita coisa que eles não entendem, mas escutam e em outro momento eles vão ligando os pontos”, indica o educador.
Após essa discussão inicial, a turma ouviu a música diversas vezes, para que todos estivessem familiarizados com ela, e aprendeu a cantar em italiano. Para tanto, o professor entregava a eles uma cópia da letra da música em italiano, outra com a tradução e uma terceira, com a transliteração — a escrita das palavras como se pronunciam. “A criançada acha engraçado e aí aprendem muito fácil”.
O passo seguinte, era sentir a música com o próprio corpo, fazendo movimentos de acordo com o ritmo. “Depois eu dava as notas em sequência para eles, porque não usamos partitura, e as crianças, às vezes a partir já da primeira nota, iam desdobrando sozinhas as próximas. É isso que acontece quando se coloca primeiro a música no ouvido e no corpo para depois tocar”, relata Sérgio.
E por fim, os estudantes eram divididos em grupos para estudar partes específicas da música e depois retornavam para o coletivo para tocarem juntos.
Um dos festivais mais tradicionais do Japão é o Tanabata, em que as pessoas escrevem em um pedaço de papel colorido um pedido e penduram em árvores e ramos de bambu, para que seus desejos sejam atendidos pelas estrelas.
Na escola Hélio Damante, os estudantes tiveram a oportunidade de experimentar esse festival. Eles aprenderam a cantar em japonês a música-tema do festival, também chamada Tanabata, por meio do mesmo processo de aprendizado da música italiana. E para finalizar, fizeram uma pequena apresentação da música embaixo da árvore em que penduraram seus pedidos.
“Eu expliquei para eles que esses desejos precisam ir além do consumo, e o resultado foi surpreendente. Lemos juntos os pedidos das turmas e alguns deles geraram outras movimentações: alguns alunos queriam conhecer a mãe, e isso gerou uma roda de conversa paralela, um menino de 9 anos pediu para aprender a escrever e quem redigiu o texto foi um colega dele, e eu levei isso para os demais professores”, descreve Sérgio.
A música Jarnana, da Albânia, tem um ritmo dançante que se assemelha ao baião, e encantou as turmas. “Era tão animada e divertida que as crianças não queriam parar de tocar”, diz o educador.
Usando uma gravação do grupo brasileiro Mawaca, que pesquisa e recria músicas de diversas partes do globo, os estudantes também aprenderam a cantá-la e tocá-la.
“Essa turma, especificamente, era composta por estudantes de idades diferentes, e vi na prática como a potência disso é maior. Eles aprendem muito entre si, tanto em relação à prática musical, quanto em seu desenvolvimento humano”, observa o professor.
Em um dos ensaios dessa música, uma das crianças pesquisou sobre a Albânia e soube que havia ocorrido um terremoto no país, causando algumas mortes. “Naquele dia, decidimos tocar o melhor possível para mandar boas energias para eles. E foi bem bonito, porque eles trouxeram essa coisa da intenção”, relata o educador.