Escola rural em assentamento luta para garantir direito à educação de suas crianças
Publicado dia 28/10/2022
Publicado dia 28/10/2022
Há 24 anos a Escola Rural Cândida Oliveira Luz, em Porto Barreiro (PR), luta para garantir o direito à educação das 140 famílias que vivem em um pré-assentamento (ainda em processo de documentação do assentamento) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – do contrário, dificilmente as 35 crianças que atendem teriam acesso a qualquer oportunidade educativa formal.
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Para valorizar a cultura e o trabalho da comunidade e articular os conhecimentos escolares aos do território, as turmas multisseriadas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental 1 desenvolveram projetos sobre biodiversidade, meio ambiente, animais domésticos e silvestres e a vida no campo.
A experiência foi uma das dez vencedoras da 6ª edição do Prêmio Territórios, uma iniciativa do Instituto Tomie Ohtake, realizada em parceria técnica com a Cidade Escola Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral.
“Esse prêmio aumentou a autoestima da nossa comunidade, porque existe muita discriminação contra o assentamento, quando são famílias lutando por sua sobrevivência, pela terra, trabalhando. Apesar de toda a dificuldade de chegar na escola – têm crianças que chegam aqui às 6h30 da manhã e só às 19h estão em casa – vem alegres, cheias de vontade de aprender. É uma escola que dá a oportunidade para elas sonharem”, diz Luciana Rigon, professora na unidade que destaca os vários feitos dos estudantes, como a dedicação às oficinas de Xadrez.
Entre as atividades realizadas ao longo deste ano para aproximar o território da escola e vice-versa, as turmas fizeram um resgate histórico e biológico do território, as principais formas de trabalho da região, conhecida por ser uma bacia leiteira, a degradação do meio ambiente e os animais que haviam no local e agora se tornaram mais raros, entre outros temas que se mesclavam de forma interdisciplinar.
As crianças fizeram pesquisas de campo, passeios, entrevistaram a comunidade, as famílias e observaram fotos antigas do território para notar as transformações na paisagem e nos animais. Montaram linhas do tempo com suas árvores genealógicas e a história da comunidade, estudaram a cadeia alimentar e a fauna e a flora da comunidade local.
“Essa experiência traz um ponto muito importante atualmente para pensar a nossa sobrevivência sustentável enquanto humanidade. É fundamental que uma escola rural, em meio à tradição da agricultura, valorize esses conhecimentos porque nossa alimentação depende disso. É uma educação para o futuro, construída junto com o território e a comunidade, para promover o respeito com a terra e a continuidade da vida”, afirma Natame Diniz, coordenadora da escola Tomie Ohtake e selecionadora do Prêmio Territórios.
Para a professora Luciana, essa experiência também ajudou a fortalecer ainda mais os laços e a parceria entre a escola e a comunidade. “A escola é importante para a comunidade desde o início, porque ajuda as pessoas com documentação, a conseguir a aposentadoria, por exemplo, e é onde muitas pessoas da comunidade se formaram e valorizam muito essa escola porque sabem como ela fez diferença na vida deles e vai fazer na das crianças que estão lá hoje”, Luciana.
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