The Circle School (EUA) aposta na vivência da liberdade e da responsabilidade para a formação dos indivíduos
Publicado dia 11/11/2014
Publicado dia 11/11/2014
O que as crianças deveriam estar fazendo nas escolas? Como as escolas podem ajudar as crianças a alcançar o máximo de seu potencial? Como as escolas podem apoiar as crianças a crescer para serem adultos eficientes? Os questionamentos levantados por Jim Rietmulder guiam o trabalho realizado na escola estadunidense The Circle School, da qual ele é um dos fundadores.
A resposta dada por Rietmulder é simples e concisa: nas escolas, as crianças deveriam estar “praticando a vida”, imersas em experiências que as permitam vivenciar liberdade e responsabilidade, valores que aparecem intrinsecamente conectados. Desde 1984, a instituição e dedica a um projeto de educação que tem como centro o estímulo à autonomia do estudante, dentro de um ambiente fortemente democrático, buscando que os estudantes partilhem dentro do ambiente escolar os valores e práticas que norteiam sociedades democráticas e republicanas.
Há 30 anos em funcionamento, a The Circle recebe estudantes dos 4 aos 18 anos, e atualmente conta com cerca de 70 alunos. A instituição mantém uma proporção de 15 estudantes para cada funcionário, sendo que atualmente há cinco funcionários regulares que compartilham papeis administrativos e de educadores.
A diversidade etária de alunos convive diariamente e sem restrições. A escola não se divide por séries ou turmas e incentiva a interação intergeracional. Como no cotidiano, os alunos se dedicam às atividades que desejam e indivíduos de diferentes idades podem se aproximar de acordo com os interesses em comum.
A convivência entre grupos de diferentes idades proporciona o que a escola aponta como um efetivo método: a aprendizagem por meio do exemplo. É com esta ideia que a instituição mantém dentro de si uma estrutura democrática. Para a The Circle School, a vivência de um ambiente democrático, a participação em instâncias de decisão e a autonomia no processo de aprendizagem – sempre balanceando liberdade com responsabilidade – proporcionam o desenvolvimento de habilidades cidadãs, o estímulo à independência e a prática da vida.
Estrutura democrática
Na The Circle, estudantes participam e influem nos espaços de decisão que regem o funcionamento da escola. Todos os alunos e funcionários da escola participam do encontro semanal chamado School Meeting (Reunião da Escola) onde são decididas as regras que regem a instituição. A instância possui pauta anunciada previamente, debates públicos e a aprovação de normas segue formalidades de uma casa legislativa. Como a escola não tem diretor nem uma estrutura administrativa, cabe ao School Meeting tarefas de gerenciamento da escola, inclusive debatendo o financiamento e decidindo a contratação ou demissão dos funcionários.
As regras decididas pela comunidade escolar – são cerca de duzentas – devem ser seguidas por todos e, caso sejam violadas, há um julgamento similar ao que ocorre no país. Um comitê, cujos membros são rotativos, investiga o caso e, se necessário, apresenta uma denúncia. O acusado tem espaço para apresentar sua defesa, podendo contar inclusive com o apoio de outro estudante cumprindo o papel de defensor. O comitê também determina a punição, caso a infração seja comprovada.
Os estudantes ainda se organizam por meio das “corporações” – que tratam de interesses específicos como artes, esportes e jogos – e de comitês, que tratam de questões administrativas. Cada um destes espaços também conta com a presença de um funcionário.
A estrutura da The Circle School segue o modelo da Sudbury Valley School, instituição do estado americano de Massachusetts cuja linha de funcionamento inspira outras cerca de 70 escolas em vários países. O modelo Sudbury preconiza que as crianças e adolescentes são movidas por uma natural curiosidade e desejo de aprender.
Assim, os estudantes têm total autonomia para decidir como irão aproveitar seu tempo. No período em que estão na instituição, os jovens podem estar envolvidos com leituras, esportes, computação, jogos, música ou ainda uma infinidade de atividades que desejarem. Inclusive se quiserem ter aula e avaliações convencionais, a escola também as proporciona.
Para o modelo Sudbury, o interesse em desenvolver uma atividade é fundamental para o processo de aprendizagem. Por exemplo, o desejo de praticar um jogo de tabuleiro convida a criança a aprender a ler ou a fazer contas; dotando estes conteúdos de significado para ela. Já o exemplo de outros alunos e funcionários assim como a convivência com eles são ferramentas do processo de aprendizagem.
“Como todas outras escolas, a The Circle não garante o que uma criança em particular vai aprender. Diferentemente de outras escolas, nós garantimos que as crianças irão vivenciar liberdade e responsabilidade em uma escola autogestionada e democrática. Isto se parece mais com as sociedades democráticas que eles irão vivenciar como adultos, assim preparando-os melhor”, explica Jim Rietmulder, quando questionado se a escola garante o aprendizado das crianças sobre os conteúdos acadêmicos.
Além do acesso livre ao conhecimento, o trabalho desenvolvido na The Circle está também alicerçado no conceito de educação integral, reconhecendo o processo de crescimento de cada criança como único e propondo que a comunidade escolar se responsabilize pelo desenvolvimento das múltiplas dimensões do indivíduo.
Na instituição, o papel dos funcionários é de oferecer suporte e orientar as atividades dos estudantes quando for solicitado por eles. A ideia é que eles estejam sempre disponíveis mas sem se intrometer. Na escola, os professores cumprem um papel distinto de outras instituições e são chamados apenas como funcionários. Toda a equipe compartilha as responsabilidades como de administração na escola, de facilitar o acesso dos alunos aos recursos e de exemplificar práticas de maturidade.
Principais Resultados
As estruturas e práticas democráticas da The Circle School proporcionam que os estudantes vivenciem a liberdade e a responsabilidade de forma constante em suas vidas, buscando que os meninos e meninas estejam mais preparados para a vida adulta. Ainda que em menor escala, a experiência se assemelha ao que os proponentes almejam para a sociedade americana.
Para a escola, a educação integral proporciona o surgimento de jovens adultos que já são fluentes na prática da cidadania ativa, da responsabilidade, da produção cultural e da participação na comunidade. Além do crescimento individual, a escola quer garantir também que seus alunos sejam membros produtivos dentro da sociedade.
Ainda que o conhecimento acadêmico não seja o principal foco da The Circle School, os estudantes que se interessam em prosseguir para o ensino superior têm êxito. Entre as instituições que receberam alunos da The Circle nos últimos anos estão as universidades de Pensilvânia, Dakota e Washington.
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