Em São Paulo (SP), mães saem em busca de estudantes fora da escola
Publicado dia 08/04/2022
Publicado dia 08/04/2022
“Quando chego nas casas e digo que também sou mãe, que tenho duas crianças na escola, que quero ajudar os filhos a voltarem para a escola, as famílias dão mais abertura e se sentem abraçadas”, relata Yasmin Santos, uma das mães contratadas pela Prefeitura de São Paulo para realizar a busca ativa escolar pela cidade, por meio do Programa Operação Trabalho – POT Busca Ativa.
A iniciativa teve início no final de setembro de 2021 e, entre fevereiro e abril deste ano, já recuperou 1270 estudantes que estavam fora da escola, dentre os mais de 1800 que foram identificados como evadidos no ano passado. Além de efetuar a matrícula, o Programa também acompanha os estudantes para garantir sua permanência na escola, por meio do Núcleo de Apoio e Acompanhamento para Aprendizagem (NAAPA), ligado à Secretaria Municipal de Educação. “Não esperamos o estudante deixar de ir para a escola, mas prevenimos que ele não saia”, afirma Sueli Landim, do NAAPA.
Todo o processo tem início com uma relação de estudantes que não estão frequentando as aulas que as escolas encaminham para o NAAPA. As mães partem em busca dessas famílias e dialogam com elas para compreender a situação e como podem apoiar as crianças e adolescentes a voltarem a estudar. Elas fazem um relatório e enviam para o NAAPA, que é responsável por acompanhar se o estudante retornou à escola, se continua frequentando as aulas, como está sua aprendizagem e acionar a rede intersetorial de apoio se necessário.
“Nas conversas, tento mostrar que a educação é importante, que o conhecimento é a única coisa que ninguém tira da gente. E as famílias percebem que estamos ali para ajudar e não estamos olhando as crianças como só mais um número. O tratamento humano é fundamental”, Elenice Soares das Neves, mãe e agente de busca ativa escolar do programa.
A iniciativa, que visa, além de realizar a busca ativa escolar, gerar renda para mães desempregadas de estudantes da rede municipal, foi estruturada para também reinserir essas mulheres no mercado de trabalho formal. “Tenho uma empresa de doces, porém não estava ajudando muito na renda, então essa bolsa tem me apoiado”, conta Yasmin.
A decisão por contratar mães deriva da constatação de que as escolas não possuem funcionários suficientes para realizar esse trabalho. “Pensamos em contratar e formar mães porque elas sofreram muito na pandemia com perda de renda e tendo famílias para sustentar“, explica Sueli.
Para promover a inserção no mercado, as agentes de busca ativa escolar recebem seis horas de formação todos os meses em cursos que elas podem escolher no Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (CATE), como estética, informática e panificação. Hoje fazem parte do programa 46 mães e a rotatividade é alta, porque muitas delas são chamadas para trabalhar em outros lugares após fazer um curso.
Além da formação, o programa é pensado para que realizem a busca ativa escolar no mesmo período em que seus filhos estão na escola, favorecendo a conciliação com o trabalho doméstico.
Há, contudo, espaço para avançar no programa. As agentes de busca ativa realizam todo o trabalho a pé, respeitando o limite de dois quilômetros por dia estipulado pela legislação, mas seria importante que elas tivessem algum tipo de transporte, “tanto por condições melhores de trabalho, quanto porque elas conseguiriam, literalmente, ir mais longe”, diz Sueli.
O Programa Operação Trabalho – POT Busca Ativa é realizado pela Secretaria Municipal de Educação, por meio do Programa de Combate à Evasão Escolar e com coordenação do Núcleo de Apoio e Acompanhamento para Aprendizagem (NAAPA), e conta com a parceria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, do Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo, do Unicef – Fundo das Nações Unidas pela Infância, da Undime – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, do Congemas – Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social, do Conasems – Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e do Instituto Liberta.