publicado dia 03/06/2014

Instituto Natura lança site sobre Comunidade de Aprendizagem

Reportagem:

Foi lançada na manhã desta segunda feira, 2 de junho, durante o 4º Encontro Internacional de Comunidade de Aprendizagem, realizado pelo Instituto Natura, a plataforma que condensa materiais metodológicos, experiências e notícias sobre o conceito, que organiza práticas educativas de êxito para que escolas possam alcançar eficiência [no ensino e aprendizagem], equidade e coesão social.

O espaço virtual é uma das ações do Projeto [Comunidades de Aprendizagem] que tem como objetivo promover um movimento de transformação social nas escolas a partir do envolvimento das famílias e da comunidade no dia a dia escolar. Para Roseli Rodrigues de Mello, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e fundadora do Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (Niase) – que tem a temática entre suas linhas de pesquisa – não se trata de uma metodologia. “É uma forma de organizar o potencial humano das escolas para a aprendizagem. É um caminho para organizar a aprendizagem”, avalia.

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A ideia é que as escolas efetivem sua função a partir de uma postura dialógica, que parta do respeito e valorização de todas as vozes da comunidade escolar, ampliando os laços e participação coletiva e corresponsável da família, alunos e professores.  O projeto prevê a participação ativa da comunidade nos processos escolares, como voluntários, que acompanham diferentes práticas de êxito na escola e também prevê formações específicas a esse público.

Para Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM e secretária de educação básica no MEC de 2007 a 2012, a iniciativa fomenta o fortalecimento da esfera pública, elemento de maior representatividade da democracia. “Um projeto como esse fortalece a sociedade a partir da convivência com as diferenças”.

Desafios à vista

Para Carla Aida, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, que iniciou um projeto piloto apoiado pelo conceito em 2013, a efetivação do modelo implica em desafios para toda a comunidade escolar.  “O gestor precisa acreditar na proposta e sonhar com a escola; o professor precisa entender, e também acreditar na iniciativa, além de estar disposto a efetivar as ações. A comunidade deve participar de todo o processo e entender seu papel nas atividades, além de sonhar com uma escola melhor para o bairro e seus filhos; e o aluno, por sua vez, deve além de participar do processo, sonhar com o presente que deseja e o futuro que almeja”.

A professora também reconhece os ganhos da aproximação da escola com a comunidade e família. “Quando a comunidade participa da escola, ela entende melhor o seu funcionamento e, portanto, percebe os seus desafios, reconhece a importância daquela instituição no desenvolvimento do filho, participa mais ativamente dos processos de aprendizagem, entende como pode auxiliar e se desperta para um desejo pela aprendizagem”, enumerou.

Delineando o projeto

comunidade_aprendizagemA implementação do projeto em uma escola demanda algumas fases de transformação que envolvem alunos, professores, familiares, gestores e outros atores envolvidos no processo de aprendizagem. Inicialmente é preciso o momento de sensibilização, em que toda a comunidade escolar deve receber uma formação. A fase seguinte é a tomada de decisão, momento em que a comunidade escolar assume o desejo coletivo de implementar a proposta. Na fase do sonho, os envolvidos devem pensar coletivamente na escola que querem para o futuro. Na seleção de prioridades, a comunidade deve se voltar para as questões mais urgentes ou sonhos mais relevantes para a comunidade em questão. Por fim, dá-se início ao planejamento e execução das atividades, em que deverá ser traçado o caminho para se alcançar os sonhos.

Base científica

A proposta das comunidades de aprendizagem foi desenvolvida pelo Centro Especial de Investigación en Teorías y Prácticas Superadoras de la Desigualdad, da Universidade de Barcelona. A ideia toma como base mais de 30 anos de estudo e 70 estudiosos de diferentes países e áreas do conhecimento. No Brasil, o Núcleo de Investigação e Ação Educativa (Niase), da Universidade Federal de São Carlos (SP), também apoia a discussão no Brasil.

Aplicado em 14 países da Europa, o método já foi incluído nas diretrizes e recomendações do Parlamento Europeu como forma de superar a evasão escolar e a desigualdade na educação. O estudo sistematizou as chamadas atuações educativas de êxito, que podem ser aplicadas em qualquer contexto social ou educacional:

Grupos Interativos
: agrupamento de todos os alunos de uma classe em subgrupos de quatro ou cinco jovens, da forma mais heterogênea possível. Cada subgrupo é tutorado por uma pessoa adulta da escola ou um voluntário da comunidade;

Tertúlias Dialógicas: construção coletiva de significado e conhecimento com base no diálogo sobre as melhores criações da humanidade nos campos da literatura, artes e música;

Biblioteca Tutorada: ampliação do tempo de aprendizagem, com a abertura da biblioteca ou de outros espaços da escola, inclusive aos finais de semana, com atividades organizadas por uma comissão de voluntários e professores;

Formação de Familiares: a escola se abre para oferecer formação aos familiares a partir dos sonhos e desejos coletivos;

Participação Educativa da Comunidade: seja diretamente, como voluntária nas atuações de êxito, ou na gestão e organização do centro educativo, por meio das comissões mistas de trabalho, convocadas a partir do planejamento e que reúnem os diferentes envolvidos na escola (estudantes, professores, pais, voluntários, etc);

Modelo Dialógico de Prevenção e Resolução de Conflitos: envolve toda a comunidade na elaboração das pautas e das normas de convivência, promovendo assembleias e espaços de diálogo;

Formação Pedagógica Dialógica: construção de conhecimento dos professores sobre as bases científicas e teóricas de seu trabalho, procurando evidenciar os resultados obtidos por seus alunos.

As bases, validadas em diferentes pesquisas, são continuamente discutidas e aprimoradas e têm como características comuns o fato de que podem ser disseminadas em qualquer contexto (social, econômico, cultural) e de que efetivamente aprimoram os níveis de aprendizagem nos sistemas de avaliação governamentais (externos) e escolares.

No Brasil, além da iniciativa piloto com escolas do Rio de Janeiro (RJ), o projeto acontece em parcerias com o Instituto Natura em São Bernardo do Campo e São Paulo (SP) e Sobral (CE).

Com informações do Instituto Natura

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