publicado dia 17/12/2025

Paulínia (SP) dá início à transformação da rede com formação em Educação Integral

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒 Resumo: A rede municipal de Educação de Paulínia (SP) iniciou um processo de formação para implementar a Educação Integral em suas escolas públicas. A iniciativa, provocada pelo programa federal Escola em Tempo Integral, envolve escuta ativa da rede, diagnóstico participativo e a construção coletiva de uma política municipal.

A rede municipal de Educação de Paulínia (SP) deu início a um processo de transformação de suas escolas. O desejo é cumprir o que pede a Constituição Federal e o que os educadores percebem ser tão necessário: que as escolas sejam espaços de formação integral e de justiça social.

“A escola de Educação Integral, em tempo integral, sobretudo nas periferias, é a porta de entrada do Estado. Queremos fazer articulações intersetoriais e transformar os territórios para garantir direitos, desenvolvimento integral e dar às crianças e adolescentes perspectivas de ascensão social”, afirma Wesley Araújo, Supervisor de Educação na Secretaria Municipal de Educação de Paulínia. 

Leia mais

Provocados pelo programa federal Escola em Tempo Integral, começaram diálogos na Secretaria e com as gestões escolares sobre o que propõe a Educação Integral e qual é a realidade da rede e suas demandas. A rede conta com 16 mil estudantes, 2 mil professores e 58 escolas da Educação Infantil ao Ensino Médio. Destas, 37 ofertam tempo integral, todas de Educação Infantil. 

“Queremos desemparedar as crianças e adolescentes, para que elas explorem os territórios, que todas aprendam, realidade que hoje não alcança todos, desenvolver integralmente os sujeitos e dar o devido lugar no currículo para os conhecimentos historicamente marginalizados. Também queremos melhor infraestrutura para as escolas e promover a formação continuada dos professores”, diz Wesley. 

Para potencializar o movimento que a rede começou, a Secretaria buscou a sociedade civil e, com apoio do Centro de Referências em Educação Integral (CR), viabilizou formação para as equipes, construção de diretrizes, documentos e de uma política municipal de Educação Integral.  

“Buscamos o CR porque não queríamos um modelo pronto, mas um respeito às diversidades e formas de compreender a Educação, que fosse construída junto com os professores, e não imposta a eles, para que faça sentido para essas pessoas”, afirma Wesley.

Iniciadas no segundo semestre de 2025, há quatro frentes de trabalho. A primeira envolve o núcleo da Secretaria responsável pela Educação Integral para escutar a rede e escrever o documento da política municipal. As outras unem esse núcleo a gestores das escolas, professores da Educação Infantil, professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, próxima etapa que desejam ampliar a jornada.

“A Secretaria está acompanhando de perto o processo de implementação da política. É um movimento muito sistêmico, que dá a oportunidade de escutar os gestores e professores, para desenhar uma política que seja muito aderente ao contexto de Paulínia e em diálogo com os princípios da Educação Integral”, observa Ana Paula de Pietri, educadora e formadora do CR.

As primeiras formações serviram para ouvir o que os educadores sabiam e pensavam sobre a Educação Integral e compartilhar conhecimentos e experiências sobre o tema. Depois, foi feito um diagnóstico participativo da rede, em que desafios centrais foram identificados.

Entre eles, estão os desafios de promover o ensino e a aprendizagem fora das escolas e de fazer com que todas as políticas do território trabalhem em sintonia, a articulação intersetorial, que visa garantir direitos dos estudantes e de suas famílias, para que crianças e adolescentes tenham condições de acessar, permanecer e aprender nas escolas com qualidade e equidade. 

Para Audrey Danielle Beserra, diretora da EMEI Neusa Aparecida Pereira Caron, um dos principais desafios de transformar a Educação é justamente encontrar aberturas para fazer diferente. 

“Falam muito que sempre fizeram assim, então tem essa resistência normal ao encontrar o novo, mas a forma de fazer a formação ajuda nisso, porque não é de cima para baixo. Duas professoras nossas participam da formação na Secretaria e depois replicam para nossa equipe, pensando no nosso contexto, e decidimos juntos o que interessa para nossa comunidade, para nossas crianças”, afirma Audrey.

Os desafios de transformar o tempo integral

O principal entrave identificado no diagnóstico inicial da rede foi o de discernir entre o tempo integral, que é a duração da jornada escolar, e a Educação Integral, que pode acontecer em jornadas parcial ou ampliada, desde que o objetivo seja desenvolver todas as múltiplas dimensões dos sujeitos, como cognitiva, física, social, política e emocional, em relação com o território, a comunidade e os saberes locais. 

A principal consequência disso é a dificuldade de qualificar esse tempo a mais na escola. É o que também constatou a pesquisa de mestrado de Gisele Martins, que atua na rede desde 2004, e é gestora escolar de uma unidade de Educação Infantil desde 2018.

“O tempo integral aqui está muito atrelado à necessidade das mães trabalharem e terem onde deixar seus filhos em segurança para serem cuidados e alimentados, e isso elas cumprem bem. E a escola de fato é um dos agentes protetores e cuidadores das crianças, mas é um desperdício limitá-la a isso”, diz Gisele.

Ouvindo mais sobre o que as famílias esperam das escolas para além de segurança e cuidado, a educadora e pesquisadora descobriu pedidos de atividades artísticas, esportivas, oportunidades musicais e visitas a outros espaços da cidade, o que se aproxima da proposta da Educação Integral. 

Para ser completa, essas atividades precisam estar integradas e transversalizadas em todas as áreas do conhecimento, enquanto um currículo integrado, para que não aconteça a divisão entre um período de aulas tradicionais e outro de oficinas e atividades. “É outra compreensão de uso do tempo, espaços e recursos, que acontece à medida em que reconhecemos que a criança tem direito ao desenvolvimento integral”, diz Gisele.

Para a Audrey, que atua a partir da Educação Integral em sua unidade, acompanhar o que interessa e engaja as crianças também ajuda a qualificar o tempo integral. “Ao planejar com qualidade e intencionalidade, é possível diversificar materiais, técnicas, ferramentas, experiências e espaços. E é perceptível quanto as crianças se tornam mais conscientes, críticas e comunicativas”, afirma a diretora. 

*Foto: Prefeitura de Paulínia (SP)/Divulgação

“A escola precisa realizar a formação democrática”, afirma Helena Singer

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.