publicado dia 19/11/2024
“O professor da Educação Integral deseja que todo mundo aprenda”
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
publicado dia 19/11/2024
Reportagem: Ingrid Matuoka | Edição: Tory Helena
🗒 Resumo: Como deve ser a formação de professores na Educação Integral? O Seminário Educação Integral em Debate 2024 focaliza a questão – um dos principais desafios para a ampliação da jornada escolar com qualidade – em mesa de debate mediada pela educadora Tereza Perez, da Roda Educativa. A seguir, confira uma entrevista com a especialista sobre o tema.
Quem é o professor e a professora na Educação Integral? E como formá-los para atuar nessa perspectiva? Central para educadores e gestores de políticas públicas, a questão é tema do Seminário Educação Integral em Debate 2024.
Com transmissão ao vivo pelo YouTube do Canal Futura, o encontro vai discutir a formação de professores na Educação Integral. A mesa “Formação docente e dos profissionais da educação: a formação na perspectiva da Educação Integral”, que acontece das 09h30 às 11h na sexta-feira (22/11), será mediada pela educadora Tereza Perez, da Roda Educativa.
O evento contará com a participação de Daniel Puig (Universidade Federal do Sul da Bahia), Natane Sousa (Instituto Rodrigo Mendes), e Angela Maria Carneiro Silva e Maria Vânia Melo Lima, que vão compartilhar experiências desenvolvidas em Paraupebas (PA).
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Em 2024, o Educação Integral em Debate é realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, Cidade Escola Aprendiz, Canal Futura, Avante, Ashoka, British Council, Cenpec, Fundação Vale, Fundação Santillana, Flacso, Instituto Alana, Itaú Social, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Tomie Ohtake, Roda Educativa, Oi Futuro e Unicef.
À frente de projetos e programas de formação continuada de professores em mais de 900 municípios, Tereza Perez destaca que o professor que trabalha com a Educação Integral deseja que todos aprendam, é capaz de estabelecer vínculos, de transgredir e não se limitar à sala de aula.
Para a diretora-presidente da Roda Educativa (antiga Comunidade Educativa CEDAC), a formação continuada de professores na Educação Integral precisa ser compreendida de forma global e feita coletivamente.
“É preciso ter compartilhamento, falar das dificuldades, e não ter posicionamentos autoritários”, detalha a especialista.
Leia a entrevista:
Tereza Perez: Quando vemos um professor que trabalha com a Educação Integral, ele traz um desejo de que todo mundo aprenda e esteja feliz com essa aprendizagem. Tem uma coisa da alegria, da dinâmica, do desejo, que estão colocados.
É um professor que tem um vínculo grande com a questão do conhecimento, que se relaciona com a comunidade, com as famílias, para entender as diferentes culturas, demandas, e como incorporar essa criança e adolescente no seu cotidiano.
“É um professor que transgride […] o que está colocado a fim de gerar maior conexão com esses estudantes, com a aprendizagem e o desenvolvimento integral”, define a especialista.
É um professor que faz uma boa gestão de sala de aula: sabe montar agrupamentos e promover o diálogo e a colaboração entre os estudantes. Não é uma figura de autoridade única, mas distribui essa autoridade do ensinar junto a seus alunos. Ele vê que os estudantes podem se ajudar entre si, que não está tudo na mão dele, como o único a dominar um saber.
É alguém que reconhece o isomorfismo entre o que queremos para a sociedade e o que queremos na sala de aula. Se busca uma sociedade com mais justiça, ética, reflexão, saber pensar e ver que o conhecimento é um fator de apropriação e transformação, é um professor que traz isso para dentro da sua relação com a sua turma.
Além disso, não se limita a ficar na sua sala de aula. Ele sai, vai fazer aulas fora da sala e da escola, e gera outras oportunidades para além daquilo que está no currículo.
É um professor que transgride. Temos um currículo a ser seguido, é um orientador, mas não se restringe a ele. Transgride o que está colocado a fim de gerar maior conexão com esses estudantes, com a aprendizagem e o desenvolvimento integral.
É um professor que busca estabelecer o vínculo positivo entre os estudantes, e entre ele, adulto, e as crianças e adolescentes, enquanto uma referência confiável, o que é determinante para a aprendizagem. Sabemos o quanto o afeto e o vínculo influenciam no desejo de aprender, transformar e fazer.
Tereza: São necessárias muitas facetas para exercer a Educação Integral e a formação dos professores precisa ser compreendida de forma global, não fragmentada.
O que vemos trazer resultado, em termos de atribuição de sentido à formação, é trabalhar a formação continuada na escola, no exercício da função, e coletivamente. É preciso ter compartilhamento, falar das dificuldades, e não ter posicionamentos autoritários.
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
– Artigo 205 da Constituição Federal.
O trabalho compartilhado entre os professores valoriza o conhecimento deles. Em um grupo, vamos ter pessoas com visões diferentes. Se conseguem dialogar sobre elas, avançam.
O estudar, o saber fundamentar sua prática, em uma construção coletiva, gera um maior compromisso com a docência e uma maior visibilidade perante a sociedade de quem é esse profissional, que sabe do que está falando e não vai ser submetido às forças autoritárias, de reprodução de material, de trabalhar sem autoria e autonomia.
Hoje vivemos um cenário de muitas tensões, de disputa nesse fazer dentro da escola, do Projeto Político Pedagógico (PPP) e do currículo, de perseguição aos professores. Para trabalhar com essas tensões, até de violações de direitos, a formação dos professores precisa incluir a sustentação de sua prática no que já temos em termos de lei, como o Artigo 205 da Constituição Federal.
Isso não vai se dar por meio de embates de frente. Temos que entrar em um ativismo delicado, como sugerem os professores Allan Kaplan e Sue Davidoff no livro de mesmo nome.
É um exercício de alteridade, de conseguir ver o que acontece por diferentes ângulos e do diálogo como a nossa base de relacionamento, da democracia. É preciso ter muita clareza de que precisamos lutar pela democracia constantemente.
Tereza: A formação para o professor é diferente da formação para o gestor, o coordenador pedagógico e a faxineira. No entanto, a intencionalidade e os saberes precisam estar articulados.
O coordenador pedagógico precisa entender quais são as demandas dos professores e como vai criar dentro da escola as condições para que os professores possam avançar em suas práticas e melhorar as aprendizagens.
“Tem coisas que são específicas de cada função na escola, mas tem outras que são gerais e precisam estar muito bem construídas e compartilhadas entre todos”, afirma Tereza
Mas o coordenador não pode fazer isso sozinho. Ele precisa estar articulado ao gestor escolar, que consegue gerar essas condições para apoiar os professores a realizarem suas práticas. Esse gestor, por sua vez, não está isolado na rede, então como entre os gestores se discute a necessidade de resolução de determinados problemas?
Para além destes atores, temos outros funcionários administrativos, merendeiras, faxineiras e porteiros. Se o tema da formação for antirracismo, por exemplo, eles precisam estar envolvidos na intencionalidade, no conhecimento dos direitos, de debate, resolução e encaminhamentos.
Ouvi-los é absolutamente essencial, porque com isso se muda o tipo de relacionamento dentro da escola e favorece que haja mais vínculo e respeito entre as pessoas.
Tem coisas que são específicas de cada função na escola, mas tem outras que são gerais e precisam estar muito bem construídas e compartilhadas entre todos, como a intencionalidade da escola, o PPP e o regimento escolar.