publicado dia 03/05/2024
O mapa do Brasil no centro e outras 4 projeções cartográficas para estudar com os alunos
Reportagem: Ingrid Matuoka
publicado dia 03/05/2024
Reportagem: Ingrid Matuoka
Resumo: Sueli Furlan, professora da Universidade de São Paulo (USP), explica a importância da nova representação cartográfica feita pelo IBGE que mostra o Brasil no centro do mundo e orienta como levar este e outros mapas para debater com as turmas.
Em abril, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a 9ª edição do Atlas Geográfico Escolar que, entre outras atualizações, traz um mapa com o Brasil no centro do mundo.
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A iniciativa ocorreu no momento em que o Brasil preside o G20. “É uma oportunidade de mostrar uma forma singular do Brasil ser visto em relação a esse grupo de países e ao restante do mundo”, disse o IBGE em nota.
Por meio de suas redes sociais, o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, complementou: “A emergência do Sul Global acompanha o reposicionamento do Brasil no mapa-múndi”.
A representação cartográfica fez sucesso entre os brasileiros, que esgotaram o mapa na loja on-line do Instituto em menos de 24 horas. Nas redes sociais, uma série de elogios pela iniciativa veio acompanhada também de críticas.
“O IBGE produziu um mapa técnico, com rigor na representação espacial. Quem discorda, está fazendo isso sem elementos das ciências do mapas, a cartografia. A interpretação desse mapa ganha o campo político porque se choca com a ideia enganosa de que o Brasil é um país periférico, enquanto ele é essencial para o mundo”, explica Sueli Furlan, professora no Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar da novidade por aqui, outros países como Austrália, Rússia, Japão, China e Argentina já fizeram o mesmo. Ainda mais anteriormente, durante o período da invasão europeia nas Américas, algumas iluminuras já representavam o Brasil no centro para ressaltar a abundância de recursos aqui presentes.
“Há uma variedade imensa de formas de representar o globo terrestre. A cartografia sempre tem um interesse, um objetivo, então o mapa é uma projeção espacial do que se quer mostrar ou esconder”, define Sueli.
Nos primeiros anos do Ensino Fundamental 2 e no Ensino Médio, as projeções cartográficas ganham centralidade. As turmas aprendem tanto o próprio mapa e suas escalas e linguagens, quanto aprendem outros temas, como geopolítica, vegetação, uso e ocupação da terra, por meio dele.
“É interessante mostrar para os estudantes as variedades de mapas e incentivá-los a pensar e comparar qual era o propósito de quem mapeou o mundo daquela determinada forma”, orienta a professora.
“Ver o nosso país no centro do mundo vai instigar a curiosidade dos estudantes e pode despertar sentimentos de valorização e de pensar a importância do nosso país para o mundo. Esse mapa tem sentido cidadão e democrático fundamental para todos”, afirma Sueli.
A partir disso, a especialista indica trabalhar outros temas como distâncias, comércios, agrupamentos globais, mapas de fluxos de comércio portuário e de integração digital.
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O problema de representar em um plano algo que é esférico assombra os cientistas há séculos, que vêm desenvolvendo diferentes estratégias para diminuir as distorções que ocorrem. Entre elas, a que mostra os continentes do hemisfério norte muito maiores do que os do sul.
“A escolha e manutenção dessa representação específica pode passar a ideia de que o norte é grande e dominante e de que nós somos inferiores, reforçando a dominação europeia e norte-americana. Também é uma boa forma de discutir proporção com a turma”, diz a professora.
Enquanto a parte do globo terrestre mais comum de ser representada é a dos continentes, o Oceano Pacífico costuma ter pouco destaque nas imagens, mas pode trazer reflexões interessantes para as turmas.
“Dá para falar sobre a importância e as proporções das águas e dos oceanos, e também onde estão as ilhas de poluição e onde há mais efeito de acidificação”, sugere Sueli.
Os mapas podem ajudar crianças e adolescentes a visualizarem problemas globais, como as questões socioambientais. “A cartografia ambiental mostra escassez hídrica, desmatamento, fome e outros temas urgentes para o nosso tempo”, diz Sueli.
No campo das artes, os mapas também marcam presença e podem render boas discussões. É o caso do desenho América Invertida (1943), do artista hispano-uruguaio Joaquín Torres García, que versa sobre a necessidade de decolonizar a cultura latina.
“Esse é interessante de mostrar sem nenhuma explicação ou legenda e provocar um debate do que essa inversão representa e ver o que surge da turma”, convida Sueli.